Queria escrever-te, querido,
uma canção, que a teu ouvido,
soasse como antiga melodia
que já ouviste outrora, um dia,
repetidas vezes cantada,
e mesmo em prosa, embalada,
no ritmo do meu coração.
Esta canção que cantei
tantas vezes ao teu ouvido
embalou-me muito os sentidos,
trouxe-me à vida emoção.
Cantei-a com a força da alma,
tirei-lhe das letras a calma
por que buscava meu coração.
Cantei-a em momentos felizes,
cantei-a também entre as lágrimas,
que vinham em cores, matizes
das cores do arco-íris,
exatamente como dizes.
Cantei-a incontáveis vezes
em versos que não te dei,
em meio a tantos revezes,
que minavam aos pouquinhos
os sonhos que entreguei.
Cantei-a e não me arrependo
por querer cantá-la e me lembro
de que cantá-la a ti, em segredo,
ou com platéia assistindo,
tirava-me da vida o medo,
fazia-me viver sorrindo.
Cantei-a porque sentia
que era tão forte a alegria
que ao peito me trazia
que eu temia, se não a cantasse,
meu pobre peito estourasse
de amor, emoção, alegria...
Cantei-a em tantos momentos
em que ver-te a cismar, triste,
tornava-se-me um tormento...
Achava eu, orgulhosa de minha melodia,
que só em cantá-la traria
de volta a tua alegria,
o riso solto, a serenidade,
no lugar da face sombria.
Faz-me falta aquela melodia
que ocupava-me toda a alma,
tomava-me todo o tempo,
trocava o desespero por calma,
trazia luz ao meu dia.
Não desisti de encontrá-la,
a sua busca me embala,
quero ainda cantá-la,
não como quem de si se esquece,
mas como quem faz uma prece
àquele que ocupa-lhe a alma...
A falta de tal melodia
rasga-me o peito, à revelia
de querê-la cantar novamente,
enchendo-me a alma vazia.
Agarro-me a todo sinal,
por mais pequeno que seja,
do sentimento profundo
que deu asas ao meu mundo,
e que a esperança me enseja.
Tempos duros passamos,
incontáveis lutas travamos,
mas nada está ainda perdido,
quero ainda ao teu ouvido
poder cantar uma canção,
que leve e calma lhe chegue,
que aos poucos se aconchegue,
no altar do teu coração.
Não te faço promessas,
não traço planos nem metas,
falo-te como um poeta
já disse tempos atrás:
“Se é dar a vida, o futuro,
Para dizer que te amei:
Amo.; porém se te amo
Como oiço dizer, — não sei”
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