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cronicas-->Anda, pára, anda, pára ... a segunda lua de mel. -- 14/02/2003 - 11:02 (Marcos Woyames de Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Anda, pára, anda, pára ... a segunda lua de mel.


Tudo pronto. Havia um ano que aquela viagem estava sendo planejada.

Seria nossa segunda lua de mel, ou a terceira ou a quarta... todas haviam sido uma tentativa de reinicio. Aquela não, aquela nós queríamos realmente fazer, aquela nós queríamos realmente tentar reviver o sonho da primeira lua de mel.

Carro revisado, pneus novos, óleo trocado, limpadores funcionando, luzes conferidas, tudo pronto para a partida.

Crianças na casa da vovó, saldo bancário conferido, portas da casa trancadas, vizinhos alertados para movimentos estranhos... perfeito, tudo perfeitamente planejado.

Aqui vamos nós.

Você e eu, eu e você e mais ainda, a liberdade de estarmos sós.

Sem rumo definido, sem destino. Iremos seguindo, ou parando, aonde a vontade der, aonde a vontade quiser.

- As malas... as malas estão todas no carro?

- Claro amor!

- Pegou o bronzeador?

- Claro amor!

- O talão de cheques?

- Na minha bolsa amor!

- Tem certeza de que não falta nada?

- Tenho amor.

Viro a chave, o motor do carro prontamente responde... finalmente, depois de tanto tempo, consegui acertar com um bom mecànico.

Agora é só uma parada no posto, abastecer, calibrar os pneus, verificar a água, o óleo e pronto, iremos em busca do nosso paraíso.

Desço a rua onde moramos e pego a avenida central ... engarrafamento!!

- Bobagem amor, você passa por isso todo dia, daqui a pouco estamos na estrada e você vai ver, tudo será diferente!

Anda, pára, anda, pára...

- "tio, me dá um trocado, me ajuda vai?"

- O Diaaaa! Globooo! Extraaaa!

- "água, coca-cola, skol gelada, um real!"


Linha amarela, engarrafada, é só um trecho pequeno, logo logo acaba!

Entroncamento com a linha vermelha.

- Lugar perigoso este aqui! Você soube?

- Vi na tv, houve tiroteio ontem a noite, dois mortos. Morro de medo!


- Também pudera, olha o que fizeram com esta gente. Construíram casas - se bem que amontoadas -, fizeram escolas, praças lindíssimas, quadras de esportes, sistemas sociais que teoricamente seriam fantásticos!

Em volta de tudo puseram uma cerca.

Não fizeram nenhum trabalho de adaptação das pessoas à sua nova condição. Me desculpem os "entendidos", mas pra mim, isso é isolamento social!

- Amor, vamos esquecer isso, estamos indo viajar, tirar nossas férias merecidas.

Finalmente a linha vermelha, sem trànsito, limite 90Km/h, perfeito. Não temos pressa, correr pra que?

- Olha amor, como esse cara está correndo! Parece um louco! Ih, vem mais um... sirene, polícia, polícia ... melhor eu encostar... TIROS, TIROS, ABAIXA, ABAIXA!

- Ufa! Passaram, melhor eu ir bem devagar e deixar que se afastem.

- O que teria acontecido amor?

- Não sei, liga o rádio, vê se fala alguma coisa.

Nada... no rádio nada, acho que jamais iremos saber.

- Põe um CD? Nada como viajar com musiquinha.

BR 040 - Rio-Juiz de Fora, passando por Petrópolis.

- Amor, que tal uma paradinha em Petrópolis? Na rua Tereza poderemos comprar umas roupinhas para as meninas. Elas estão precisando.

- Amor, nós estamos viajando de férias, não estamos indo ao shopping comprar roupas!

- Puxa amor, precisa falar assim?

- Precisa fazer esse bico?

- Eu não faço bico, você é que nunca pensa em mim nem nas crianças.

- Eu? Eu passo toda a minha vida pensando em vocês, tudo o que faço é para vocês e agora me vem com essa! Era só o que me faltava!

- E tem mais uma coisa, já chega, não começa a estragar a viagem.

Silêncio total... agora o silêncio domina viagem.

Menos o barulho do CD... já é a terceira vez que repete e ela não troca essa droga!

No mais completo silêncio, eu e ela, subimos a serra.

"Bem que eu podia ter parado em Petrópolis, mas agora, só de raiva, vou direto."

"Que bela companheira de viagem eu arranjei, olha só como dorme!

Pensei em dar uma freiada só pra dar um sustinho... Não, melhor deixar ela dormindo, pelo menos assim não me aporrinha!

Hotel Fazenda Serra Verde: Chalés, piscina, lago, pedalinhos, charretes, cavalos, passeios, caminhadas, salões de jogos, comida mineira.... "hummmmmm, Ideal!"

- O que você acha?

- O que? O que foi que você disse?

- Droga, você veio passear ou dormir?

