São dois bichos modificados pelo longo tempo em que lamberam as feridas do convívio mútuo, carnal pelo sangue, visceral pelo odor. O cheiro é a mais forte lembrança da razão, conclamando o corpo pela alma da vida infeliz que sustenta essa palavra chamada saudade. É na pele que se sente o valor dos olhos brilhando na displicência auricular das palavras supostamente não ditas. Voando nos bilhares dos eixos aplicados no universo inconstante da mudança está o sonho muitas vezes linear da transformação recíproca de conceitos estruturais baseados em apoios serenos, talvez mesmo sóbrios que completam o cálice vital do relacionamento hermeticamente aprovado, sem, contudo permanecer indigesto aos anseios externos.
Mandarei chamar um anjo vermelho, supor-se-á interessado em mortes naturais e prêmios celestiais, como deve ser tanto na lama como no céu, para implantar e assegurar palavras injustas cravadas no canto superior do peito esquerdo por bocas malditas e singelas, por palavras ditas e não ditas. Sempre acordo com aquele cheiro de sangue esquecido numa prateleira de hospital público, sempre sinto a mesma solidão, o mesmo desconforto não mãos por não saber em que seio tocar. Quando não suicido estes pensamentos bestiais transbordo de felicidade no carro alegórico da ilusão imaterial.