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Cordel-->O amor vence o racismo -- 08/12/2005 - 02:41 (Alkiria Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O AMOR VENCE O RACISMO

Sem postergar mais a data
Começo neste momento
A versejar uma história
De amor e sofrimento
Amor que vence barreiras
E quebra constrangimento.

Peço licença aos ouvintes
A paciência a quem ler
E a quem ama o cordel
Ofereço este prazer
Pois, poesia é quem faz
Todo amante viver.

A Deus, eu peço à força,
A Jesus fé e razão,
A Maria simplicidade
Ao Espírito inspiração
A Paulo peço coragem
A Pedro intercessão.

Na cidade de Boqueirão
Do Brasil interior
Havia morando no campo
Um pequeno agricultor
Respeitado e conhecido
Com o nome de Adamastor.

Com cinqüenta anos de idade
Judite era sua mulher
Filha mais nova, Elimar
Não era uma qualquer
O André e a Conceição,
Que o pai tanto bem quer.

Todos três eram solteiros
Portanto, com os pais vivia
Reinava naquele lar
União, paz e alegria,
Porém, havia uma coisa,
Que o velho sempre dizia:

—Tenho três filhos solteiros,
Amados do coração
É Elimar e André
Sem esquecer Conceição
Porém, uma coisa a eles,
Jamais darei permissão:

É se casarem com negro
Já lhes pedir, por favor,
Pois, a negro e a índio
Tenho enorme pavor
Se um deles fizer isso
Juro que morro de dor.

Disse isso a Adenildo
Seu compadre de respeito
Este exclamou: —compadre
Não fale assim desse jeito
Pois, eu nestas etnias,
Jamais encontrei defeito.

Pelo tom de sua fala
Mostra mesmo que detesta
O senhor está errado
E a verdade é esta
Como tem negro ruim
Há branco que nunca presta.
Desculpe, seu pensamento
Ta longe do altruísmo
Sou franco a lhe dizer
Deixe de autoritarismo
O senhor pode ser preso
Pelo crime de racismo.

Respondeu: —olhe compadre
Disso eu sou consciente
Penso assim desde novo
E direi eternamente
Onde é que negro e índio
No mundo já foram gente?

A mulher de Adenildo
Sua comadre também
—Exclamou, oh meu compadre
Dizer isso não convém
Lembre-se que os três filhos
Solteiros o senhor tem.

Ai foi que ele falou,
Ainda bem mais sisudo
Pensando que no planeta
Ele era o mais graúdo
—Isso não mais me preocupa
Eles já sabem de tudo!

Dona Maria replicou:
—Sabem sua opinião
É seu modo de pensar
Mas, o deles não é não,
E mesmo porque ninguém
Não manda no coração.


Compadre com essa idade
Confesso, jamais provir
Alguém muito apaixonado
De seu amor desistir
Já pensou se seu racismo
O senhor ter que engolir?

O tempo foi se passando
E aumentado à idade
Das moças e do rapaz
Que queriam na verdade
Como todo e qualquer jovem
Encontrar à felicidade.

Conceição era a mais velha
E uma moça sagaz
Um dia foi na cidade
Lá encontrou um rapaz
Gostou dele e ele dela
Aquele jovem capaz.

Muito destemido e sério
Por nome de Agamenor
Foi à casa da amada
Disse: —seu Adamastor
Eu quero namorar ela
Se permitir o senhor!

Disse ele: —eu permito
Namorar minha filha bela
Bonita, a quem eu sempre,
Dei carinho e cuidei dela
Mas, se você desonrá-la,
Casa comigo ou com ela.


Um dia Elimar disse:
—Conceição, vou arrumar
Um rapaz bom e sincero
Para também namorar
Por ser mais nova que tu
Será que pai vai brigar?

Ela disse: —acho que não
Desde que seja galego
Todavia, sendo um negro,
Vai apanhar de pelego
Ai sim haverá briga,
E perderá seu sossego.

Ela disse: —até você
Querida irmã Conceição
Tem este conceito besta,
Não sabes como a paixão
Não respeita etnia
Quando invade um coração?

