Ser poeta é saber
seguir a seta
a cada curva
a cada reta
Ser poeta é saber
ser real e virtual
mesmo na formalidade
lutar pela liberdade
Ser poeta é saber
envergar a vara
em todas as curvaturas
e pintar o belo em gravuras
Ser poeta é saber
ser mago e bruxo
no lixo e no luxo
comer e beber
poesia sem apagar a tocha
é fincar-se no solo rocha
Ser poeta é conhecer
as linhas das mãos
dos personagens
mesmo nos poemas sem imagem
Ser poeta é conhecer
a música e melodia
sem saber a letra
é o guiar-se a esmo
no rimar do verso
cantar a estrofe
mesmo sem mote
visualizando graficamente o som...
Ser poeta é conhecer
o íntimo de um ser desconhecido
que é o seu próprio oculto
é o iluminar de outro ser culto
Ser poeta é saber
polir as palavras
na razão ou emoção
o parnaso coração
simbolista romântico
a cada poema
a cada cântico
ser esse ser tântrico
um mago das letras
heróico e sáfico
safado e erótico
regular e irregular
requintado e vulgar
interno e externo
inicial e final
toante e consoante
visual e concreto
aberto e fechado
branco e arrimado
monossilábico e alexandrino
apenas um poeta menino
que subverte à ordem
com odes de amor
cruel anjo guerreiro
anarquista graças ao eu-lírico
poesia de penico
maternal umbigo
terrorista ao avesso
sem medo de ser feliz
mesmo nas utopias
irreverente ser que cria
e que tem a visão crítica
que não aceita qualquer política
ser do meio-finalista
agnóstico ou ateu
cristão ou sacro
hétero, homo ou bissexual
ninguém neste mundo é igual
nem os versos terão as mesmas sílabas métricas
pois para o Grande Poeta não existem regras
sossega a caneta ou o dedal
poeta deste mundo virtual
que flutua nas estrelas
em cores de vivas vermelhas
assando o conhecimento tácito
em calorosas grelhas
esculpindo sonhos
que se esvaem-se em fumaças
líquidos servidos em taças
sangue e corpo se misturam em almas
no silêncio das tristes palavras calmas
calo-me por hoje
para homenagear os Poetas
do ontem e do amanhã
mesmo abrindo a mão
seguro a varinha de condão.