Diariamente percorro o mesmo caminho
que leva à escola de meu filho.
Diária e invariavelmente, aquele diabinho
me vem com o mesmo estribilho:
"Manhê, porque é que tem que ter nesta esquina
essa encrenca de semáforo com três tempos?"
Lá vou eu, no papel que é das mães a sina
dizer que não é encrenca nem tormento.
"Meu filho, é questão de segurança.
Os sinais são necessários, instrumentos
pra mostrar quem pára e quem avança"
Pronto. Resposta dada, problema resolvido.
Nada. Ele continua, na sua lógica própria da idade
achando que aquilo é uma encrenca,
que atrapalha, atrasa seu ritmo, sua velocidade.
De tanto responder a mesma coisa todo dia,
sem querer faço logo minha própria analogia.
Fazemos a vida toda o mesmo caminho
que nos leva Deus sabe pra que lugar,
seguindo aqui e ali os sinais de trânsito
que a vida, as pessoas, o sistema e sei lá mais quem
se encarregam de nos dar.
Interessante é ver
que sendo mesmos os caminhos
ainda não os sabemos.;
que sendo muitos os sinais,
nem sempre os compreendemos.
Pior ainda é concluir
que ainda que conheçamos a estrada,
ficamos sem saber por onde ir
se damos numa encruzilhada
sem nenhuma seta indicativa,
sem nenhum sinal de preferencial,
nenhum semáforo, nem de três tempos
- quem dera, três tempos seria uma benção!
Sem mapa, sem bússola, nenhum instrumento,
manual de navegação.
Encruzilhar-se completamente só,
ninguém pra dizer por onde ir,
ou ainda, o que é pior,
dezenas de auto-nomeados guias
que mal conhecem suas vias,
mas cheios de palpites "certeiros"
e lá se vai nossa pobre alma
se quebrar de cara no primeiro canteiro.
Encruzilhar-se completamente nu,
com a alma totalmente pelada,
a mente inteiramente fragmentada
pela falta dos famosos sinais
que aprendemos tolamente seguir.
Encruzilha-se. Todos os dias.
Todas as horas. Todos os momentos.
E não há mapa. Nem guia. Nem sinal de três tempos. |