Conceição disse: —é verdade
O que pensas, manifesta,
Até hoje não entendo
Por que tanto pai detesta
E insiste em dizer:
“Que negro e índio não presta”.

—Isso é atraso besta
De quem não evoluiu
Se eu sentir por alguém
O mesmo que tu sentiu
Eu irei lutar por quem,
Com amor me seduziu.


Conceição disse: —Elimar
Gosto bastante de ver
Esse seu jeito sincero
No falar, no proceder,
E muito feliz na vida
Creio, você há de ser.

André que sempre escutou
O pai com esse racismo
Era racista também
Misturado com machismo
Às vezes até tratava
Gente com certo cinismo.

Os amigos lhe pediam:
—Deixe dessa aversão
Para com índios e negros
Pra tal não vemos razão
Mesmo porque Deus do céu
Nos ama sem distinção!

Negro ele até tolerava
Mas, quando via um “cabouco”
Agredia e destratava,
O outro achando pouco
Os amigos entre si,
Diziam: André ta louco!

Como já falei de alguns
Personagens sem vanglória
Vamos agora mudar
Um pouco da trajetória
Pra falar de Elimar
A pivô da nossa história.


Como moravam na roça
Precisavam ir comprar
Lá na feira da cidade
O que faltava no lar
Dona Judite um dia
Foi e levou Elimar.

O preconceito do velho
Aqui começa ir a míngua
Ele teria uma dor,
Igual a alguém com íngua
A vida encarregou-se:
Fazê-lo dobrar a língua.

Na feira com sua mãe
Lá estava Elimar
Sem ela e nem ninguém
Saber o que ia se dar,
Que naquele exato dia
Iria se apaixonar.

Quando estava na barraca
Alguma fruta comprando
Ao levantar a cabeça
Elimar foi avistando
Um rapaz negro bonito
No meio da rua passando.

Quando o viu, seu coração
Disse a ela é aquele
O amor da sua vida
Terá de lutar por ele,
Pois, sua felicidade
Agora depende dele.


Sentiu enorme alegria
Dentro do seu coração
Disse consigo: eu me caso
Papai querendo ou não,
De minha felicidade
Eu jamais abrirei mão.

Afinal não tenho culpa
Se por acaso encontrei
O homem de minha vida,
No negro que avistei
E papai não permitindo
De casa então fugirei.

Pensou isso num segundo
Lá na barraca encostada
Mesmo estando com a mãe
A ela não falou nada
Da feira saiu pensando
Em sua pessoa amada.

E uma certeza tenaz
Havia achado o amor
Paradoxal, pois ia,
Trazer-lhe prazer e dor
Sendo esse a causa para,
Brigar com Adamastor.

Chegou em casa, chamou:
—Conceição venha ligeiro
Preciso lhe contar algo
Antes de causar berreiro
Encontrei um negro lindo,
É meu amor verdadeiro.


Conceição disse: —por Deus
Valei-me Nossa Senhora
Quando tu foste à cidade
Oh meu Deus, maldita hora
Quando papai souber disso
De casa te põe pra fora.

Elimar disse: —jamais
Ele poderá saber
Porque só vi o rapaz
Porém, falta conhecer
E ver se alguma coisa
Comigo ele quer ter!

Conceição disse: —é claro
Há de haver uma saída
Pra tudo se tem um jeito
Deus querendo nesta vida
Porém, se prepare mana,
Sua batalha é sofrida.

—Se você ta preocupada
Agora estou também
Eu posso até não ter jeito
Todavia, Jesus tem,
Nunca vi Deus Pai do céu
Abandonar seu ninguém!

Assim Conceição jurou
Para a irmã Elimar
Que não contaria nada
E iria lhe ajudar,
Vamos agora saber
Como ficou Gilcemar?


Ele quando a viu na feira
Ficou com a alma aflita
Chegou em casa gritando:
—Pai você não acredita
Eu estou apaixonado,
Escutou dona Angelita?

