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cronicas-->Filosofia brega -- 14/02/2003 - 18:26 (Luis da Silva Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Filosofia brega




Tudo o que é verde um dia amadurece e cai quando não acontece de cair mesmo é no furor das forças e da resina, contudo, não apodrece sem antes passar por um amarelão... mas o verde não permanece verde... o tempo passa e leva as suas cores...
Lembra-me um amigo, filósofo brega que certa vez...
- Cê não vê as árvores?
- Vejo - respondi.
- Olhe bem, procure vê-las no àmago...
Olhei as árvores de volta. Eram ingazeiros, carregados de ingás maduros, doces, enfileirados como em forma. Alguns garotos fincavam varas nas suas entranhas na derrubada dos frutos.
-É...- respondi. Grandes árvores, parecem seculares... veja aquela ali...
Meu amigo fitou as árvores, evasivo, sem responder, e eu continuei.
- Aquela tá rachando o passeio; é como se sua raiz sentisse falta de ar...
- Ah!
- Ah?...
- Não falo disso. Falo do sentido delas; da sua disposição.
- Estou mesmo desanimado - falei
- Não disse isso... a disposição delas, em linha, entrincheiradas... parecem obedecer a um comando...
- Comando? - perguntei. Isso lembra-me mando, direção, chefia...
- Não. Isso não lembra nada - redarguiu.
- A mim parece...
- Não parece... é hierarquia. Sua forma, seus modos...
- Não gosto - falei.
- Mas é bom que se acostume.
- Aceito...
- Já é um bom começo.
- Mas não gosto - respondi.
Meu amigo falou que sua velha mãe dizia que não se come apenas do que se gosta; que isso pode acontecer se se está em casa, na barra da saia, mas quando se cai no mundo etc, etc.
Eu olhava as árvores que pareciam caminhar ao som de "um, dois...", enquanto a fala do meu amigo soava ininteligível aos meus ouvidos grosseiros, até que entendi um final de frase.
- ... alinha, coordena...
- Coordena, o quê? - perguntei.
- A hierarquia acerta o subalterno, engrena a máquina...
- Não coordena, ordena - respondi.
- Não importa. O que conta é o respeito.
- Respeito ou submissão? - perguntei.
- E não é a mesma coisa?
- Não... respeito ou ironia?
- Não entendo...
- Respeito ou ridículo? - insisti.
Ele fitou-me; pensou que eu pensei que o subalterno atende a hierarquia só por desaforo, que não sente nada pela reverência forçada. Repreendeu-me. Mandou que olhasse o verde das árvores e o pó das vidraças. Olhei. Vi internamente como me mandara e disse:
- O verde das árvores quando apodrece...
- Apodrece? - interrompeu.
- Sim... pela umidade e pela própria seiva - respondi. Quando apodrece, junta-se à poeira das vidraças, das ruas e forma a lama do mundo...
- Lama?
- O próprio fruto esmagado pelos pés incautos... o próprio ingá que ora mata a fome também mata - respondi.
- Mata?
- Se se escorrega nele.
- ...
- Se lhe pisam...
- Pisam?
- ... e bate-se com a cabeça no meio fio... aí...
Meu interlocutor fechou os olhos duas vezes como um sestroso, repetiu o gesto dizendo que eu parecia descrente; disse que eu não estava servindo...
- E não servi - respondi afoito.
- Não serviu? como?
- Não gostava... tinha medo.
- Medo? - perguntou atónito.
- É. Diziam que lá se comia arroz com casca, feijão com pedra, que as panelas estavam sempre destamp...
- Não estou falando disso - cortou-me.
- Mas, então, do quê?..
- ...
- Do quê? - insisti.
- Não sei mais... falava de... de...
- De árvores - lembrei.
- Não... não era...
- Era.
- Não era...
- Então... ah, de verde, de hierarquia, de alinhamento - elucidei.
E ele negou tudo... Comentei acerca dos blecautes, da lei do Newton... das viravoltas que vinham como consequências da lei, digo, viravoltas que dava; lembrei da hierarquia, do caso da volta de... de... quero dizer, dos... dos... ou melhor, na tentativa de readmitir...
- Readmitir? - perguntou.
- É... com emenda e tudo...
- Emenda - perguntou. Quebrou alguma coisa?
- Quebrou - respondi. Pensando bem, já tava quebrado...
- Cê tá doido... doido varrido - disse. E foi embora.
Fiquei parado, olhando as árvores... umas estavam murchas, outras secas...
Indalus


Campo Grande-MS, 30:10:85 - 11:08


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