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Contos-->Brasas Molhadas -- 05/09/2003 - 00:14 (Berenaldo Ferreira e Séia Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Conto


Brasas Molhadas

Berenaldo Ferreira

I


Arismar lecionava Geografia há mais de dez anos e seus esforços eram visivelmente notados por todos que lhe cercavam, principalmente seus familiares.
Ela já estava com quarenta e cinco anos e ainda permanecia solteira, porém não mais morava com sua mãe viúva, e mais outros cinco irmãos. Pois, Arismar comprou um apartamento onde passou a morar, sem no entanto, deixar de ajudar sua mãe na ampliação da casa. Este era o maior sonho que ela possuía. Pois, estava aposentada e seu salário conjuntamente à pensão do falecido marido, ainda assim era ínfimo, miserável. Sem a ajuda de Arismar e de seus irmãos, seria impossível concretizar tal desejo.
Um trágico acidente de automóvel fez com que o noivado de cinco anos de Arismar acabasse, pois seu amado ficara em estado de coma, vindo a falecer em seguida. Ela ficou somente com as lembranças e saudades do intenso, caloroso e ofegante amor que tivera.
Ela parecia se preocupar apenas com o seu lado profissional e no frenético desejo em trocar de carro, pois há muito sua velha Brasília azul vinha dando problemas. Ora era a caixa de direção, ora eram os amortecedores que já estavam gastos e corroídos pelo tempo. Arismar ficara com seu estado emocional abalado quando por vez, fundiu o motor da velha Brasília, deixando assim, transparecer todos os problemas que já havia
passado em sua vida, em seu calejado rosto marcado pela cruel ação do tempo.
Neste momento, a professora, cheia de carência afetiva, conheceu em sua escola um professor que chega para devolver-lhe a alegria e o prazer de viver, tratava-se de Afonso. Desde então ele passou a freqüentar, a convite dela, o seu apartamento nos finais de semana, sem deixar o envolvimento sexual que estavam tendo, ser notado dentro do ambiente profissional.
Em sua vida, sexo parecia ser o que faltava, pois com a chegada de Afonso ela ficara radiante e muito feliz; o professor supria todas as necessidades e fantasias sexuais que a carente professora pudesse ter, bem como ele recebia dela todas as formas de carinho e sexo que desejasse. Eram várias formas de sexo: anal, vaginal e oral, fazendo-os em todas as posições que sabiam. Eles topavam qualquer parada em nome do prazer.
Estavam juntos há algumas semanas e mantinham-se discretos, apesar de não terem motivos para isso. Não existia entre eles laço emocional, apenas desejo carnal e sabiam que a qualquer momento tudo se acabaria, como realmente aconteceu.
Com a chegada das férias de final de ano, o relacionamento deles esfriou tanto que já não mais se falavam nem por telefone, passando desta maneira, cada um a viver sua independente e própria vida.
Ao retornar às aulas, no ano seguinte, todos os professores chegaram repletos de novidades. Cada um contava de suas viagens, passeios. Tudo isso acontecia com os mestres tomando vinho quente e comendo queijo provolone, que o professor Japa trouxera de sua viajem da Itália. Trouxera muito queijo, parecendo ser somente este o único produto vindo de lá. E, ainda dizia a todos, com a boca cheia, que gostava muito de queijo.
O professor Afonso, mais reservado, deixou que Arismar contasse suas novidades, sem entretanto, constrangê-la, nem com o olhar. Ela estava muito alegre e seus olhos faiscavam ternura. Enquanto falava, gesticulava sutilmente e seu corpo quase levitava durante sua narrativa.




II

Mário era descrito por ela como se fosse um lorde inglês, desejado por toda mulher. Contava que o rapaz era viril, másculo, atraente, e como já não bastasse, ele ainda era demais carinhoso. Aquele sim, era um verdadeiro homem. Ela deixava claro a todos, que havia encontrado o homem de sua vida e que passaria a viver com ele.
Com o passar dos meses, Arismar notou diferença no comportamento de Mário, sendo que dia após dia ficava distante. Não era mais carinhoso e seu romance ia parecendo cada vez mais, brasas molhadas pela fria chuva de primavera.
Ela não mais via as borboletas voando ao seu redor, nem tão pouco as pétalas vermelhas e roxas que desabrochavam das rosas e orquídeas no campo. Arismar agora estava entre o tenebroso pranto de dor e os piores suspiros lamentantes dos enfermos, sem amor, em um solitário, abandonado leito.
Seu amante era drogado e alcoólatra, quase irrecuperável. Contudo, ela demonstrava ter o caráter que muitos não conseguiam tê-lo ou despertado dentro de si, diante dos piores momentos em que um ser humano é forçado a enfrentá-los, assim Arismar não o abandonou. Enfrentou toda aquela difícil situação mesmo sabendo que correria o risco de comprometer seu profundo sentimento por ele.
Agindo com espontaneidade e sem nenhum receio de arrependimento do que estava fazendo, ela ainda faria tudo para recuperá-lo, mesmo que no futuro ele pudesse vir a abandoná-la. Assim, Arismar partiu para aquela temida e cruel jornada de ajuda a Mário que era apenas uma pessoa que precisava de socorro, já que há muito tempo a família dele o ignorava, pois não suportava sua insociável maneira de viver.
Passaram-se poucos meses mas para Arismar era como se fossem anos, pois ela levava Mário ao médico e ao psiquiatra semanalmente, e tinha que administrar os medicamentos com horários pré-estabelecidos.
Meses após meses, ela, já cansada, não perdia as esperanças de vê-lo reintegrado ao convívio social. Entretanto, seu relacionamento sexual e amoroso deixou de existir para com Mário. Mais uma vez ela estava condenada à terrível solidão de suas lembranças e pensamentos. Já não existia o fogo ardente das paixões que exalava de seus poros.
O sentimento que Arismar passou a ter, era assim como mãe tem por filho. Contudo, Mário não concordava com esse amor matriarcal que ela passou a oferecer-lhe. Ele a queria mulher e era incocebível que fosse tratado daquela forma pueril. Na verdade, o que ela queria dele era somente respeito. Sexo deixou de ter sentido entre eles.
Logo pela manhã, poucos dias após aquela enfadonha conversa Mário partiu, deixando apenas um pequeno bilhete onde dizia não mais suportar a angustiante situação em que se encontrava, e que talvez um dia, desse notícias.
Mário foi tocar e cantar em uma casa noturna em troca de moradia. Lá, conheceu Flávia, cliente assídua daquele local. Apaixonaram-se e poucos meses depois, o casamento já estava marcado. Ele, demonstrando toda sua gratidão a Arismar, convidou-a para ser madrinha.
Sem entender muito bem, ainda vacilante, resolveu aceitar aquele irônico pedido.
O jovem casal causava inveja aos que lhe cercavam; dado o carinho, a atenção e o amor que demonstravam ter um pelo outro.
Vários meses depois, Arismar, assistindo a um noticiário de televisão, vê aquela estarrecedora e comovente história do homem que, sem nenhum motivo aparente, estrangulara sua mulher, e em seguida se matara com uma corda no pescoço. Tratava-se de Mário.


17/09/1999






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