Seu Gilberto assustado
Ao filho respondeu:
—Diga-me agora menino
Como isso aconteceu
Que paixão doida é essa
Ta broco ou enlouqueceu?

Falou: —é amor fortíssimo
Que me alegra e excita
—Estou até assustada,
Exclamou dona Angelita
—Também estou com mamãe
Disse à irmã Carmelita.

Gilcemar disse: —os três
Queiram aqui se sentar
Por não entenderem nada
Eu já irei explicar
Apaixonei-me na rua
E agora vou me casar.

Papai querido, pergunto,
E me responda o senhor
Conhece acaso um homem
Chamado Adamastor?
A moça é filha dele
Por quem sinto tanto amor!


O pai respondeu: —conheço
Todavia, sou franco e digo
Já o vi algumas vezes
Porém, não sou seu amigo
Dizem que ele é racista
Assim corro do perigo.

Se detesta a nossa cor
Eu não lhe dou atenção
Porque se me disser algo
Corto logo no facão
Não lhe dirigindo a fala
Evito uma confusão.

Sou negro e não tenho inveja
De gringo amarelo e louro
Não sou de procurar briga
Mas, achando sou um touro
E nunca entrei em uma,
Pra sair levando couro!

—Pois, papai foi lá na feira
Porventura as encontrei
A mãe se chama Judite
Já o da filha não sei
Mas, louca e perdidamente
Por ela me apaixonei.

Ou mamãe ela ficou
Apaixonada por mim
Porém, sendo assim o velho
Na mão tenho um estopim
Desse amor não começado
Só Deus saberá o fim.


Viver sem ela agora
Não irei mais conseguir
E covarde nunca fui
Para poder desistir
O velho não permitindo
A chamarei pra fugir.

Seu Gilberto replicou:
—Já és, maior de idade
Embora pra ter família
Falta à possibilidade,
Isso ai virá depois,
Primeiro à felicidade.

Portanto, lhe aconselho,
A fazer como quiser
Se, achou pra sua vida
A verdadeira mulher
Lute por ela e consiga
Se, é mesmo isso que quer.

E ainda garantiu:
Ao filho Gilcemar
—Terá todo meu apoio
Em tudo que precisar,
Aja com serenidade
Pra se evitar brigar.

A mãe disse: —meu filhinho
Amo-lhe de coração
Pelo amor de Deus lhe peço
Não me cause aflição
Ame-a, evite o máximo,
Meter-se em confusão.


Terminada à conversa
Foi o rapaz se deitar
À cabeça ao travesseiro
Ele começou pensar
Como deveria fazer
Pra conhecer Elimar.

Após dormir um bom sono
Acordou meio preocupado
Pensando que o seu caso
Era demais complicado
Foi ai quando lembrou-se
Do seu amigo Osvaldo.

Justo logo a quem contava
Os segredos de sua vida
Quando o encontrou, lhe disse:
—Salve uma alma perdida
Seu amigo agora está
Em um beco sem saída.

Quando ouviu tais palavras
Osvaldo lhe perguntou:
—Diz isso amigo por quê?
—É porque amando estou
A filha dum homem quê
De negro nunca gostou!

—Se for de Adamastor
E souber lhe arranca o couro
Porque é muito racista,
Mais bruto do que um touro
E ele não quer ver negro
Nem mesmo pintado a ouro.


E por qual das duas é?
Gilcemar disse: —uma branca
—Se o velho souber disso
Num quarto ele a tranca
Quando um dia lhe pegar
Seus olhos e, mãos arranca.

Ela se chama Elimar
Bonita e não é racista
Tu és negro, ele não gosta
Mesmo assim não desista
Se a ama loucamente,
Pelo seu amor insista.

Gilcemar disse: —Osvaldo
Precisas me ajudar
Um encontro com a moça
Você vai ter de marcar
E pergunte logo a ela
Se, quer comigo casar?

—Onde, se esta cidade,
De pequena é um emblema
Amigo você está
Agora em um dilema
Se alguém, te ver com ela
Estará feito o problema.

