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Artigos-->Leitura, Livros, Professores... -- 16/06/2002 - 10:12 (Dante Gatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEITURA, LIVROS, PROFESSORES





O que seria importante e necessário dizer sobre leitura? O que devo selecionar para tratar deste instrumento preciso e eficaz de comunicação, neste pequeno artigo? Tentarei ser útil e preciso ao “aqui e agora” da realidade matogrossense. De repente, apesar da proposta, fiquei com sono e uma doce vontade de ler um poema, ou um romance, embarcar num sonho qualquer e não pensar mais nisto.

Na verdade, a leitura é a atividade mais constante das nossas vidas. Estamos lendo a todo momento. Afinal, ela não compreende apenas o signo verbal, isto é, não lemos somente por meio das palavras, e, por vezes, imprescinde, necessariamente, da visão. Leio a possibilidade de chover num olhar para o céu; ou pelo murmúrio do vento e da folhagem, muito antes de abrir os olhos de manhã; ou quando sinto, na pele, a pressão e a temperatura do vento. Cheiros e sabores, também, me dizem muito. As respostas estão por toda a parte, realizado o nosso impulso natural de leitura. Leio o vazio, o silêncio, uma partitura musical. Leio nos olhos dela uma possibilidade, ainda que sua resposta mais explícita assim não confesse. Criamos até uma ciência que envolve a leitura dos signos não verbais, a semiótica. Mas é da leitura do signo verbal que quero falar aqui.

Lemos, registramos, repetimos, inferimos, aprendemos. Isto é um impulso espontâneo que se realiza dentro da nossa condição de seres gregários, e que contextualiza o fenômeno humano: aquela necessidade de procura nossa, de nós mesmos; aquele desejo subjacente de transcendência; aquela índole de criar que nos faz imagem e semelhança de Deus.

Superamos os outros animais e, fundamentalmente, o fizemos porque desenvolvemos um código escrito e fomos, através dos séculos, deixando armazenados os nosso conhecimentos. Fizemos uso, também, desta prática caixinha de informações, cheia de letrinhas que, combinadas uma com as outras, formam palavras (significantes que ultra-rapidamente associamos aos seus respectivos significados), que, por sua vez, se acomodam numa estrutura sintática convencionada, que, finalmente, organizadas em idéias, nos oferece a capacidade de se comunicar e deixar informações importantes sobre nossas descobertas e conhecimentos às gerações futuras. Bem, esta caixinha de informações nos a conhecemos por vários nomes, mas é o livro sua forma mais prática e eficaz.

As escolas vieram antes dos livros? É como aquela coisa do ovo e da galinha. Era preciso formar os jovens para atender aos anseios coletivos e respeitar os valores consagrados. A escola atenderia tal necessidade. Desenvolveram-se recursos, implantaram-se métodos, direcionou-se o impulso para aprender. Não deu outra: a instituição escolar institucionalizou o livro como instrumento fundamental no processo de aprendizagem. Eis, pois, a razão do seu prestígio. Até hoje, com todos os recursos da modernidade (o computador, o vídeo, o cd-room, a internet, etc.), a invenção de Gutenberg, conformada no livro, é cada vez mais valorizada, apesar de – por vezes e por muitos – não ser adequadamente apreciada, apesar de podermos antever outras possibilidades no futuro.

Inventamos, também, a arte. Nada nos escapou na busca desesperada pelo belo: nem o som; nem as matérias; nem as palavras. O livro, também, serviu para guardar a palavra artística com a sua conotação: desdobrando o significante em infinitos significados; proporcionando a ruptura sintática do verso e desintegrando tudo com sua natureza indômita e essencialmente subversiva. A vitória do Ser.

A instituição escolar, é necessário que se diga, em nome daquilo que chama educação, circunscrita a determinados conteúdos e concepções, tornou-se um carrasco do espírito espontâneo de aprender.

A modernidade nos legou a incomunicabilidade. O excesso de informações, num desesperado apelo ao consumo, reduz a comunicação daquilo que nos interessa ao nível zero. Aumentamos o nosso domínio tecnológico na mesma proporção que perdemos nossa consciência da totalidade. O avanço do capitalismo significou, entre outras coisas, a perda da consciência do processo e do produto e fabricou o homem-função: alienado, restrito a uma fase do processo (uma deformação grotesca do Ser), que recebeu como recompensa de tal alienação o poder de consumo. Todos já experimentamos a efemeridade desse lenitivo.

A leitura, o livro, como fica claro nesse processo, e como diria Platão, não se prestou apenas a ser remédio, mas funcionou como um poderoso veneno: que desmotiva, que aliena, que dirige o homem para mais longe de si mesmo, negando a sua condição de criador e o colocando à mercê da máquina consumista que é capaz de corromper uma gerações para vender o seu produto e obter lucros.

E nós professores, o que fazemos? Não há o que fazer a não ser reproduzir esse mal sem cura? Sonhamos e nos consolamos com a utopia da justiça divina? Ou, como diria Drummond na sua contundente elegia, “trabalhamos sem alegria para um mundo caduco”?

Assalta-me, novamente, a idéia de dormir e esquecer tudo isto e depois me distrair com uma idéia paliativa, como sonhar em viajar para uma terra distante e embarcar num idealismo fantástico: deixar meu corpo cansado e minha alma torturada enfim descansar. Enquanto penso nesta utopia maravilhosa, o idealismo que me assalta é bem outro. Continuo, bem sei, a ser agente da história, precisando viver uma prática que implica ideais sem fantasia, com uma concepção crítica da própria ação e que conte com o envolvimento de todos. Afinal, o que somos senão escravos dos nossos próprios erros? O que temos de fazer senão desconstruir aquilo que nós próprios construímos: que se edifica sob nossos olhos e ameaça o nosso chão?

Maravilhoso e paradoxal: a tentativa de fuga pela fantasia, me trouxe mais forte para o compromisso com a realidade. Sonho, desperto, um sonho possível.

O que me parece importante dizer, ainda, sobre leitura, sobre o que vamos fazer dela com nossos alunos: cabe a nós separar remédios e venenos. Apresento uma receita para o sucesso desse projeto. Receita simples, de fácil aplicação, com efeito altamente eficaz, se bem que a longo prazo: a leitura, a nossa leitura. Dizendo de outra forma: nós, professores, precisamos ler. Um questão recorrente e essencial: se isto não for feito com alegria, se a leitura não for prazerosa, e, principalmente, se não encontrarmos condições propícias para tal – superando todos os entraves e contingências – estamos na profissão errada. E aqui se nos descortina os turvos horizontes da luta professoral. Mas isto já é um outro assunto.



Dante Gatto

Prof. da UNEMAT (universidade do Estado de Mato Grosso), Tangará da Serra (MT)

gattod@terra.com.br



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