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Infanto_Juvenil-->A MALDIÇÃO DA ROSA BRANCA - PARTE X -- 12/02/2003 - 17:30 (Angellus Domini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CAPÍTULO X

Algumas semanas se passaram em santa Cecília desde a morte do professor Benedito Ferri. A cidade parecia respirar aliviada. O delegado Guilherme pedira licença de seu cargo alegando doença. O detetive Adelmo estava cuidando das investigações, mas até agora nada. Estava faltando uma peça no quebra cabeça, que ligasse as mortes. Talvez o tal livro. Mas que livro era este?
Sandra disse que Benedito havia lhe ligado na noite do crime e havia deixado um recado na secretária eletrônica pedindo a tradução de um livro em latim, mas que ela voltou quando ele já estava morto, e não sabia que livro era.
Jorge estava com medo e não sai de casa. Conseguiu um atestado médico e ficou uns dias sem aparecer no trabalho. Não teve coragem de contar para a policia que estava com o livro de Benedito. Ele queria saber porque aquele livro despertava tanta curiosidade. Nos dias que esteve em casa, sozinho, aproveitou para tentar traduzir um pouco do livro. Em seus capitulo iniciais narrava a história dos mártires do primeiro século do cristianismo, A partir do meio iniciava-se outro livro, um manual utilizados pelo inquisidores durante a Idade Média:

“Directorium Inquisitorum
C
hamam-se hereges pertinazes e impenitentes aqueles que interpelados pelos juízes, convencidos de erro contra a fé, intimados a confessar e abjurar, mesmo assim não querem aceitar e preferem se agarrar obstinadamente aos seus erros. Estes devem ser entregues ao braço secular para serem executados. Chamam-se hereges penitentes os que, depois de aderirem intelectual e efetivamente à heresia, caíram em si, tiveram piedade de si próprios, ouviram a voz da sabedoria e abjurando dos seus erros e prossedimento, aceitaram as penas aplicadas pelo bispo ou pelo inquisidor. Denominam-se hereges relapsos os que, abjurando da heresia e tornando-se por isso penitentes, reincidem na heresia. Estes, a partir do momento em que a recaída fica plena e claramente estabelecida, são entregues ao braço secular para serem executados, sem novo julgamento. Entretanto, se se arrependem e confessam a fé católica, a Igreja lhes concede os sacramentos da penitência e da Eucaristia. [...]
Jorge continuava a ler o texto, absorto em pensamentos, de como aquele livro podia ter trazido a morte para as três ultimas pessoas que o tocaram. Notou algo estranho, pois em algumas partes do livro, haviam paginas que em uma das linhas estava escrita em uma língua diferente que ele não pode entender de que se tratava:

“VEREDICTOS E SENTENÇAS
Sentença de Absolvição
Directorium Inquisitorum
P
rimeiro tipo de final de processo: o réu, depois de responder a um processo comum, e depois de as opiniões de especialistas serem ouvidas, fica totalmente livre de qualquer crime de heresia. É o caso do réu que não foi indicado como herege nem pela própria confissão nem pelo testemunho dos fatos, nem tampouco pelos legítimos depoimentos das testemunhas e que, além disso, não aparece como suspeito nem apontado do crime
prt sprr, mvl ncntr-s sb
Em casos como este, procede-se da seguinte maneira: o inquisidor ou o bispo (ou ambos, embora não tenham que atuar juntos quando se trata de absolvição) entrega ao réu uma sentença de absolvição com o teor seguinte: "Nós, frei Fulano de Tal, da Ordem dos Pregadores, inquisidor etc.: visto que tu, Fulano de Tal, residente em..., diocese de..., foste alvo de uma acusação de heresia cujo teor é o seguinte (etc.); Visto que tais fatos, apesar da sua natureza, exigiam necessariamente nossa atenção e vigilância; Investigamos tudo de que te acusavam para sabermos a verdade e, por essa razão, recebemos e analisamos testemunhas, concedemos-te a assistência de um defensor, fizemos tudo que era preciso fazer segundo as
sgnd prtlr trv mvmnt rds
Visto que examinamos todo esse material, solicitamos a opinião de juristas e teólogos; Tomando assento no nosso Tribunal, em conformidade com a nossa função de juiz, com o olhar fixo apenas em Deus e interessado apenas na verdade, com os Sagrados Evangelhos diante de nós, a fim de que nosso julgamento emane da face de Deus e para que nossos olhos vejam a verdade, Pronunciamos nossa sentença definitiva da seguinte maneira:
Trcr prtlr br pssgm pr ouro
Invocando o nome de Cristo, Não encontrando - em tudo o que vimos e ouvimos, no que foi proposto nesta causa - nada que tenha legitimimamente provocado por que foste denunciado , dizemos, declaramos e sentenciamos que não há e não houve nada contra ti que possa considerar-te herege ou suspeito de heresia. Eis a razão por que te liberamos, através desta sentença do julgamento inquisitorial...”

se procurares por respoasta nao a encontraras entres as vogais



Jorge parou de ler. Estava cansado, de ler e traduzir. Colocou o livro no criado mudo e só acordou com o toque do telefone. Era Sandra.