—O único lugar que posso
Sem ninguém nos ver jamais
É na, sua casa amigo,
Onde compras cereais
Quem a ver, lá vai dizer:
“Foi ‘ver’ dinheiro dos pais”.


Dessa forma ela nem eu
Não correremos perigo
Esse é o único jeito
Que vejo e agora lhe digo
Invés de buscar dinheiro
Foi lá se encontrar comigo.

Osvaldo entrou na história
Foi atrás de Elimar
E disse: há um rapaz
Por nome de Gilcemar
Que quer jurar a você
Eternamente lhe amar.

Perguntou ela: —é um negro
Ele disse: —certamente
Quando lhe viu pela feira
Se apaixonou loucamente
Não lhe vendo nestes dias
Ou morre ou fica doente.

Ela disse: —tou errada
Mas, meu amor é total,
Pode marcar o encontro
Aonde é o local?
Ele disse: —em minha casa,
Entrarás pelo quintal.

E no dia combinado
Os dois por lá se encontraram
Chegaram desconfiados
Aos poucos se soltaram
Amor eterno e sincero
Naquele lugar juraram.


Nesse primeiro encontro
Deixaram outro marcado
E este segredo enorme
Só quem sabia era Osvaldo
Por um ano se encontraram
Sem nada ser comentado.

Cada encontro dos dois
Era mais apaixonado
Nem mesmo por Conceição
Isso foi desconfiando
Essa que continuava
Muito bem com o namorado.

Certa vez houve uma festa
Naquela localidade
Em homenagem ao santo
Padroeiro da cidade
Desse dia por diante
Veio à tona à verdade.

Nunca vi crime perfeito
Por bom que seja o bandido
Sabemos, matos tem olhos
E parede tem ouvido
Assim se descobre o crime
Por mais que seja escondido.

Justamente nesse dia
Porque estavam no escuro
Os dois namoraram um pouco
Encostados em um muro
Sem saber que mesmo assim
Comprometiam seu futuro.


Quem os viu é um perverso
E não segue o padroeiro
Ao ver o jovem casal
Disse no lugar inteiro
Ainda assim, ninguém sabe,
O nome do fofoqueiro.

No outro dia na cidade
A conversa era esta:
“Adamastor dessa vez,
Vai dobrar, franzir a testa”
Eu quero vê-lo dizendo:
“Que negro agora não presta!”

Quando souber que a filha
Está namorando um
Negro bom e corajoso
Vai, ele achar comum
Irá comer seu racismo
Pensando ser um atum.

Um dia depois da festa
Um cabra bem linguarudo
Daqueles que têm a língua
Como um ferrão agudo
Ao ver seu Adamastor
Tratou de lhe contar tudo.

Ele ficou furioso
A ponto de estourar
Chegou em casa e chamou:
—Corra aqui Elimar
Pois, soube de uma conversa,
E trate de me explicar.


Por isso, preste atenção
No que vou lhe perguntar:
—É verdade que namoras
Com o negro Gilcemar
—Olhe papai, eu não quero,
Desse assunto falar!

— Minha filha, por favor,
Não se faça aqui de burra
Dessa forma, você mesma,
Ao castigo se empurra
Podendo por causa disso
Levar uma boa surra.

—Papai eu já sou grandinha
E já sei onde me meto
Mas, não posso consentir,
A sua idéia de gueto
Deixando meu namorado
Porque não gostas de preto.

Ela apesar de tudo
Outro encontro marcou
E disse a Gilcemar:
—Complicada agora estou
O meu pai descobriu tudo
E uma surra me jurou.

Gilcemar falou: —meu bem
Prometer a você, vou,
Se porventura seu pai
Fazer o que lhe jurou
Seu Adamastor ao certo,
Irá saber quem, eu sou.


Ela disse: —tem um jeito
Para isso se evitar
Nós dois nos amamos mesmo
Então vou engravidar
Ou ele aceita o namoro
Ou nos obriga a casar.

