Era uma vez um país velho. Não. Não era a China, nem era comerciante como a Inglaterra. Não tinha a experiência que só os velhos têm, ou... ( Não. Ter, tinha...), nem era a África, com toda a sua extensão, inobstante, continental. Era um país onde a música era de outro país, onde o "status" vinha de outro país e a Língua (pasmem!), que era dele de nascença, mesclara-se tanto que também já era de outro país...
Era velho, não pelo tempo no espaço, mas pelo tempo que eclodia nas suas próprias entranhas. Suas rugas, seus sulcos e pés de galinha não eram pela sua idade pois outros existiam muito mais velhos e que não as tinham... Suas marcas de velhice e seus sintomas eram precoces, trazidos pelo vício que o corrompia, pela miséria forjada nos subsolos das suas noites.
Dizem as más línguas ( ou seriam as boas? ) dos homens adeptos de Dionísio que o vinho traz longevidade... um copinho de manhã em jejum, outro ao deitar-se, e que a sensualidade, refletida na orgia envelhece precocemente, cega, descalcifica, desmoraliza, prejudica, mata... e que outros tipos de bebida são ópios iguais a orgia.
E o país era pobre ( Não. Era rico, muito rico, riquíssimo, só não sabia gerir a sua riqueza, que, alias, até já era de outro país...). Era pobre e bebia cachaça, já não tão pura quanto as primeiras cachaças e a bebida importada ( que dava status ), que bebia, era, não raro, falsificada...
O retrato desse país, por tanta mazela, tanto vício e tanta culpa já superava a decadência do retrato de Dorian Gray ao ser apunhalado.
A moeda desse país sofria vertiginosa tendência a agarrar-se à gravidade, e como a gravidade só puxa pra baixo... ela caiu. Caiu e, não sei como, caiu bem abaixo do nível. Um milagre apocalíptico, diriam uns. Na verdade, é o resultado da alquimia das velhas bruxas, asseveravam outros.
Mas o custo de vida subia, Deus meu, e como! ( Não. Não como porque não posso...)
A gasolina subia. Aliás, atendendo à sua própria condição de gás que impulsiona, movimenta e gera trabalho, só que, na sua ascensão, paradoxalmente, gerava miséria! Como subia! ( Não. Não como porque não tenho dentes para morder...)
E o país que não era a África tinha leão; sem ser a China tinha ratos e comercializava por cima e por baixo do pano. Não que se levantasse o pano para se comercializar por baixo, mas que o mesmo pano, por si só, se levantava e aí... e sobrevivia com os seus ratos e leões... só que os ratos da China são iguarias nos restaurantes, e os daquele país, esses não podem ser comidos para que não se pratique o abominável ato da antropofagia. Indalus
Campo Grande-MS, 17.10.85 - 09:32
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