Tiroteio na Loja de Brinquedo
Eu fazia um bico de fim de ano na loja de brinquedos. Trabalho temporário. A loja ficava na Avenida Presidente Kennedy, onde hoje fica o cinema Santa Rosa. Tinha como vizinhança a prestigiosa Lojas Ducal, que era quem vestia os homens elegantes à época.
Nilton,o gerente, tinha altura mediana, moreno, cabelos lisos e uma característica peculiar:era seu jeito singular de estar sempre com a cabeça inclinada para o lado, inclusive quando andava. Gente muito boa.
A bem da verdade eram três lojas, intercaladas: uma vendia produtos de umbanda e outros sincretismos em geral; outra vendia armamentos e fogos de artifícios; e a terceira era a alegria das crianças no Natal. Eu, por ser muito jovem,passava a maior parte do tempo vendendo brinquedos, o que não me impedia de vender revólveres e munições. E muito menos de socar pólvora em cabeças de nego no depósito que havia nos fundos da loja.
Naquele final de ano, eu não lembro se havia inflação ou se a mesma era baixa ou alta, mas a loja estava vendendo muito bem. Ela estava sempre cheia. Alguns brinquedos, como os velocípedes, que ficavam na porta da loja, eram amarrados uns aos outros para dificultar a atuação dos amigos do alheio.
Num dia de pouco movimento, um homem segurou um velocípede e tentou levá-lo. O Nilton viu e foi tirar satisfação quando começou um bate-boca entre eles. Num dado momento, o homem atravessa a avenida e vai a uma loja, também de armamentos e compra uma pistola e munições, voltando em seguida. Já na calçada, enlouquecido, começa a atirar em cima do gerente. Correu gente para todos os lados. Escondido atrás do balcão, eu só via o Nilton trocando tiros com ele.
Outro dia, no forró da Praça Humaitá , o encontrei com sua esposa. Ele ostentando os cabelos grisalhos, mantinha a cabeça levemente inclinada, como sempre. Grande Nilton!
|