Certamente eu irei
Enfrentar uma grande dor
Pois, não sei como agirá
O velho Adamastor
Porém, tristeza maior,
É perder o seu amor.

Meses após a conversa
Judite e Conceição
Perceberam que Elimar
Tava sem menstruação
Dessa forma, revelava-se
Todo o X da questão.

As duas disseram: —Elimar
Para que tal coisa fez
O seu pai vai te matar
Ao saber da gravidez
—Só assim com Gilcemar
Poderei ficar de vez.

Passou um mês mais ou menos
Não deu mais pra sustentar
O próprio pai percebeu
Sem precisar lhe contar
E pessoalmente foi,
Suas coisas arrumar.


Quando arrumou tudinho
Foi como um bicho feroz
Pegou no braço da filha
E disse: —estás a sós
Vá morar com o seu negro
Já que é melhor do que nós.

Vou lhe pedir um favor
E faça com precisão
De hoje em diante nunca,
Mais me dirija a bênção
Lembranças tuas não vai
Ficar no meu coração.

Elimar disse: —eu errei
No ápice da juventude
Foi somente em ficar grávida
Pois, evitá-la não pude
E papai cor de ninguém
Não é defeito ou virtude.

Meu pai pelo seu racismo
Na sarjeta eu mergulho
Me botas fora de casa
Como se fosse um embrulho
Entretanto, cedo ou tarde
Engolirá seu orgulho.

Eu já sabia que iria
Ser essa sua atitude
Ser bruto para o senhor
Não é mais vicissitude
Porque além de racista
É um homem muito rude.


O velho disse: —está bem
Já basta de apologia
Os seus feitos me parecem
Muito mais do que orgia
Justamente o contrário
Do que eu pra tu queria.

Sua mãe disse: —meu anjo
Por que entrou nessa trilha
Já André dizia: —pois mãe
Acho uma maravilha
Pois, um grande ensinamento
Papai deu a sua filha.

O velho logo alertou:
—Conceição olhe meu feito
Se porventura você
Também faltar com respeito
Desde já fique ciente
Que farei do mesmo jeito.

Dona Judite sentiu
Uma dor no peito dela
Nisso o marido, lhe disse:
—Se tem dó da amarela
Não irá me fazer falta
Pode até ir com ela.

Vamos ver como Elimar
Já se sentido perdida
Pode para seu problema
Encontrar uma saída
Foi à casa do amor
Onde foi bem acolhida.


Gilcemar estava em casa
No alpendre descansando
No fim da rua percebeu
Alguém se aproximando
Nisso ele reconheceu
Que era Elimar chorando.

—O que foi, me diga logo?
Gilcemar lhe perguntou
—Não ta vendo minhas bolsas?
Elimar assim falou
Papai aquele racista
De casa me expulsou.

Gilcemar disse: —inda bem
Agora nós nos casamos
Enquanto compro uma casa
Com os meus pais nós moramos
E vamos mostrar ao velho
Elimar que nos amamos.

Estavam dentro de casa
Gilberto e dona Angelita
Que disseram: —Elimar
Por que está tão aflita
Essa hora já estava
Como uma carta escrita.

Ou filha não se preocupe
Disse carinhosamente
Enquanto vocês se arrumam
Hão de ficar com a gente
Meu neto nasce conosco
Deixando a gente contente.


O tempo foi se passando
Amor cada vez mais forte
Alguns diziam: “eu nunca”
Vi um amor desse porte
Pois, por amor esses dois
Enfrentam até a morte.

Certo dia Gilcemar
Estava na feira andando
Encontrou dona Judite
Que assim foi lhe falando:
—Meu filho espere ai,
Estava lhe procurado.

—Pois, não senhora Judite
À senhora quer me ver
Estou pronto a lhe ouvir
E também a responder
O que veio me falar
Faça o favor de dizer.

Respondeu ela: —meu filho
Eu não vir lhe condenar
Sempre estive com vocês
Mas, nada pude falar,
Por favor, me diga como,
Está à minha Elimar.

