Veio me roubar um beijo
no torpor da noite.
Mas quando me doei para recebe-lo
partiu e não me deu.
Se ficou algo no torpor da noite
não foi o beijo.
Foi a lembrança!
Nada me levou do que
não tinha.
Me deu o beijo
por boca amarga,
partiu louca de desejo,
na sanha,
ao lombo do ginete branco.
Nas carnes nuas,
o aroma vertente
e ainda vibrante.
Inocente, deseja o galope.
Flecha da remota lembrança!
Dança o passado nas ruínas
a lembrança da noite,
louca a sanha do ginete branco!
Dança vestida,
a nudez pálida.
a beleza impura!
Das mãos, cuida enxugar o pranto.
Abandonada, deitada sobre
a sorte da consciência,
Juiz algoz.
Fracasso!
busca o animal branco,
a selva volveu-o,
parte, rasga os laços,
revelando dor em seus olhos.
Voltará apenas quando,
no torpor da noite,
vier roubar um beijo.
|