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Cronicas-->UMA RUA CHAMADA 46 -- 06/08/2000 - 00:21 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UMA RUA CHAMADA 46

Não eram muitos os brasileiros que por ali circulavam há duas décadas atrás. Um escritório ali, um negócio aqui, um sonoro aló e um tchau, e aos poucos foi-se escutando o idioma melodioso da Pátria Mãe em pleno território americano. O tempo foi passando e por ali também foi passando mais e mais brasileiros: se encontrando, resolvendo negócios, trocando notícias, trabalhando, contando a última piada da terrinha, ou mesmo discutindo e tentando solucionar os problemas político-económicos à distància... Não só homens e mulheres de negócios, trabalhadores e visitantes, como também gente que por aqui chegava sem conhecer nada e ninguém, fizeram daquela quadra o seu ponto de partida para depois se soltar por Manhattan, Nova Iorque e o resto da América.

Uma vez fui ver a festa de 7 de Setembro de lá. Mal atravessei a Broadway e caminhei em direção da Quinta Avenida, tropecei com três músicos puxando um sambinha de fazer a gente remexer as cadeiras e arrastar os pés no ritmo quente bem brasileiro. Era verão! Não existiu melhor maneira para eu me integrar ao clima de festa. Milhares de brasileiros e brasilianistas estavam juntos celebrando e comemorando a passagem do dia da
Independência. Dava orgulho ver ao longe desfraldada uma bandeira gigante verde e amarela, e outras tantas pequenas misturadas com bandeirinhas americanas. Assim me diluí no bloco e me imbuí da brasilidade que exalava dentre os arranha-céus nova-iorquinos.

Cheiro de empadinhas, de frituras de pastéis e de bolinhos de bacalhau ou camarão. Coxinha de galinha. Ah! Caipirinha feita com cachaça da boa.
Sede de final de verão acalmada com um guaraná gelado ou uma "loira" super-gelada. Moças vestidas de baianas. Gente bonita. Gente jovem pra chuchu. Não dava pra deixar o pescoço quieto. Sons de cuíca, de berimbau e de pandeiros. Vozes familiares, caras e cores conhecidas, aroma da terra de lá trazido e largado no meio do concreto e do asfalto. Como um toque de mágica, espalhado no ar. Verdes e amarelos espalhafatosos
estampados em roupas, camisetas e panos.

Muitas vezes fui lá naquela rua torcer pela Seleção Brasileira e até entrei no samba com a conquista do Tetra. Emoção pura. Muito samba, suor e cerveja, como diz o poeta lá da Bahia. Lembro de uma vez, quando Lulu Santos sacudiu uma multidão ali mesmo, fazendo todo mundo cantar o Hino
Nacional sem acordes de guitarra nem
acompanhamento algum. Foi tudo emoção à flor da pele. Não dava pra resistir... chorei. O espírito de um povo foi assim sacramentado e manifestado sem fronteiras.

Outros tempos passaram, tantas festas rolaram e artistas, intelectuais, poetas, políticos, gente comum e humilde dali fizeram seu ponto de
referência. Assim nasceu com todo o vigor a Little Brazil - um quarteirão da Rua 46, entre a Quinta Avenida e a Avenida das Américas (que corresponde
a Sexta Avenida) - um pedacinho do Brasil na América.

Voltei por lá outras e outras vezes. Volto sempre. Vou buscar o jornal, remeter dinheiro para família, comprar a passagem de avião, rever os amigos, tomar um bom cafezinho, comer o bolinho de carne com tempero nosso, ver as pessoas, ou, simplesmente, vou só por ir, para sentir o cheirinho brasileiro guardado no coração de Nova Iorque.


© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
(in Jornal The Brasilians
New York/NY - Setembro 1995)
http://tanajura.cjb.net


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