—Graças a Deus está bem
E pertinho de ganhar
O nosso filho do peito
E eu mal posso esperar
—Meu se eu quiser
Posso ir lhe visitar?


—Claro, ela é sua filha,
Respondeu o Gilcemar:
Minha casa, Conceição,
Já sabe como encontrar
Ela disse: —com certeza
Mãe, vamos ver Elimar?

—Mas, se seu pai descobrir
Como ele é tão feroz
É capaz de nos matar
E dessa vez mais veloz
O que fez com Elimar
Fará conosco o algoz.

—Dona Judite, à vida,
Fazer o certo consiste
Besta é quem pelos outros
Daquilo que quer, desiste,
Tenha fé, siga em frente
Um jeito pra tudo existe.

—É verdade Gilcemar
Disseste uma maravilha
Se Adamastor não gostar
Saio e sigo outra trilha
O que não posso é viver
Sem puder ver minha filha.

E foram ver Elimar
Chamaram na moradia
Saiu com o rosto abaixado
E foi dizendo, bom dia
Quando viu que era a mãe
Quase cai de alegria.


—Mamãe a senhora aqui
E junto com Conceição
Que alegria enorme
Vocês agora me dão
De prazer quase transborda
O meu pobre coração.

A mãe falou: —minha filha
Como você tem passado
E o meu, netinho, me diga
Está sendo bem cuidado?
—Está sim, mamãe por mim
E também por meu amado.

As três conversaram muito
Elimar disse e papai
Continua carrancudo,
Conceição como ele vai?
—Está bem, não mudou nada,
Racismo dele não sai.

Por alguns meses as três
Puderam se encontrar
Completou-se os nove meses
Para ela poder ganhar
O fruto do seu amor
Com o rapaz, Gilcemar.

Nasceu um menino forte
Muito bonito e moreno
E exclamou Elimar:
Meu pai não ama o pequeno!
Mas, eu sei que este veio
Fermentar este terreno.


Nessa altura conseguiu
O nosso bom Gilcemar
Com ajuda de seu pai
A sua casa comprar
Dona Judite jamais
Parou de lhe visitar.

E lhe dizia: —Elimar
Por mim és muito, amada
Isso deixava a menina
Cada vez mais confortada
Mesmo sabendo que o pai
Tinha ela como nada.

O menino foi crescendo
Obediente e fiel
No lar deles, cada um,
Cumpria bem papel
E todas as atenções,
Convergiam a Daniel.

Que já grandinho certo dia
Para a mamãe perguntou:
—Se à senhora tem pai
Por que nunca me mostrou
O outro avô, se existe,
Quando conhecê-lo vou?

Ela disse: —Daniel
Conhecê-lo um dia vai
Quando meu pai aceitar
Que me casei com seu pai
Cada coisa tem seu tempo,
Quem entrou, um dia sai.


Já contei toda história
E cada jura de amor
Às alegrias e tristezas
O sofrimento e a dor
Deixo tudo isso de lado
Pra falar de Adamastor.

Para tudo que ocorre
Existe uma explicação
Mas, de agora em diante
Foge à minha compreensão
Deixando que cada um
Tire a sua conclusão.

Porque não sei explicar
Se, é ou não é divino
Se existe ou não a sorte
Desde o tempo uterino
Se certa coisa é da gente
Ou procede do destino.

Só sei que Adamastor
Ia andando de cavalo
Em uma estrada deserta
Até com um certo embalo
Sem saber que ao palafrém
Algo ia espantá-lo.

Ele ia galopando
Uma moita balançou
O cavalo nessa hora
Com aquilo se assustou
Tirou de lado, e o velho
Nessa hora derrubou.


À queda foi grandiosa
Que um braço ele quebrou
E uma perna também
Bastante ele machucou
E sem sair do lugar
O velho ali desmaiou.

Ficando exposto assim,
Ao sol muito escaldante
Pra ele saber que Deus
Tudo que faz é brilhante
Este fez que o seu genro
Passasse ali neste instante.

Gilcemar quando avistou
O homem no chão deitado
Aproximou-se um pouco
Ficou bastante assustado
Quando conheceu que era
Adamastor desmaiado.

