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Poesias-->Balada do Poeta Morto -- 03/04/2004 - 22:09 (José Ricardo da Hora Vidal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que cantar assim eu mais

Não sei, não posso, não devo.

Cantar como canta os deuses (vencidos)

Na nau azul da misericórdia.;

Cantar com o coração desnudo

E romântico, puro como Sir Galahad

Em frente ao Sancto Graal de Cristo Nosso senhor.



O mundo já não é mais dos poetas.

É da velocidade catatônica dos escritórios,

Do velho Futurismo reacionário de Marinetti,

É dos Gigabytes e dos Terawatts da mediocridade,

É da cifra de milhões de dólares e euros para guerras,

É do ouro luzindo falso no horizonte…



As amadas condessas da Lua já não amam

Os poetas jovens e apaixonados.

Amam os frios engenheiros e seus cálculos,

Seus castelos de pedra, cimento e números.;

Os engenheiros que as traem com amantes

Enquanto as condessas mofam sozinhas no lar.

As Dulcinéias abandonaram o Burgo de Toboso

Para estudarem ciências jurídicas

E ganharem nos casos de divórcios

Entre a Musa e os Casanova de subúrbios.



Meu olhar vergasta a planície cinza de Tebas:

Em que sonho eu te perdi,

Nobre ilha de Avalon?

Em que brumas eu me perdi de minha feliz pátria,

Pátria infeliz da poesia última de Ossian?

Em que escritório eu perdi

O navio para a ilha Barataria,

Último exílio de Don Quixote e Sancho Pança,

Fausto e Mefistófeles, Don Juan e Child Harold,

Ahasverus, Frankenstein, Gilgamesh e Werther?

Só sobrou a última quimera alada

A consolar-me nas profundas da noite sem luar

Com paraísos artificiais e mortais.;

Eu – peregrino numa noite sem lua.;

Eu – acaso da poesia, perdido nos trópicos.;

Eu – filho deposto da cidadela de Tartessos desaparecida…



Em um turbilhão, ficarei odara,

Ficarei em êxtase.

Ah, se eu pudesse cantar,

Como cantei em meus dias felizes!

Quando nas margens de riacho n’Arcádia,

As hamadríadas e a s fadas surgiam

Sensuais das moitas verdejantes,

Para coroar-me aedo junto ao Deus Pã…

Cantar como cantei, numa noite de tempestades e mistérios,

Os versos negros e ébrios

Da juventude romântica e condoreira…

Quando, do alto dos contra-fortes do Aconcágua,

Sonhei ser Napoleão sem Waterloo,

Sonhei ser Alexandre transpondo o Rio Ganges,

Sonhei ser o príncipe perfeito e sem mácula

– possuidor dos mistérios dos dragões

e dos tesouros das Minas de Ofir –

Que iria conquistar o castelo sanguíneo

Do amor de minha condessa amada.



Ah! Mas o mundo – O Mundo!

Velho invejoso a resmungar baixinho,

Não pertence aos jovens poetas!

Pertencem aos Economistas Alquimistas,

Na sua eterna ilusão de gerar ouro pelo chumbo.;

E quanto mais procuram número perfeito,

Mas o ouro canta falso nas nuvens.

Pertencem aos homens robôs dos escritórios

Que servem de energia para a Matrix escondida

Que regem a reino da real ilusão.

O mundo pertence ao arauto das desgraças,

Aos magos que na caixa de cristal elétrico

Noticiam o crime nosso de cada dia

E seus olhos infernais julgam

E condenam com azedume a imagem

Dos Cérberos selvagens forjados

Nos estaleiros deste mundo sem futuro.

E assim, cada manhã nasce mais plúmbea nas cidades sem horizontes,

E o mundo vai caminhando para sua extinção gradual,

Em passos lentos e seguros para o caos.



Não, o mundo não é mais dos poetas.

O coração das musas não é mais dos poetas

A felicidade não é mais do poeta.

O luar doirado e sangüíneo não é mais dos poetas.

E por isso, eu – que sou poeta –

Não mais vivo.

Não mais devo cantar

Não mais chorar posso…







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