Há dias acordo me dizendo
que não deveria escrever.
Não é boa idéia, entendo,
quando se está a sofrer.
Mas minhas mãos são teimosas,
muito mal acostumadas,
seguem sem permissão, ansiosas,
e põem no papel as palavras.
Palavras que sei, eu preciso,
são minhas fiéis escudeiras,
palavras amigas, às vezes lhes falta ciso,
mas sempre tão verdadeiras.
E as palavras se derramam
nas lágrimas que rolam por dentro,
que se derramam dos olhos,
que marcam cada momento.
Nestes dias, cada minuto,
cada segundo, pra mim é eternidade,
o tempo, inimigo astuto,
se demora de acordo com sua própria vontade.
E assim a alegria voa,
enquanto os dias de dor são longos,
passa-se assim meio à toa,
pendurados nos escombros.
Eu sei. Não deveria escrever
o que eu mesma vou ter que ler.
Mas é algo incontrolável
que vem de dentro da gente,
uma coisa inevitável
que jorra feito corrente
de água de chuva, enxurrada,
que leva tudo à frente,
e passa deixando nada.
Eu sei que não devia.
Mas já fiz, já está aí.
Não queria que sentissem
toda a dor que senti.
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