Quando criança, passava horas encantada
olhando as bolhas de sabão, translúcidas, coloridas,
a voarem, de maneira louca, desordenada,
mas nem por isso, também serenas, tranqüilas,
em direção ao céu, levadas pela força do vento
e por sua natural e inerente leveza.
E cada qual, em seu preciso momento,
se desfazia em nada, deixando apenas a beleza
de terem existido diante do meu olhar
que, entre extático e surpreso,
as seguia, num contínuo deslumbrar.
Já longe da minha infância, nem por isso menos criança
ainda vejo as mesmas bolhas que se formam dia a dia,
na forma das coisas de minha vida,
tristezas, alegrias, preocupações, esperança...
Tanto quanto aquelas da minha meninice,
estas bolhas se desfazem com o tempo que passa,
e ainda deixam, como aquelas, seus sinais de beleza,
marcas indeléveis na pele da alma, que já não tão inocente,
tenta reter as bolhas consigo, com presteza,
sem perceber que sua beleza não está nelas mesmas,
mas na presença que tiveram e na lembrança que deixaram.
A alma, já sem a inocência infantil, não vê, não percebe,
a sutileza da mensagem contida no existir e deixar-se ir.
Custa muito e leva tempo para que, adultos, percebamos
que o que nos toca de fato, o que nos transforma,
não é o fato, a existência das coisas ou dos seres que amamos:
o que nos faz outros é na verdade, o momento em que a forma,
da bolha, das coisas, das pessoas, dos momentos fugazes,
já desfeitos, já distantes, deixam em nós sua marca, suas cores,
sua lembrança bem marcada, aquilo de que fomos capazes
de viver, olhar, aprender, sentir e que nos deram outras asas,
antes inexistentes, para alçar vôos mais altos,
acima das bolhas já desfeitas.
Ainda me extasiam as bolhas de sabão.
Ainda as vejo nas pessoas que fazem diferença
em seu passar, mesmo silencioso, por minha vida.
Ainda vôo nas asas da bolha de sabão,
na transparência de suas cores,
busco minha própria transparência,
asas para meus vôos internos ,
para além das minhas dores.
Ainda me encanta ver a leveza
com que as bolhas se desfazem no ar.
Tento aprender com elas minha própria leveza,
entender sua mensagem de que é preciso estar leve
para ser capaz de continuar
mesmo quando a bolha insiste em estourar.
Ainda me encantam as bolhas de sabão.
Ainda há uma criança em meu olhar,
que permanece, ainda que sem razão,
extasiada, em alegria pueril a admirar
as bolhas que vêm e vão.
E uma mulher tentando aprender
com as bolhas de sabão... |