Chegando em casa para almoçar e quem eu encontro? Exatamente o meu vizinho, amigo de infància que o tempo distanciou. Bem ali em frente, onde hoje um prédio faz a sombra, duas árvores eram traves dos campeonatos mundiais que nunca deixamos de fazer aqui no bairro. Um gramado verdinho que esquecia os deveres do colégio. Da janela eram as mães gritando, mas compromisso de criança é brincar.
A nostalgia tomou conta de mim enquanto olhava admirado para seus filhos, que não brincam com os meus e não descobri o porquê. Talvez seja por ainda não terem nascido, ou porque sou pobre. Mas foda-se, acendo mais um baseado que há anos é meu único anestésico depois da televisão e da cachaça, que dá uma tremenda dor-de-cabeça, e fico na espreita percebendo a movimentação de sua casa. Queria abraçá-lo, jogar uma partida de futebol, esconder-me deste vazio da idade que só cresce. Mas preciso trabalhar e não tenho muito tempo para pensar nessas coisas. Minha ideologia, meus sonhos e meu tesão, mortos pelos anos, impressos aqui, pela máquina que domina a estrutura de funcionamento de nossas cabeças. Grande Cazuza, "eu queria ter uma bomba".
Guilherme Gouvêa
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