TARDE DEMAIS
Há quem não veja qualquer vantagem em morar sozinho. De minha parte, conheço várias, e, dentre elas, uma que me parece fundamental: o privilégio maior de nunca ter o banheiro ocupado. Parece não ter lá muita importância, não é? Ah, mas como tem! Não duvide, caro leitor!
Veja só: você foi a um jantar, bebeu, comeu à vontade (afinal, o bufê era sensacional). Vai dormir e amanhece com uma dor de barriga daquelas: uma emergência. Corre para o banheiro e (vida cruel) está ocupado. Sua mulher está tomando banho; a água barulhenta do chuveiro e aquele blindex até o teto, que ela acha tão chique, a impedem de escutar o seu pedido de socorro, os murros que você dá na porta. “Maldita”, você pensa, “por quê será que ela tem essa mania de tomar banho com a porta trancada?”
Desesperado, você corre para o banheiro social, e (o azar te persegue) também está ocupado.
-- Quem está aí? Abre, pelo amor de Deus!
-- Calma, pai! – responde seu filho adolescente.
-- Calma uma ova! Abre logo, é uma emergência!
-- Olha, agora não vai dar, estou ocupado, no meio de umas atividades...
-- Não quero saber! Abre logo ou derrubo a porta!!
Bom, seu filho não lhe deixa entrar porque não quer que você saiba que ele “lê” suas “Playboys” no banheiro. Bate o desespero:
-- O que fazer, meu Deus? O que fazer?... Claro: o banheiro da empregada!
Andando como um chimpanzé, se contorcendo como uma cobra na areia quente, você chega ao banheiro da área de serviço, reúne as minguadas forças que lhe restaram para abrir a porta e... OCUPADO.
-- Maria...(sua voz quase não sai, é apenas um sussurro, um gemido de dor). Maria, por favor, me deixa entrar!
Sua empregada, que está depilando as pernas e adjacências, não reconhece a sua voz. Acha que é seu filho adolescente, com quem tem “certas liberdades”.
-- O que você quer, menino? Não “tá” vendo que agora não dá? Seu pai e sua mãe nem saíram, ainda.
--Maria, por favor...
-- ...
-- Maria...É uma emergência...
-- Pega umas revistas aí e vai pro outro banheiro!
-- ?????!!!!!????!!!!...
Tarde demais.
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