Não mais me reconheço como único
Quando na minha vida você passou a fazer parte.
Minha alcunha, a mim não mais me pertence
Divides igualmente em sua identidade.
Com você, foi embora minha intimidade
O leito, que antes era só meu,
Que bom! ocupas a outra metade.
As decisões já não me cabem,
Meus sonhos são com você compartilhados
Meus hábitos foram reformulados
E em meu cotidiano, você nunca está ausente.
Nada mais somente a mim compete
Nem o tempo, que hoje com você divido
Não tenho mais pleno domínio.
Deixas-me solto, alforriado
Todavia, inteiramente escravizado.
E o alvedrio que antes eu conhecia
Não quero que volte jamais.
É um consumo generoso,
Que me esvazia me preenchendo
Que me penitencia me acolhendo.
Às vezes, vivendo dessa forma,
Sinto-me inteiramente sufocado
Contudo, tão grande é o paradoxo
Que sem teu ar, morro asfixiado.
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