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Cartas-->Do Primo Vicente ao Primo Tonho -- 21/02/2003 - 18:44 (Anderson O. de Paula) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E aí pangaré,

Como estão as coisas nesse pedacinho do paraíso?

Primo, você não sabe a satisfação que tenho ao ler suas cartas. Estou
muitíssimo feliz, tanto por constatar sua evolução na escrita e no pensar, quanto
pelas lembranças que povoam minha cabeça a cada linha que avanço.

Nossas peripécias, o prazer de sentir o pé descalço na terra, o cheirinho
do mato pela manhã, o gosto do leite recém ordenhado que a Esperança - a vaca
com o mais belo nome que já ví - nos proporcionava todos os dias... Ah,
sentir saudades do passado e idealizá-lo é comum a todo o ser humano e, de
repente, pode até haver um ou outro que diga que isso seja um defeito, mas, no
meu caso, acho que o sentimento é justo. Como citei acima, isso aí é um
pedaço do paraíso.

Mas vamos deixar de lado o saudosismo e viver o presente. Como vai o tia
Jurema? - diz a ela que estou com saudades daquele arroz com feijão que só ela
sabe fazer. E o Regino? Finalmente conseguiu ganhar o campeonato?

Na sua primeira carta você falou do Celso, é claro que eu lembro dele! E
então, como ele está? Ele sempre foi um excelente pescador, continua ainda
pegando tilápia só com a "força do pensamento"? ou aquela história de peixe que
pula no barco enquanto ele pensa é mesmo balela de pescador?

Bom, de qualquer jeito, espero que a mãe dele, a Dona Eliutildes, melhore
do reumatismo.

E por falar no assunto, perdoe-me por não lhe ter escrito antes, mas final
de ano você sabe como é, a correria está grande. As coisas aqui não param,
não respeitam de "jeito maneira" o pôr-do-sol. - destaquei o "jeito maneira"
porque faz tempo que não o uso.

Fico feliz por você ter gostado do Cortiço, é um livro e tanto, muito bom -
que o diga um antigo professor meu que era fascinado pela obra, até
defendeu uma tese sobre o João Romão - e quanto ao dicionário, não precisa
agradecer, é muito bom saber que ele está sendo útil.

Por falar nisso, deixe a Cidinha pedir os livros que ela quer, não existe
essa história de atrevimento coisa nenhuma, um livro parado na prateleira ou
jogado em um baú, é um objeto qualquer, não tem valor maior que o de um peso
de papel ou apoiador de porta, mas quando está sendo lido ele ganha vida;
passa a existir como propagador de conhecimento, essa é a função do livro,
por isso, quando mando algumas obras para vocês não estou fazendo favor
nenhum, apenas permito que o livro cumpra a única finalidade de sua existência:
ser lido.

Pronto, olha eu me empolgando..., bom manda um grande beijo para a Cidinha.
E diga a ela que vou mandar, logo-logo, um livro do qual deve gostar, é "O
Quinze", de uma cearense porreta chamada Rachel de Queiroz. Quem sabe ela
até desiste de dar o nome de Estácio para o filho de vocês e resolve chamá-lo
de Vicente, um maravilhoso nome por sinal, vocês não acham? É isso mesmo, no
livro tem um personagem chamado Vicente, tá vendo, já estou fazendo
campanha para escolher o nome, só vai faltar ele torcer para o tricolor...(sou
tricolor aqui em São Paulo)

Mas vamos então à guerra.

Notei, pela sua última carta, que nomes como tomahowks, Cabul, Al Quaeda e
tantos outros já estão no seu repertório de palavras. Mas vamos com calma
primo, devemos, sim, ler jornais e revistas, mas isso não quer dizer
necessariamente que devemos acreditar em tudo o que esteja escrito.

É aquela história: nunca se mente tanto quanto antes de uma eleição,
durante uma guerra ou depois de uma pescaria. Lembre-se das histórias que o Celso
nos contava aos fins de tarde.

O que realmente acontecia nos campos de concentração nazistas durante a II
Guerra Mundial só veio a público depois que Berlim já estava tomada e uma
outra Guerra, a chamada Guerra Fria, se aproximava.

Quanto às crueldades cometidas pelos Aliados, essas, até hoje são
escamoteadas.

A propaganda é poderosa; é a ARMA do negócios, como diz o Engenheiros do
Hawaii, por isso a análise deve ser feita sempre da maneira mais ampla
possível.

Todos os lados devem ser analisados, todas as possibilidades discutidas. E
primo, cuidado para não se deixar levar por visões simplistas. Somos
acostumados a querer sempre achar um "mocinho" a quem torcer. É o que acontece. Uma
parcela da população acaba por achar que os E.U.A são a personificação do
bem e Bin Laden e seus asseclas representam o mal, mas, outra parcela, também
erroneamente, e acho que foi o que aconteceu com você, acaba por santificar
facínoras, ciente da, digamos, não tão boa índole americana.

Essa é uma luta entre o cinza. Esqueça o preto e o branco, o bem e o mal.
Nada de maniqueísmo.

Em uma guerra, ninguém tem razão, até mesmo porque é impossível dar razão a
quem tem por objetivo eliminar o próximo em lugar de ajudá-lo.

Inocentes morreram no WTC, inocentes estão morrendo no Oriente Médio - há
muito tempo diga-se de passagem. Crianças morrem, de fome, na África,
enquanto o contrabando de diamantes desse solo enriquece uma minoria, e tantos
outros exemplos. Eram coisas desse tipo que Brás Cubas, o defunto autor de
Machado de Assis, se referia ao citar "o triste legado de nossa miséria".

Falta total de amor ao próximo, primo, intolerância, inveja são os
verdadeiros inimigos. Vamos lutar contra eles. Não só nas cavernas afegãs, mas em
todo o mundo. Só assim, seremos, todos, felizes.

Paulo, o apóstolo, e isso é um outro assunto, já dizia que nossa luta não é
contra a carne, mas sim contra principados e potestades.

Até a próxima cara, e lembre-se: Não sejamos medíocres, sejamos bambambãs.
Mande lembranças para todos


Um abraço
do sempre primo Vicente


P.S.: Ah! sobre os erros nas suas cartas, a maioria deles ocorre por você
estar escrevendo como fala. Fique atento às expressões como: tô, procê,
pussivel etc. Prefira: estou, para você e possível. Às vezes a linguagem
coloquial contamina o texto e provoca esses tipos de erros. Mas fique em paz, está
indo muito bem A leitura, por sua vez, é o melhor remédio para saná-los.
Continue a ler e a consultar o dicionário quando estiver em dúvida. Essa carta,
aliás, tem algumas palavras que você não conhece. Divirta-se. No mais, estou
orgulhoso de você.
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