- Jorge, você já esta melhor? Preciso que você volte urgente me ajudar. Estamos no meio dos preparativos da festa do aniversário da cidade, e a Ângela me pediu para ajuda-la na organização das solenidades. Parece que este ano vão homenagear o Frei Norbert Schönborn. Vão lhe dar o título de cidadão honorário e preciso de sua ajuda para organizar tudo.
- Bem, se você está tão desesperada e sou tão útil, vou pensar no caso... Claro que vou Sandra, ainda mais pelo Frei Norbert. Pode passar me pegar.

Passaram o dia todo decorando o Anfiteatro Municipal, que seria chamado a partir de agora Centro Cultural Fr. Norbert Shönborn. A cerimônia seria às oito da noite, e eles teriam que deixar tudo pronto. Jorge disse que teria que ir para a casa dispensar a empregada. Sandra disse que ficaria, mas um pouco, para testar o som, e pediu que ele confirmasse na panificadora o lanche para os convidados.
Quando chegou em casa, Jorge dispensou a empregada e ligou para a panificadora. Tomou banho, e discou o telefone:
- Alô, Beatrix, aqui é o Jorge, preciso falar com você sobre o livro do André? ele está comigo!
- Você tem certeza que é mesmo o livro? Como você conseguiu
- Mais ou menos, ele estava com o Benedito. Antes de ele morrer, ele me pediu para entregar para a Sandra, para ela traduzir. Mas ele se esqueceu que eu também estudei em escola de padres e sei latim. É um livro medieval, mais eu sei que ele guarda alguma coisa estranha. Tem umas partes dele que está escrito em uma língua diferente, como se tivesse sido escrito depois. Estou tentando traduzir o máximo que eu puder, mas está complicado. Ele não pode ficar aqui em casa. não é seguro. Quero que ele fique com você.
- Mas Jorge, por que comigo?
- Você pode recoloca-lo no lugar, e podemos continuar as pesquisas na Biblioteca sem que ninguém saiba que ele está conosco.
- Sei não Jorge, todos que colocaram a mão neste livro morreram. Primeiro foi o coitado do André, depois o Benedito. E a Valquiria que estava envolvida com o André também foi. Bem que a dona Ermína falou que ele era maldito.
- Mas Bia, você sempre quis saber o porque o baú era proibido, e só estava aguardando uma oportunidade para abri-lo. Quando você soube que o André tinha feito o que você nunca teve coragem de fazer, você só não contou para a Marina pois queira chantageá-lo para poder ter acesso ao livro. E por uma feliz coincidência este livro vem parar em minhas mãos, e você não quer mais o livro?
- Não é isso. Mas estou com medo. E se descobrem o livro com a gente. Estamos ferrados.
Jorge despediu-se de Bia e saiu para ir à cerimônia. Quando chegou, foi logo recepcionado por Sandra, Ermínia e Ângela que estavam aflitas com a sua demora. Jorge correu para a cozinha para verificar se estava tudo certo com o bufet, verificou depois se o palco estava em ordem, acertou os detalhes de quem seria chamado à mesa, ordens de discurso e homenagem. Seria também o primeiro contato da cidade com sua nova delegada, que veio substituir Guilherme Pádua, a senhora Joana Terezinha Castanho. A cerimônia correu tranqüila e tudo saiu conforme o esperado. Jorge aproveitou o momento de discursos para ir até a cozinha para verificar mais uma vez se tudo estava certo. O livro não lhe saia da cabeça. Ele chega na cozinha e percebe que alguém teve a mesma idéia.
_ Você também não agüentou a falação do pessoal? – Jorge senta-se, vencido pelo cansaço da arrumação – O prefeito desmarcou de ultima hora as outras festas por causa das coisas que aconteceram na cidade nos últimos dias. E pra ajudar este tempo, com este frio todo não a ajudar né. Não tinha clima para festa. Você pega um café para mim também. – Jorge espera alguns momentos, até que chegue seu café, quentinho. – Nossa, como está frio hoje, hein. Você que tem razão em vir de luvas. Eu devia ter pegado minhas luvas também, minhas mãos estão congelando.
Jorge bebe o café e volta para a sala, onde ainda tem tempo de ouvir o final do discurso do prefeito:
_ ... E chegou a nossa cidade, no ano de 1965, onde assumiu como superior do convento e diretor de nossa Faculdade. Muitas obras realizou em favor dos fracos, pobres e oprimidos, de acordo com os ideais de Francisco de Assis. Por isso nossa cidade concede a Frei Norbert Sönborn o título de cidadão honorário e lhe entregamos as chaves da Cidade de Santa Cecília.
Frei Shönborn agradeceu a comunidade e foi muito aplaudido, aproveitou, em seu discurso para tornar publica sua renuncia de superior do convento, e anunciando que retornaria a Alemanha por um tempo. Mas prometeu a todos que voltaria em breve para seu convento em Santa Cecília, onde gostaria de ser enterrado. Alguns vereadores e a professora Ermínia também fizera discurso em homenagem ao Frei, louvando suas qualidades artísticas, pessoais e espirituais. Jorge estava sentado na última fila. Começou a suar e sentir-se mal, como se estivesse sendo sufocado. Seu rosto começou a se contrair, e atingido por convulsões caiu no corredor. Os discursos foram interrompidos e correram para tentar ajuda-lo, mas só tiveram tempo de ouvir suas últimas palavras:
- Meu café foi envenenado, o café...

Jorge Salas estava morto. O médico que estava presente nada pode fazer. A cerimônia foi paralisada, Frei Norbert orou pelo corpo. Mais uma vez a morte atacou um aluno da Faculdade de Santa Cecília.
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