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Contos-->Negócios à parte -- 25/08/2003 - 19:14 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



A historia de seu Meireles esta` muito longe de ser uma ode ao comunismo, no entanto demonstra perfeitamente como o capitalismo corrompe a alma humana por mais pura que ela seja.
Seu Meireles era a perfeita tradução do homem de bem. Bom marido, bom filho, ótimo pai. Um exemplo de cidadão íntegro e honesto. Era borracheiro e evangélico e para deixar bem claro a sua opção batizou o seu estabelecimento de “Borracharia Jesus Te Ama.” Um lugar humilde a beira de uma rodovia que já fora muito movimentada mas que nos últimos anos andava um pouco esquecida pelos motoristas. Tinha uma clientela fiel, a maior parte dela era da Igreja que freqüentava.
Casado com Dona Lurdes, pai de Maria Jose de 20 anos, que era casada com um rapaz da igreja e alfabetizava crianças e adultos na escolinha do Bairro em que morava. “Menina de ouro” se vangloriava o pai orgulhoso. Tinha também o Joaquim, que herdara o nome do avo paterno, estava preste a completar 18 anos e estudava para ser pastor. “Entregou a vida a Jesus” profetizava o Pai de sorriso aberto. O mais novo se chamava Pedro, por causa do apóstolo, tinha 11 anos e era danado como o diabo. “Coisas da idade” se lamuriava Dona Lurdes. Seu Meireles tinha uma linda família e era feliz.
Mas nos últimos tempos Seu Meireles andava muito preocupado. O lucro da sua borracharia tinha caído bastante e já não tava para cobrir as despesas de casa. Mal dava pra pagar o dizimo da sua Igreja, o qual todo mês lhe tomava uma fatia gorda de dinheiro. A sua clientela fiel não tinha lhe esquecido, afinal de contas um irmão de fé não vira as costas para outro, mas.... “A situação anda ruim pra todo mundo Seu Meireles” ouvia da boca dos amigos.
Deus haveria de mandar uma luz, era a fé que insistia em habitar a mente de Seu Meireles. E todo dia e1e se levantava às 5 horas da manhã. “Deus Abençoai esse dia” orava Seu Meireles. No fim do dia o Lucro era cada vez menor. Seu Meireles ia para o culto e rezava, rezava, rezava. “O senhor olha para esse teu filho necessitado” clamava o pobre crente.
Um dia Seu Meireles ao fechar a borracharia percebeu que todo o apurado do dia tinha sido 5 reais que ele ganhou por consertar um pneu de bicicleta. Foi direto para a sua Igreja e orou. No fim do Culto procurou o pastor:
-- Pastor
-- Diga meu filho
-- Minha situação financeira anda muito difícil pastor. Já não sei o que fazer para sustentar minha família.
-- Calma irmão. Deus proverá, a situação anda ruim para todo o mundo..
-- Eu sei pastor.
-- Mas Deus não esquece do seu rebanho. Ele lhe dará uma luz e tudo se resolvera. Tenha calma e reze.
-- Eu rezo muito pastor.
-- Eu sei irmão. Tenha paciência.
-- Muito obrigado pastor.
Seu Meireles já ia embora resignado quando ouviu uma voz. “Irmão.” Virou-se, era o pastor:
-- Você tem contribuído com o seu dizimo para a nossa Igreja irmão ?
-- Eh claro pastor. Vou deixar agora mesmo esses cinco reais na caixinha.
-- Vá em paz irmão. Deus proverá. Clamou o pastor aos céus, erguendo os dois braços e jogando a cabeça para trás. Sem largar a Bíblia.
Seu Meireles era um homem de fé. E dormiu naquela noite esperando um sinal divino. E ele sonhou. E pelo sorriso em seu rosto na manhã ele tinha visto a luz que a tanto procurava. Ate Dona Lurdes estranhou a felicidade do marido:
-- Que cara eh esse homem ?
-- Nada Lurdinha. Nada. Respondeu com um leve riso nos lábios enquanto devorava um prato de cuscuz com leite.
-- Lurdes vai acordar o Pedrinho que ele vai trabalhar comigo hoje.
-- que idéia eh essa homem ?
-- Oxe Lurdes o menino não ta de férias. Vai trabalhar comigo.
Seguiram rumo a borracharia, Seu Meireles esperançoso, Pedrinho de cara inchada de sono e mal humorado. Chegando lá Seu Meireles chamou o filho e lhe entregou alguns pregos fundidos uns nos outros de modo a formarem uma estrela de três pontas que jogada no chão deixaria sempre uma ponta para cima e disse:
-- Pedrinho pegue isso suba a rodovia alguns quilômetros e jogue na pista. Cuidado para que ninguém lhe veja. Depois Volte para aqui.
Os olhos de Pedrinho brilharam de felicidade diante das palavras do pai, o menino nem questionou as ordens. Correu feliz, louco para furar os pneus de alguns carros. E assim o fez.
Logo apareceu o primeiro cliente, e depois outro e outro. Pedrinho voltava para a borracharia pegava os pregos de volta e tornava a correr, feliz, rodovia a cima. Cantarolando e pensando naqueles pneus que engoliam os pregos que ele jogava. Parecia uma faca cortando manteiga.
Ao fim do dia Seu Meireles olhou feliz o dinheiro apurado e o sorriso do filho. O dizimo do mês já estava garantido:
-- Posso vim amanha papai?
-- Claro meu filho. Claro.
O menino bulava de alegria. Seu Meireles sorriu e passou a mão na cabeça do garoto:
-- Jesus te ama meu filho. Jesus te ama.
Seu Meireles nunca contou para ninguém o que sonhou naquela noite.


Paulo Lima
25 de Agosto de 2003


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