O pegou ligeiramente
Pra levar ao hospital
O seu sogro que agora
Estava passando mal
A fim de cuidar da perna
E da sua lesão braçal.

Mandou chamar a esposa
E esta veio assustada
Quando soube do ocorrido
Ficou muito preocupada
Chegou, Gilcemar, contou
Como o achou na estrada.


Os dois cuidaram do velho
Com muita dedicação
Aos poucos, devagarinho
Foi tomando reação
Sem saber que seu racismo
Tinha perdido à ação.

Foi ele voltado a si
Abriu o olho e falou:
—Onde eu estou deitado
E por quê aqui estou
Elimar disse: —papai
É que o senhor desmaiou.

E Gilcemar na estrada
Achou o senhor caído
Ele de longe escutava
Oh meu pai, o seu gemido
E pra cá ele te trouxe
Senão teria morrido.

Exclamou: —oh minha filha
Como estou envergonhado
Pois, fui salvo justamente
Por quem odiei no passado
Gilcemar, por Deus, te peço
Perdoe-me pelo pecado.

A você filha querida
Eu também peço perdão
Expulsei você de casa
Por minha convicção
E só reconheço agora
Mediante a aflição.


O meu racismo agora
Para sempre engolirei
Compadre Adenildo disse,
Porém, não acreditei
Meu genro e minha filha
Perdoe-me, porque pequei.

Respondeu: —querido pai
Do perdão fique repleto
Gilcemar também falou:
—Seja agora mais correto
Apóie nosso casamento
E abençoe seu neto.

André seu filho, um racista
Que a índio sempre odiou
Pra pagar a própria língua
Com uma índia casou
Conceição alegremente
Seu enlace confirmou.

O velho Adamastor
De vez em quando dizia:
—Como o crime do racismo
Eu já pratiquei um dia
Vale o caráter de todos
De qualquer uma etnia.

E assim todos ficaram
Em plena felicidade
Desse dia por diante
Começou a amizade
Dentro daquela família
Tinha amor e liberdade.


Tanto André como o pai
Desse dia por diante
Perceberam que a cor
De ninguém é relevante
Aprenderam que o caráter
Esse, sim é importante.

Essa história foi feita
Somente para mostrar
Que racismo ou preconceito
Não devem mais imperar
Que todo mundo é igual
E ninguém deve julgar.

Cada etnia tem
O seu tipo de valor
E deve ser respeitada
Seja a mesma quem for
Seus costumes, tradições
É importante fator.

Afinal temos um Deus
Que nos ama e nos respeita
E por pior que sejamos
Ele sempre nos aceita
Como vamos preterir
Se Deus que é Deus não rejeita?

Nada é pior para um povo
Que uma segregação
Seja por raça ou por cor
Isso é coisa do cão
E quem faz isso terá
Eterna condenação.


Nunca mais a apartheid
Nunca mais à exclusão
Nunca mais ao racismo
Nunca mais à escravidão
Nunca mais à violência
Nunca mais à opressão.

Não foi fácil o que sofreu
A personagem Elimar
Lutando pelo amor
Do querido Gilcemar
Os dois venceram o racismo
Para um exemplo nos dar.

O amor é uma coisa
Que ultrapassa barreira
Vence todos obstáculos
E não respeita fronteira
E quem pensa impedi-lo
Pensa a maior besteira.

Pois, a pessoa quando ama
Não escuta, não quer ver
Mofino fica valente
Sente seu sangue ferver
Mata e morre, por isso,
E sem a nada temer.

Espero que essa história
Ajude alguém meditar
Sobre a questão do racismo
A qual precisa mudar
O mais urgente possível
Pra igualdade reinar.

Autor
Varneci Santos do Nascimento
CONTATO COM O AUTOR: Rua Bráulio Martins, 93 – Santa Terezinha – Cep 58200-000 – Guarabira – Paraíba.
Fone (83) 8822-5820
e-mail: varnecicordel@yahoo.com.br
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