Corte pela raiz
Não existe quem ainda não tenha ouvido a expressão "cortar pela raiz", cujo significado é impedir que algo vá adiante antes que tome força, que cresça, que tome proporções impossíveis de serem contidas. Funciona da mesma forma que "antes que o mal cresça, corte-lhe a cabeça" e é viável para tudo nesta vida; sábia expressão!
Pois muito bem. Chorar sobre o leite derramado é coisa de incautos, mormente se, em tempo hábil, tiveram oportunidade de conter o derramamento do leite e não o fizeram. Depois, não adianta; é aguentar as consequências.
No Brasil, de muito, é sentida essa omissão, a falta desse corte, e, hoje, a população experimenta um terror sem precedentes, um medo que avassala todas as camadas da sociedade.
Por causa disso, no estrangeiro, já há quem pesquise e estude a causa do abortamento legalizado como um meio de conter a avalanche de nascimentos de marginais, e a primeira dama americana ensaiou uma deselegante declaração acerca do fato dizendo que, como Senadora, poderá ajudar o Brasil a legalizar o aborto. Tudo muito bom se tal declaração não se constituísse numa ingerência externa nos problemas nacionais. Porém, nada de muito estranho se se considerar que o Brasil admite intervenções provenientes de toda a parte, principalmente, dos Estados Unidos da América. Claro que não admite sequer sugestões do povo nativo, até porque, segundo parece, a direção geral desta terra não confia e nem respeita o seu povo.
Mas o caso não é esse, o assunto não é política externa.
Recentemente, um tal Sandro Nascimento fez o maior escarcéu num ónibus da linha 174 no Rio de Janeiro. Após horas de negociação o saldo, sobejamente conhecido, não foi nada satisfatório: uma refém morreu e o próprio Sandro também levou a sua.
Esse não é um fato para ser encarado como normal em nenhuma circunstància, apesar da normalidade com que vem ocorrendo. Pior ainda quando se observar que o marginal que protagonizou o espetáculo era um remanescente da limpeza da Candelária, no mesmo Rio de Janeiro, em 1993, o que leva a inteligência mediana a uma conclusão simples: Sandro não precisaria ter morrido naquele dia, nem ter causado o transtorno que causou publicamente naquela data e por baixo dos panos nos sete anos que o separavam de 1993. Da mesma forma, os passageiros daquele ónibus não precisariam ter passado por aquele sufoco, nem aquela moça teria morrido se o Sandro não fosse remanescente de nada. Se tivesse sido material de autópsia na limpeza da Candelária, se tivesse sido um mal cortado pela raiz.
O aborto? Deixa pra lá...
Indalus
Campo Grande-MS, 31.10.00 - 11:59
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