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Cronicas-->De calote em calote -- 14/02/2003 - 18:53 (Luis da Silva Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De calote em calote




Certo dia, Fernandinho, almofadinha, meio Maurício, pediu um empréstimo a um amigo seu, da escola:
- Empresta aqui, é por poucos dias.
- Eu não posso - respondeu o outro -, só tenho este e, pra mim, é difícil, cê sabe.
- Mas você nem gasta... - Fernandinho insistiu.
- Não gasto não é porque não quero; é porque não posso gastar...
- É só por uns dias, cara. Devolvo logo, logo.
- E se eu precisar dele qualquer hora dessas?
- Eu já não disse que é só por uns dias?
O amigo relutou; pensou, pensou e concluiu que não tinha importància emprestar o dinheiro. Afinal, receberia logo, logo.
- E se a minha mãe perguntar pelo dinheiro - perguntou ao Fernandinho.
- Cê nem precisa falar nada. Até ela perguntar, eu já paguei.
O carinha emprestou a merrequinha pro Fernandinho. Merrequinha é modo de dizer porque, mesmo sendo pouco, era tudo o que o menino tinha. Ele não queria emprestar mas não teve forças para negar.
Os dias passaram, Fernandinho não falou em pagar. O outro, preocupado, esperava enquanto criava coragem para cobrar.
Um belo dia, lá vem o Fernandinho risonho, faceiro. O credor experimenta um alívio. É hoje, vai receber.
Fernandinho chega, mete a mão no bolso diante do amigo, cada vez mais entusiasmado.
- Preciso do seu dinheiro por mais uns dias - fala.
- Co-como? - balbucia o outro. Pensei...
- Pois é, meu. Sabe o que qui é? Eu gastei a mesada e não deu pra pagar um negócio que eu fiz.
Mesada? O outro nem sabia o que era isso. Parecia alguma coisa a ver com dinheiro. Será que mesada eram aqueles merréisque a sua mãe lhe dava de vez em quando, mais quando que vez?
- E eu preciso do dinheiro, cara. Na verdade, eu não fiz o negócio ainda, mas se eu lhe pagar, não posso fazer o negócio. Eu contei com o seu dinheiro, se eu tiver de devolvê-lo... pela nossa amizade, vai!
E não devolveu o dinheiro. Não devolveu, mas também não fugiu, como muitos fazem quando devem. Fernandinho estava sempre ali, sempre junto.
O tempo passou. O amigo teve muitas dificuldades para lidar com a falta que o empréstimo que liberara à força, lhe fazia. Um dia resolveu cobrar de novo:
- Caramba! - exclamou Fernandinho. Eu não posso pagar agora. Tinha até vindo para pedir que esperasse mais um pouco.
- Mas já faz tanto tempo...
- Pois é, meu, mas eu posso fazer o quê? Se eu entregar o dinheiro agora não posso comprar um CD da hora que acabou de sair. Contei com o seu dinheiro. Se eu tiver de entregá-lo a você... cê num vai me fazer uma desfeita dessas...
O tempo continuou passando. O credor necessitado e nada. Houve mais uma oportunidade de cobrança, mas o dinheiro não saiu. Como se não bastasse, conversa vai, conversa vem, Fernandinho bateu o olho num walkman bem ribimba que o amigo portava.
- Pó, que massa cara! Dexovê. E catou o radinho do rapaz metendo logo os fones nos ouvidos.
Ficaram por ali, e o radinho não tinha jeito de voltar para o seu dono.
Fernandinho dançava no ritmo do som que só ele ouvia. Dança daqui, dança dali e a carteira que ele trazia no bolso do jaleco caiu no chão. Uma nota novinha, o mesmo valor que ele devia ao dono do rádio. O dono do rádio, zás, abaixou-se e pegou a nota.
- Puxa! que beleza!, agora estamos quites, cê não me deve mais nada.
- Que qué isso, cara? Eu preciso ainda do seu dinheiro - Fernandinho falou com raiva.
- Mas ele é meu, não é seu - falou o outro.
- Mas eu preciso dele, contava com ele pra acertar um trampo. Se ficar sem ele, vou tomar um prejuízo. Caramba, eu não posso ficar sem essa verba justo agora.
- Essa, não. Essa é minha - disse o outro, um leve sorriso nos lábios. Até parece que cê quer ficar com o meu dinheiro, que não quer devolvê-lo...
- Tudo bem, já que não vai deixar o dinheiro comigo, vou ter de vender o seu rádio.
O outro, coitado, ficou a ver navios e na bruma desse mar fincou os olhos no Fernandinho. Não sabia se o que via era o da camisa, o do braço na tipóia, ou... saiu triste, chutou um pedaço de jornal que o vento lhe jogou aos pés. De relance, leu uma manchete que falava de CPMF. Mas isso não tem nada a ver...



Campo Grande-MS, 21.03.2002 - 19:04
Indalus


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