Há, em mim, neste momento,
bem como em outros vários
uma tristeza, um tormento,
dor tão grande, sentimento,
que não cabe em dicionários...
É uma tristeza que nasce
e cresce, dia após dia
de notar em tua face
tão grande melancolia.
No teu olhar se mistura
uma tristeza assim sombria
com a alegria mais pura.
Tristeza de amar intensamente
sem que com a mesma intensidade
um outro amor tão ardente,
e que seja, igualmente,
um mar de cumplicidade.
Teu amor tão forte e pleno
transborda no teu olhar.
Amor às vezes sereno,
mais das vezes, um eterno angustiar.
A minha tristeza é outra,
bem diferente da sua:
não é que não saiba amar,
é que não sei mais como ser tua.
Meu amor já foi, um dia,
transbordante como o teu.
Já foi um vulcão onde um dia
o nosso amor se acendeu.
Já te amei enlouquecida,
com sonhos, em prosa e poesia.
Hoje é brasa adormecida,
que vive do dia-a-dia.
Minha tristeza aumenta
porque vejo que tu sabes,
e quando não – inventas
como amar daquele jeito:
forte, carnal, intenso
para o qual, parece, perdi o jeito.
Amas com força, intensidade,
enquanto eu, pelo jeito,
de amar perdi a vontade.
Não digo eu a verdade
se digo que por ti não tenho amor,
é que o meu amar agora é saudade
daquele nosso outro amor.
Teu amar é fogo constante,
transparente em teu olhar,
expresso na tua carne
que busca na minha se expressar.
O meu amor – parece –
não tem mais carne, padece
de alguma doença atroz
que embora exista na alma
cala do corpo a voz.
Não há razões para o amor,
também não há para amar,
o que para alguns é amor,
a outros não servirá.
Cresce a minha tristeza,
em perceber que teu olhar
busca no meu uma certeza
que possa te alimentar.
Do amor já nada entendo:
o que pensava entender,
virou poeira no vento.
Desaprendi o que tinha
guardado a esse respeito.
Estou aprendendo, linha a linha,
a amar, ainda que de outro jeito.
Termino esse poema,
que aos poucos vira novela,
com as letras de outra pena,
do Carlos, que coisa bela:
“Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.”
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