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Artigos-->As atuais orientações da Literatura Comparada -- 16/06/2002 - 21:49 (Dante Gatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Literatura: as atuais orientações dos estudos comparados



A partir da década de 70, anunciou-se um processo de transformação nos estudos comparados, orientado por questões ligadas à identidade nacional e cultural. Tanto centros hegemônicos, em princípio na América do Norte e na Europa Ocidental, como periféricos participaram deste processo: lá, as minorias organizadas; aqui, a preocupação em analisar as questões literárias a partir do lugar de origem do pesquisador. Este processo foi sustentado por correntes como o desconstrutivismo, a nova história e os chamados estudos culturais e pós coloniais. A transformação propriamente dita consiste, conforme Coutinho (1996, p.67), “na passagem de um discurso coeso e unânime, com forte propensão universalizante, para outro plural e descentrado, situado historicamente, e consciente das diferenças que identificam cada corpus literário envolvido no processo de comparação”.

Na base histórica das preocupações etnocêntricas da crítica empreendida ao comparatismo tradicional, conforme Coutinho (ibid., p.68), afigura-se a pretensão universalizante do cosmopolitismo dos estudos comparados e o discurso de apolitização apregoado pelos remanescentes da Escola Americana. Chegavam, apesar de discursos diferentes, a um denominador comum. O que temos senão uma pseudo-democracia das letras que por meio de um instrumento comum para tratar do fenômeno literário visa uma História Geral da Literatura ou uma poética universal. Isto criou condições propícias para que os comparatistas europeus estendessem a outras literaturas os parâmetros instituídos dentro do cânone literário europeu.

Vamos comentar um pouco mais sobre isto, tomando por suporte a idéia de entre-lugar como faz Silviano Santiago (1978, p.11-19 passim), situando o caso da América Latina. No século XX, temos o neocolonialismo, o estabelecimento gradual, num outro país, de valores rejeitados pela metrópole. É a exportação de objetos fora de uso na sociedade neocolonialista, transformada em centro da sociedade de consumo. O desequilíbrio se torna científico à ordem dos tecnocratas, a inferioridade é controlada pelos manipuladores do poder e do preconceito. O renascimento colonialista engendra uma nova sociedade em que a noção de unidade sofre reviravolta numa contaminação pela mistura sutil do elemento europeu e o autóctone. O caminho, agora, é inverso do percorrido pelo colonos que traziam o desejo de extermínio. Agora assistimos à infatigável sabotagem dos valores culturais e sociais impostos pelos conquistadores. Os conceitos de unidade e pureza perdem o contorno exato do seu significado, seu sinal de superioridade cultural, à medida que o trabalho de contaminação de afirma. Seu lugar no mapa da Civilização Ocidental está no desvio da norma de elementos que os europeus exportam para o Novo Mundo.

A historiografia, a teoria e a crítica foram fundamentadas no processo de formação da Civilização Ocidental. No caso da historiografia, basta lembrar da periodização literária. No caso da teoria, a importação de correntes. O mesmo pode-se dizer da crítica. Desconsiderava-se, pois, os contextos. Portanto, no nosso caso, o cânone ou os cânones reproduziam o olhar europeu (primeiro ibérico, depois francês).

Silviano Santiago (op. cit., passim) condena o método praticado no sistema universitário que reduz os estudos comparados às fontes e influências. A fonte tende a tornar-se uma estrela inatingível e o discurso crítico optará pela inferioridade dos artistas influenciados. O campo magnético, que organiza o espaço da literatura a partir da fonte, revela os considerados influenciados como projetos parasitários. Tal discurso crítico não é diferente do discurso neocolonialista: os dois falam de economias deficitárias. O autor observa a curiosidade desta amor à genealogia em que a verdade de um texto só pode ser divisada pela dívida e pela imitação e rebate com a tirada de Valery: “o leão é feito do carneiro assimilado”. Faz-se necessário um discurso crítico que “esquecerá e negligenciará” a caça as fontes e às influências em favor de um único valor crítico: a diferença.

Temos, hoje, portanto, tomando agora o pensamento de Abdala Júnior (1989, p.18), por um lado, sistemas nacionais engajados que não se “com-formam” à hegemonias coloniais (patterns literários). Por outro, essas produções engajadas chamam-nos a atenção para patterns ideológicos supranacionais. Estes não se reduzem ao tradicionalismo nacional e nem ao cosmopolitismo descaracterizador, mas operam uma síntese que enfatiza o processo comunicativo que estabelecem. Sua razão de ser está, pois, numa nacionalidade construída e não apenas descoberta, uma nacionalidade sem limites fechados.

Lembra, ainda, Coutinho (op. cit., p.72) que os estudos pós-coloniais e culturais, que atacaram o etnocentrismo da disciplina, não encontram resposta quando a pergunta enfoca o cânone. Temos consciência agora que não se trata de uma substituição de modelos: o central pela antítese periférica. O que nos resta fazer é abandonar os paradigmas dicotômicos e explorar a pluralidade de caminhos abertos no contacto colonizador/colonizado.



Referências Bibliográficas



ABDALA JUNIOR, Benjamim. Pressupostos da teoria à prática: um conjunto dialético que envolve a antiga metrópole e suas ex-colônias. In.: ___. Literatura, história e política. São Paulo: Ática, 1989. p.16-42.

COUTINHO, E. F. Literatura comparada, literaturas nacionais e o questionamento do cânone. Revista brasileira de literatura comparada. Rio de Janeiro: ABRALIC, 1996, n.03.

SANTIAGO, S. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: ___. Uma literatura nos trópicos :ensaios sobre dependência cultural. São Paulo: Perspectiva, 1978. p.11-28.



Dante Gatto

Professor da UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso)

gattod@terra.com.br



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