Nesta semana recordei
Meus oito anos de idade
E um fato que aconteceu
Em minha bela cidade
Num céu todo azulado
Eu fiquei muito espantado
Numa intranqüilidade.
É que passou um avião
Cortando o céu por inteiro
Foi logo que surgiu o jatão
Desses que voa ligeiro
Lembro-me ele lá em cima
Soltando pela turbina
Um comprido fumaceiro.
Nessa hora eu corri
Vendo o mundo se acabar
Entrei ligeiro em casa
Procurando um bom lugar
Embaixo da cama fiquei
Por muitas horas bem sei
Com medo de olhar pro ar.
Muitas horas depois
É que lá debaixo eu saí
E lá pra fora voltei
Aquele risco inda vi
Mas o mundo estava de pé
Pois muitos oraram com fé
Para tudo não sucumbir.
E voltando ao presente
Também por aqui passou
Dois aviões de caça
Pelo céu do interior
Com uma zuadeira tamanha
Que estas duas coisas estranhas
Deixou o povo com pavor.
O céu de minha cidade
Não é rota de avião
Quando passa uns por aqui
É aquela interrogação,
Que estará acontecendo?
Todos saem e ficam vendo
Eles com seu zuadão.
Quem ta dentro saem das casas
Os da rua olham para o céu
É o povão do interior
Que é visto como tabaréu!
Olhando aquela novidade
Que mexeu com a cidade
De olhares a granel.
Gente de interior
Não tem muita ocupação
E novidade para eles
É helicóptero e avião
De repente a rua enche
Fica repleto de gente
Gente humilde do sertão.
Outro dia chegou aqui
Uma boate dançante
E a noite ligou um holofote
Cortando o céu no instante
Aquele foco horizontal
Mexeu com todo pessoal
Com seu clarão abundante.
Uma senhora vendo o foco
Tacou o joelho no chão
Fez logo o sinal da cruz
E rezou uma oração
Para ela não era normal
E achou que aquele sinal
Era coisa vinda do cão.
Nas ruas as correrias
Em direção a boate
Pra ver a coisa luminosa
Que seria um disparate
Deixando o povo confuso
Deste mundo de abuso
Escrito por esse vate.
E eu criado em Brasília
Mas de muitos anos de interior
Fui naquela enxurrada
De gente decifrador;
Seguindo o clarão também
Como na estrela de Belém
Aquela do Nosso Senhor!
Chegamos no fim da guia
E todos olhavam atentos
Praquela coisa brilhante
Praquele novo invento
Que virava para lá
E também para cá
Jogando a luz no firmamento.
Eram umas lentes possantes
Na caixa do refletor
Que tava dando falação
Pro povo do interior
E matando a curiosidade
Voltaram de felicidade
Dando fim ao seu pavor.
São histórias verídicas
Acontecida sim senhor
Na cidade onde o progresso
Quase ainda não chegou
E tomara que ele não venha
Para que essa gente tenha
Água pura com sabor.