Duas obras valiosas de Brasigóis Felício:
1-O cristo que não deu certo (obra em miniatura:27p. Ed. Kelps. Goiània-Go): 2002.
2- Armagedom "a marcha da insensatez": 30p. Fundação Jaime Càmara/Min. Cultura: 2002.
Por: maria do socorro Cardoso xavier
1-O Cristo que não deu certo - trata-se de uma pequena grande obra em miniatura - um auto-retrato irónico. Reflexões, críticas, humor satírico. Um criticar-se a si mesmo, levando os leitores também a fazer o mesmo. Nas pequeninas assertivas enxergamos verdades universais.
O escritor faz uma espécie de filósofo de si mesmo: Sócrates: Conhece-te a ti mesmo! Obra originalíssima, autêntica!
Ressalto do autor, entre outras a seguinte assertiva pujante: Sobrevivi. Mas não choro mais, por nada que a vida me traga ou leve.Com fome de viver, estou disposto a gastar a vida até o osso. No matadouro do dia, não sou mais o cordeiro conformado, a caminhar para o sacrifício. Estou em paz com meus demónios. Não sou mais um estrangeiro em meu corpo, em minha casa, no país em que nasci.
2- Armagedom "a marcha da insensatez" - o poeta Brasigóis Felício é também excelente crítico de artes plásticas - iniciando a realçar a obra de pintura da artista Iza Costa. Ambos compõem esta obra belíssima, visual e intrinsecamente. Poemas do autor e ilustrações impressionantes pelo realismo, da artista, anelam-se. A inteligente crítica do poeta bem como seus poemas politizados, de denúncia social: a problemas cruciais brasileiros e internacionais, dos últimos tempos, fazem a magnitude da obra. A temática dos poemas desfila assim: o ato nazista de Sharon, sonhos de Bin Laden, Morte pela terra, onze de setembro, vala comum em Jenin, homenagem ao Afeganistão, Daren Abu Aeshah, mulher bomba, invasão da aliança do norte, presente de gringo, justiça infinita, jaula humana, as torres do orgulho, yes, nós temos terrorismo, homem arsenal, fuga de Cabul, revezar para dormir, o mundo pede paz, protesto em Hamallah, despedida da Nação, protesto no Paquistão, tubarão americano, uma rosa nascerá, guerrilheiros do Al Fatah. Transcrevo o poema "Revezar para dormir", cujo teor político-social, crítico reflete os demais.
Revezar para dormir:
Quando, no Estado
Sitiado pelo crime
Presos têm que revezar
Para dormir, é que o país
Do carnaval virou
Uma Estação Carandiru
Com quantas
Chacinas de Candelária
Se faz uma carnavália
À brasileira?
Quando o horror superlota
E o crime se reparte
Em veias abertas
De desespero, restam
As vinhas do vício
De sempre perdemos
Para nós mesmos.
No país dividido
Entre malandros de gravata
E malandros de navalha
Os símbolos da pátria
São varridos
Pelas balas perdidas
Do desgoverno,
E o futuro do povo
Se escreve
Com os punhais do medo.
Enfim, duas obras impares na literatura brasileira.
* Brasigóis Felício: escritor (cronista) e poeta goiano, crítico de artes plásticas; de Aloàndia-Go. Nascido a 13 de janeiro de 1950. Tem 20 livros publicados, entre poesia, conto, romance, crónica e crítica literária. Detentor de dezenas de prêmios a nível regional e nacional. É membro da Academia Goiana de Letras.
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