Sinto que choras, minha criança.
Vejo que sofres, minha menina...
Sei que te faltam as esperanças,
que te falta o sonho que te anima.
Sinto que choras, pequena,
em silêncio, no teu pequeno canto.
Vejo que aos poucos tu te apequenas
entre medos, angústias, espanto...
Sinto que tuas lágrimas não te aliviam
do peso de não teres o teu mais querido bem.
Vejo que as lágrimas escurecem teu sentido,
que fecham-te os olhos e não te deixam ver além.
Sinto que chores teu abandono,
tua dor, teus sonhos em vão.
Dói-me saber que seu sono
deixei de embalar com uma canção.
Pesa-me não ter sido aquela
que te daria a mão, o tão desejado colo.
Sinto ter que dizer-te, minha bela,
não tenho desculpa. Não te consolo.
Vejo-te aos prantos e recordo
as muitas vezes por que me chamaste.
Mas, não! Eu não estava a bordo
da nau de alegria que inventaste.
Estava deveras ocupada
com coisas mais sérias, responsabilidade...
Não pude ver a cilada
que armava a mim mesma e tenho saudade.
Tenho saudade da garota arteira
que me ensinaste a ser, com alegria...
Mas esta saudade, sem eira nem beira,
não te faz rir. É só melancolia.
Sei que choras, minha menina.
Sei que é minha culpa, meu desleixo,
mas por enquanto, pequenina,
estou fora de foco, fora do eixo.
Sei que choras, minha menina,
mas a mulher grande chora mais alto ainda,
e mesmo vendo a dor que te lancina,
não tenho como ajudar-te, minha linda.
Compreenda-me agora, que preciso,
que perdoes meus desleixos de outrora,
porque ainda tenho a mulher grande,
que neste momento nada faz: chora!
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