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cronicas-->Inversão de valores -- 14/02/2003 - 18:53 (Luis da Silva Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Inversão de valores




A evolução dos costumes no Brasil é, de tal maneira surpreendente, que faz com que as pessoas, mesmo as mais acomodadas, se vejam sem saber em que acreditar, ou em que acreditar.
É certo que o governo deveria fazer o gerenciamento das necessidades da população a fim de manter padrões aceitáveis de vida, ou, no mínimo, padrões aceitáveis de sobrevivência sem que com isso descambasse para o paternalismo, muitas vezes, mal dirigido, como diriam alguns.
Naturalmente, o paternalismo às vezes é necessário, principalmente quando se trata de defender fundamentos básicos da economia como, para ficar em apenas um exemplo, o que diz respeito às exportações. Países ricos fazem isso. Países que, em princípio, nem precisariam ater-se ao procedimento de autoproteção tendo em vista o leque extraordinário de produtos de que dispõem, para consumo próprio e para a venda, bem como da qualidade da sua produção. Mas eles fazem isso, a despeito de pretenderem não permitir que outros o façam, principalmente quando esses outros são países mais pobres.
Mas o Brasil é incapaz de gerenciar os seus negócios. Deixa que, na área externa, nações outras, de muito, venham dirigindo os seus destinos e, internamente, que poderes paralelos, não só açambarquem as suas instituições, como de resto, executem obrigações que, com paternalismo ou sem ele, seriam do governo.
É difícil acreditar que alguma casta dentro de um país possa criar as suas próprias e particulares normas inobstante as normas legais. Mais difícil é conceber que, ainda que essas normas delinquentes sejam criadas, possam ser executadas, tendo em vista que qualquer país tem uma estrutura administrativa capaz de conduzi-lo, sem maiores cuidados, a bom termo dentro das normas do Estado de Direito.
Mas neste nosso país onde tudo é possível, já existem poderes paralelos em toda a parte, das ruas às instituições e dos morros ao asfalto.
No Rio de Janeiro, o poder público já quase não manda; a polícia não age porque não pode agir com liberdade e por isso nem pode subir o morro porque, lá, existe uma força mais poderosa cujo comando não se sujeita aos ditos direitos humanos. Nos morros do Rio de Janeiro as milícias organizadas comandam absolutamente dizendo quem pode entrar ou sair, impedindo a igreja de ministrar os seus sacramentos e usando os seus tetos como barricadas; matando jornalistas, impedindo outros de entrarem no nicho, fechando escolas, ou dizendo a que horas podem abrir.
E o governo, onde aparece nessa história? Na verdade, ele não aparece. E nem precisa porque nesses sítios o poder paralelo do Brasil emprega a rapaziada, paga salário fixo, presta assistência médica e ampara a família, inclusive, até com indenizações em caso de morte. É o seguro do morro. O seguro que o Brasil não paga. O conforto que o Brasil não dá.
E quem é que não quer uma vida dessas? Qualquer um que não tenha perspectiva ou, simplesmente, qualquer um, que muita gente não se importa de correr certos riscos em prol de uma vida melhor, de comida na mesa, de mais pares de tênis, mais roupas de grife.
E assim, os poderes se invertem, os costumes se deturpam, os grupos humanos se encolhem e se trancam. A boa sociedade, definhando, vê o surgimento de uma sociedade do crime forte e robusta que dita normas e faz e acontece.
Mas isto não importa, não deve importar porque se as autoridades não fazem nada - ou não permitem que se faça - é porque deve estar tudo certo. E enquanto a caravana passa e os cães nem ladram, o povo vai chamando urubu de meu louro...



Campo Grande-MS, 24 de junho de 2002 - 14:39
Indalus


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