- Foi só um cochilinho!

- O hotel fazenda?

- Qual?

- O da placa!

- Pronto, já passou a entrada, agora não dá pra voltar!

- Talvez não fosse tão bom assim! Vamos ver o que vem por aí!

Estrada e mais estrada, asfalto e mais asfalto, pedágio... outro pedágio... - puxa! Que roubo!

Decido sair da BR. Vamos procurar uma cidadezinha calma, algo bem gostosinho, aconchegante.

Pousada da Tia Eufrázia, paz e tranquilidade. Ideal para quem quer estar a sós.

- Querido, que tal? Me parece ideal para nossa primeira noite.

- Depois que saímos da BR, já estamos rodando há mais de cinco horas.

- Ótimo, um lugarzinho gostoso, aconchegante, sossegado e só nós dois. Está pensando o que eu estou pensando?

- Seria maravilhoso querido!

A primeira vista o lugar não nos pareceu tão aconchegante quanto o out-door na estrada, mas... vamos lá!

O quarto não era dos piores, a cama bem... o colchão era de crina (palha), mas com boa vontade era até simpático.

- "Jantá servido às 18:30, café da manhã até às 10 e se o senhor quisé, pode bebê leite na teta da vaca, mas vai tê que madrugá. Oia, os cachorro são manso, mai num aconceio bota as mão neles não pro causo de que arguns tem sarna"

- Amor, é aqui que vamos ficar?

- Já que estamos!

- Amor, vamos aproveitar para um banhozinho? Ainda temos um tempinho antes do jantar!

- Amor, não tem chuveiro, só banheira e a água está fria pacas!

- Moço, não tem água quente?

- "Tem sim dona, o barde fica lá em cima fogão de lenha na cozinha. Pó pegá!"

- Amor, com um pouquinho de boa vontade e carinho, você vai ver que é até romàntico.

- Hum que delícia... vamos nos amar na banheira?

- Hã, hã!

- Amor, a água ainda está fria, tem que pegar mais água quente.

- Eu tó pelado!

- Eu também.

- Vamos tomar banho rapidinho e deixar o amorzinho pra depois da janta?

- Combinado!

Batem na porta... - "hora da boia! A janta tá servida!"

Frango com quiabo, angú, arroz branco, feijão com torresminho... comidinha cazeira!

Jantar perfeito. O silêncio só foi quebrado pelo barulho dos talheres nos pratos.

- Amor, vamos nos recolher? O Olhar matreiro dizia tudo!

- É amor, amanhã seguimos viagem cedo.

- "Moço, é mió levá um lampião pro causo de chovê e fartá luz"!


Não deu outra, ...temporal! Raios, trovoadas, muitas trovoadas!

Goteira justamente em cima da cama. Pareec que chove mais dentro do quarto do que lá fora.

Arrasta prá lá, arrasta pra cá... Finalmente conseguimos um cantinho que não pinga. Tudo isso no escuro, levamos o lampião, mas não levamos fósforos. Só na base da luz dos relàmpagos.

- Amor, vem cá, deita aqui, vamos esquecer tudo e viver nossas férias?

- Está até engraçado, vai ficar por conta da aventura... daqui a algum tempo ainda vamos dar boas gragalhadas!

- Vem, me dá um beijo... hum!!!

- Hum o que?

- Que cheiro é esse? Ai! Horrível!!!

- Também estou sentindo

- Percevejo, é percevejo... o colchão está cheio de percevejo!!!

- Eu não fico mais aqui, vamos embora!

Saio na chuva, ...um mar despenca do céu.

Um rio de lama pelas pernas acima!

- Quero a minha conta, não fico mais um minuto neste pardieiro!

- "o Sr pode até num ficá, mas o carro docês num sai daqui."


- Como não?

- "A estrada tá qui num passa nem trató, o rio transbordó. Agora só quando amanhecê é qui nois vamos sabê se pode fazer a vorta lá pelo sítio do Zeca."

Que noite! Nunca imaginei que passaria uma noite assim.

Na manhã seguinte o sol mostrou sua força, o rio baixou as águas e com a ajuda muitos baldes para limpar a lama de dentro do carro e mais de uma parelha de bois, conseguimos atravessar o atoleiro.

- Amor, vamos seguir viagem?

- Com que roupa? O que não está sujo de lama está com percevejo.

- Amor, sinceramente, eu prefiro voltar pra casa. Estou sentindo falta das crianças.

Cinco horas de viagem e chegamos à BR 040... pedágio, mais outro pedágio... linha vermelha... um louco dirigindo, outro louco... entroncamento com a linha amarela.

- Este lugar é perigoso, ...isolaram socialmente estas pessoas.

- Amor... viajar é muito bom, mas voltar pra casa é muito melhor.

- Amor, vamos deixar para pegar as crianças amanhã?

- Vamos!

Quer falar com o autor? Escreva para mwoyames@ibge.gov.br
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