És a única flor que paira sobre o lamaçal dos brejos
És o sorriso que enfeita minha contraída face
E o beijo que adocica a boca amarga
És a gota d água que umidifica minha garganta seca
És a lágrima de meus olhos sem brilho
E o gosto doce da fruta madura
És o sabor supremo de tudo que é bom
És o pássaro que gorjeia nas tardes de minha vida
E a borboleta que volteja nas flores murchas de meu tempo
És a mariposa que esvoaça ao redor de minha luz sem cor
És a abelha em busca do mel que já bebi
E a brisa mansa que pende a haste sem folhas
És o tempo que me lembra o passado esquecido
És o ritmo de meus versos sem rima e métrica
E a melodia que dá sentido à prosa
És a verdadeira poesia que nunca tive
És o derradeiro suspiro de meus sentimentos
E o langor dolente de uma nota triste
És o último desejo de minha esperança morta
És a música que me embala os sonhos
No timbre sublime de uma voz angelical
És o próprio céu transformado em carne
És o eterno devaneio de minhas horas sem sono
E o delírio que me levará com certeza à loucura
És, enfim, mulher, a síntese de meus pecados
Adelay Bonolo
(*)Caliandra – Belíssima flor de muitas espécies. A referida no poema surge em uma pequenina haste (de 40 cm, aproximadamente), que brota das cinzas dos cerrados calcinados pelo fogo. Linda, linda!