A cegueira de ver e não ter vontade de ver. De espirar de um jeito assim folgado, meio leso. De quando andar por aí estar sempre em letargia, mas sem deixar de estar em alerta para os ladrões do acaso. Eles querem roubar o silêncio infértil. Infértil?
Faz um barulho esquisito aqui dentro, como se tudo fosse uma imensa onda do mar, contínua, infinita. Não há peixes. Quero apenas o azul do céu se confundindo com o do mar, sem horizonte que os separe, sem linha, sem divisória. As obrigações sociais não me divertem...Os limites não me atraem, me deixam atônita porque não os consigo enxergar, sutis, invisíveis demais. As possibilidades de evoluir, de ser capaz de sobreviver à água poluída do canal como sobrevivem os meninos mulatos após banharem-se na piscina imunda...E se reerguer como se nunca tivessem existido feridas, imaculada e desejada. Pura e virginal.
Uma ausência que até os ermitões hoje em dia desejam conseguir, a nulidade de ser, o não-esquecimento porque não existe do quê.
Cavando a areia ensopada com os pés me liberto das raízes imaginárias e me sinto de fato presa à terra, e me sinto forte para me desamarrar embora não o queira fazer para não me desvencilhar e me emaranhar novamente nas minhas correntes invisíveis.
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