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Artigos-->Conde D Eu: Herói assassino -- 22/06/2002 - 13:19 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A reportagem sobre a Guerra do Paraguai, elaborada com a presença dos repórteres nos locais dos conflitos e entrevistas com as pessoas que atualmente habitam esses lugares, teve como resultado, um interessante trabalho jornalístico e elucidativo da nossa história.

Os protagonistas dessa epopéia histórica, ocorrida há mais de 130 anos, são nossos velhos conhecidos. Nomes de ruas, avenidas, cidades, colégios e uma gama enorme de heróicas homenagens. Entretanto, a reportagem nos mostrou que os soldados combatentes eram seres humanos com suas fraquezas, conflitos pessoais, valentes, covardes e até heróis. Em algumas passagens ficou nítida que essas eminentes figuras, hoje homenageadas pela historiografia oficial, não eram tão ilustres assim. Eram sim, bandidos e covardes assassinos.

Será que os nossos guerreiros, expostos nos livros, em atitudes heróicas e com o peito cheio de medalhas e que as crianças brasileiras aprendem como homens honrados, são os mesmos heróis das crianças paraguaias?

A Guerra do Paraguai, o mais trágico e sangrento conflito da América, ocorrido no século XIX, ainda sucinta algumas indagações sobre os mitos que a história, contada pelos vencedores, produziu e os bancos escolares reproduziram.

Se olharmos a Guerra do Paraguai e seus valorosos combatentes, veremos que os nossos heróicos soldados e carismáticos generais, não têm essa mesma fama no Paraguai. Se formos mais a fundo, veremos que atitudes covardes foram protagonizadas de ambos os lados. Afinal de contas, guerra é guerra. Até porque em uma batalha em que combatem vinte mil homens e dura cinco horas, não é uma batalha, é um salve-se quem puder.

As pessoas que vivem nos lugares onde se realizaram os conflitos, convivem com os ecos do passado. Sons que jamais foram esquecidos. A Grande Guerra, como é chamada no Paraguai, está encrostada nas mentes das pessoas. Em dia de tempestade ouvem cornetas, tambores, tiros e tinidos de adagas. São os fantasmas da guerra rondando as regiões das batalhas.

A batalha de Cerro Corá, pôs fim a sangrenta guerra com a derrocada de Solano Lopes. Solano tentou refugiar-se próximo a um arroio, recusando render-se, foi alvejado e morto por um soldado brasileiro, com um tiro à queima-roupa, o mesmo ocorreu com Juanito, seu filho de 15 anos. Em Cerro Corá a Tríplice Aliança sacramentou a vitória. O lugar em que Solano foi morto, hoje, é um parque ecológico em que são homenageados, com estátuas de bronze pintadas de branco, os últimos combatentes paraguaios.

Na derradeira batalha o exército paraguaio era formado, em sua maioria, por crianças, velhos e inválidos, portavam fuzis de madeira para criar a ilusão que suas tropas tinham maior poder de fogo. Em Acosta Ñu combateram quinze mil homens da Tríplice Aliança, do outro lado, seis mil soldados paraguaios a maioria descalços e “fortemente armados” com armas de pau. Ao término do confronto, o chefe do combate pelo lado brasileiro, mandou atear fogo no capim seco e as labaredas queimaram mortos e vivos.

O nome do chefe? Conde D’Eu.

Fiquei estarrecido quando li, nas páginas do jornal, o nome do conde brasileiro. O herói das aulas de história era o mandante e responsável pela morte de crianças paraguaias na Grande Guerra. E pior, eu tinha morado em uma rua com o nome do conde. Quantas cartas de amor escrevi, com o Conde D’Eu acompanhando meu nome no remetente. Um título que a nobreza ofertou a um assassino de idosos e infanticida. Entre aturdido e afoito fui pesquisar os nomes das ruas que moro atualmente. Moro em uma esquina, uma delas presta homenagem a um engenheiro civil, responsável pelo cálculo estrutural dos primeiros edifícios construídos na cidade. O outro logradouro homenageia um próspero comerciante, que se estabeleceu no município em meados do século passado.

Nenhum deles com títulos pomposos de nobreza e não consta em seus currículos grandes serviços prestados a nação. Simplesmente honrados e trabalhadores cidadãos. Descansam em paz sob as lápides de suas sepulturas e não estão atormentados com os ecos do passados: tiros, tropéis, tambores e choros e súplicas de crianças paraguaias.



Fonte: Jornal Zero Hora

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