O Brasil é mesmo um país muito engraçado. Aqui, os valores apresentam, sempre, uma tendência invencível a serem invertidos, desvirtuados, desenhados com um desconcertante supra-realismo.
Desse modo, é que o governo procura traçar os caminhos da Nação seguindo, em todo o tempo, as diretrizes do seu próprio entendimento acerca de qualquer assunto, ditando normas como um senhor absoluto, editando medidas e instruindo os seus asseclas a decidirem dessa ou daquela forma como se, ainda eles, não fossem capazes de, em tempo algum, tomar uma decisão autónoma referente a determinada matéria.
Por outro lado, não consta que parlamentares sejam eleitos para concordar com o governo independente da vontade do povo que os elegeu. Fosse assim e o Congresso perderia a sua finalidade e, o próprio país ganharia com isso, já que não seria necessário arcar com as despesas das casas que, finalmente, não decidiriam nada, antes, assinariam sentenças previamente elaboradas por um todo-poderoso.
Natural é a existência de uma base de governo entre os parlamentares, porém como a filosofia democrática exige uma oposição, igualmente natural é que, aqui e ali, de acordo com a idiossincrasia de cada um, alguém até mude de lado, votando na matéria, sempre de acordo com a vontade do povo, independente de ela, originalmente, ter partido da oposição ou do governo.
Daí, não há falar em traição quando um parlamentar da base governista decide por um voto contrário à orientação do governo. E a própria liderança do governo deveria ser mais comedida no momento de fazer críticas, até porque quando taxa de traidores os que votam contra determinados temas, corre o risco de feri-los nos brios - se é que eles o têm -, provocando uma reação futura contrária, aleatória, apenas por vingança.
E por todos os pontos de vista é que o governo perdeu mais uma. E nisso não há nada de extraordinário, já que os parlamentares que rejeitaram a Medida Provisória l720, que taxava os aposentados e pensionistas, com certeza, agiram de modo a atender, não à arrogància do governo, mas ao queixume de uma boa parcela da sociedade.
Indalus