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cronicas-->Êta neguinha fulera! -- 19/02/2003 - 22:18 (Adilson do Rosário Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ÊTA NEGUINHA FULERA!!!
Amile era morena bonita. Com seus olhos verdes, cabelos longos tingidos, podemos dizer que era mais que bonita. Era linda. Mulher de congestionar o trànsito e causar engarrafamento. Em seus vinte anos incompletos, fazia tudo o que uma menina de sua idade podia fazer. E algumas coisas a mais ...
Gostava do Amado Batista - o artista era seu ídolo. Vivia o dia inteiro cantarolando música do cantor. Quando entrava na pista do "Princesinha" - Amile também gostava de dançar - todos paravam para vê-la sacudir aquela bunda grande e saliente, presa naquela microsaia preta, que mostrava a calcinha amarela, sua cor preferida. Nesse momento, e naquela penumbra, ninguém dava valor ao colo queimado, seios pequenos e perfumados da guria.
Se a música fosse do Amado Batista, então, nem pensar. Ela fechava os olhos, cantava junto e rodopiava apaixonada, quase levitando. Um amor de pessoa.
Nunca entendi como ela póde se apaixonar pelo seu namorado (o último, de tantos) - o Xará. Diziam que ela tinha uns casinhos por fora, mas acabava sempre nos braços do Xará, velho de guerra, com quem `cheirava´, fazia sexo e dormia. Contaram que já fizera três abortos, o primeiro aos treze. Era fulera a neguinha. Chamá-la de fulera não é, na realidade, desmerecê-la. Os negros chamavam as negrinhas bonitas de "flor" ou "fuló", na linguagem de Jorge de Lima, termo que mais tarde se corrompeu e deu "fulero" ou "fulera". Amile era realmente uma menina-flor. Quem sabe com alguma conotação negativa. Mas qual a bela flor que não tem espinhos?
Xará era um negro forte, alto e vagabundo. Bonito também. Meu amigo. Gostava de briga. Bom nisso. Quando me via triste já perguntava: quem foi?, na ànsia de distribuir o cacete a três por quatro. Nos encontrávamos de vez em quando por culpa de ofício. Eu sabia que ele andava metido no tráfico. Mas comigo ele era bom. Certa vez, bebemos trinta e duas cervejas juntos. Quase morri (e olhe que eu só enganava, nunca fui um bom bebedor). Naquela noite, `cheirei´ uma vez com ele e passei mal. Contam que esse fulero não sabia o que fazer pra me ajudar. Nunca mais me ofereceu nada. Nossa amizade só aumentou a partir daí.
Eu gostava daqueles dois. Davam duro. Ambos estudaram: chegaram ao segundo grau, de onde eu já conhecia o Xará. Xará procurou emprego, só conseguiu o de pedreiro. Não que o emprego fosse ruim. Porém, ele sentia que podia mais. Lutou, lutou e nada encontrou de melhor. Alguém lhe deu uma desculpa, quando fez o teste no banco: era negro. Amile, por sua vez, e na sua negrice, não conseguiu nada melhor que a prostituição. Coisas da vida.
Uns dois anos passaram. Semana passada encontrei com os dois novamente, ela com um negrinho no colo. Me bateu a saudade. Convidei os três pra almoçar. Continuam bonitos e fortes. Apaixonados de dar inveja. Amor bandido desses dois. Até melhoraram de vida (se é que se pode dizer que alguém melhora de vida nesse país dos tempos atuais). Ela deixou a vida `dura´. Ele no tráfico. Ainda. Porque ganha mais e não consegue arrumar emprego digno de seu potencial. Continuam negros.
E você ainda me vem com a conversa fiada de que não existe racismo nesse país??

Adilson Toledo
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