Usina de Letras
Usina de Letras
143 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Chover no molhado -- 14/02/2003 - 18:52 (Luis da Silva Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Chover no molhado




Voltar a dizer que a violência no Brasil está ficando sem controle, ficando crónica em razão da cumplicidade das autoridades, ou que, há pouco mais de duas décadas, ela apresentava números dentro de um padrão aceitável, é algo como chover no molhado. É chover no molhado, sim. Que seja, mas é fato.
E a coisa tem tomado proporções absurdas pelo simples motivo de as autoridades não sentirem na pele os reveses que atingem o ordinário pagador de impostos. Claro. A autoridade constituída, mormente aquela que tem a obrigação de zelar pela segurança dos cidadãos, tem carro blindado, tem segurança móvel, segurança plantada nos seus prédios, nos seus condomínios fechados; a autoridade constituída tem circuito fechado para esclarecer eventuais fatos não percebidos pela segurança humana, para reconhecer pessoas, reconhecer marginais.
Ocorre que a avó de todo o mundo diz, ou já disse, que "quando a bota é larga a gente enfia os dois pés...", enquanto outros completam esse adágio afirmando que "com sapato apertado ninguém sai de casa, se sair não anda e, se andar, volta descalço."
Mas as autoridades, pelo menos até agora, não usavam sapato apertado e, em razão disso, a despeito de, nos momentos oportunos, ensaiarem um arremedo de preocupação, não queriam nem saber se a mula era manca, e rosetavam, e rosetavam...
Vai daí que alguém maldoso troca os sapatos desses caras e, aqui e ali, um ou outro percebe um calo no mindinho, uma bolha no calcanhar, um mal-estar dos diabos. Aí, esperneia e grita. Aí, chia. Mas grita um grito que a sociedade vem gritando, em vão, há tempos.
Todo o santo dia o Brasil perde dos seus filhos pela mão dos marginais que hoje comandam o torrão verde-amarelo. Só que essas perdas não dizem muito porque são pessoas pobres, sem peso, sem importància, que morrem nos sinaleiros, são assaltadas nos sinaleiros, ou têm os seus pertences subtraídos no movimento da rua, ou os seus bens levados por um caminhão parado na porta. Quando isso acontece e o marginal é preso, a Polícia não pode trabalhar. Não pode porque, ainda que lidando com um indivíduo perigoso, a polícia não pode ser perigosa. Ai dela se o for. Se não tratar o sujeito a pão-de-ló estará perdida, o nome achincalhado pela imprensa, pelos órgãos de defesa dos direitos humanos, por gente do governo que vem a público exigir uma apuração profunda a fim de esclarecer o fato e punir o culpado. Não o culpado preso, mas o "culpado" por ter agido com rigor.
Bandido no Brasil não tem medo de nada. Sabe que se a polícia lhe puser as mãos, ele comandará o seu império do mesmo jeito através de celular, advogados e otras cositas más. Sabe que as autoridades lhe virão em auxílio contra os que, no cumprimento do seu dever, o prenderam.
E a bota vai-se alargando, e os dois pés vão entrando nela. E botar os dois pés na bota, naturalmente, não é para ser entendido no sentido literal. Botar os dois pés na bota significa, dentre outras coisas, sequestrar gente forte demais (ainda que não seja autoridade), assassinar um António da Costa Santos em Campinas-SP ou um Celso Daniel em Santo André-SP, ou uma Dorcelina Folador em Mundo Novo-MS. Aí, a coisa pega. e pega porque todos eram prefeitos. E não pega só porque eram prefeitos, mas porque eram importantes o que significa que os marginais estão ampliando a sua clientela.
Assim, alguém precisa dar uma satisfação. Alckmin pede o fim do celulares pré-pagos (sem se preocupar que ele serve à grande maioria dos usuários de telefone móvel no Brasil). Pior, FHC concorda. Será que a tecnologia não consegue avançar para o rastreamento desses aparelhos sem que seja necessário extirpá-los? Mas isto é outra estória.
E o Brasil segue em frente. Vai de vento em popa agora, falando em tomar certas medidas, só porque a coisa está ficando feia demais. O governo federal vem à televisão e concorda com certas propostas de uma maneira tíbia - até gagueja -, que pode convencer a mídia e os seus interesses escusos, mas não convence o povo. Mas não é disso que o país precisa para vencer os marginais. O país precisa é de forças, de desassombro, de liberdade. O país precisa é de uma polícia que desempenhe o seu papel sem medo (e medo aqui, não é medo de bandidos, mas medo da burocracia). Não precisa de mais cadeias, de penitenciárias de segurança máxima, de prisão perpétua; precisa é de covas, de valas. Precisa é mostrar para os marginais que, uma vez detectados ou presos, serão dizimados - e todo o mundo sabe que assassino gosta de matar mas, mais que isto, gosta de viver e, quando é preso, teme ser morto na cadeia.
Ainda que o país não precise de prisão perpétua, até porque a sociedade seria ainda mais penalizada com a manutenção eterna do preso, vem o ministro e diz que isso não pode, que é inconstitucional. Tudo bem. Que não tenha a tal modalidade porque o país não precisa, não por ser inconstitucional porque inconstitucional é o que não está na Constituição.
Afinal, o que é a Constituição no Brasil? Não é uma lei que, quando se quer, é modificada? Por muito menos ela é mexida com uma emenda aqui, outra ali... mas não é o caso, não é pessoal?
Melhor é encerrar este texto com o parágrafo inicial: Voltar a dizer que a violência no Brasil está ficando sem controle, ficando crónica em razão da cumplicidade das autoridades, ou que, há pouco mais de duas décadas, ela apresentava números dentro de um padrão aceitável, é algo como chover no molhado. É chover no molhado, sim. Que seja, mas é fato.



Campo Grande-MS, 23.01.2002 - 12:45
Indalus


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui