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Poesias-->CÂNTICO EM LOUVOR DE EROS -- 15/05/2004 - 15:39 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CÂNTICO EM LOUVOR DE EROS

para DEISE MARIA AGUIAR



Tomo I



Observo impassível palavra-argila.

Imponho-lhe as mãos,

Dedos – tentáculo.

Devagar, frígido, o projeto

Rende-se ao toque mágico

Na sala branca, sob fresta

De luz na janela despida.

Plano geral, o avental esmaece

N’água fria do balde

De cacimba extinta

Desde a infância.

Vaso metálico, construído antanho

A ferro e fogo, estanho,

Ao coro da lembrança

Do medo de dormir

Sem luz de candeeiro.

Câmera lenta, lúcida perscruta

O rito endiabrado

Das esperas.

A lente embaça ritmo crescente

Co’as mãos dissolve a massa

Envolvente, argilosa façanha

De escultor.

Planeja amiúde palavra esqueleto

Ossos, cartilagem e fluxo sanguíneo

À ordem desses deuses de penumbra

Distância.



No lado exterior à cena,

Canoro pássaro ronda seu canto

A descobrir qual passeriforme

Girando colibri, sábia inocência.

E mãos vêm e vão,

Contínuo e rítmico desejo enformador

De léxico-sintático,

Sem sopro fazedor de coisas,

Rés de chãos.

Argila, argila, irmã sombria

Gélida influência do meu dia,

Ínclita mensagem diuturna.

Companheira insistente, profundeza

Em eras, priscas eras abissais.

Que sentes tu, argila fria, fato,

No frigir de “n”

Tentativas?

Quão inóspito sou, teu dominante

Monarca inspirador desse desplante?



Insonora segues taciturna

Passiva, flexível, negligente

Sem se dar conta que à luz

Dás meu verbo, verso incitante

Austera melodia.

Criatura de medos

Densos, cruciais, aleivosia.

Para julgar-te, pois, quem sou

Que penso, que desejas mais

De mim, massagista infenso?



Repassar ao largo, vicissitude,

Em pratos e prantos limpos,

Dizimar honrosa e iminente

Covardia, pé-atrás, alegorias

De velhos/novos carnavais...

Repaginar consciência,

Dela dependerei absorto, enquanto

Assisto ao jornal das 10,

Extrema fantasia de me ver

Informado, mais, bem mais

Do que espraiar, umedecer e

Incentivar tua presença ignota

Em massa falida, permitida





Acolhe-me em teu regaço,

Despedaça-me em teu ermo desejo

Nos destroços de tua desarmonia.

Serei o que sou. Não existe deserto...

Senão o frio desertar de tua

Alma deslavada... medrosa e pia.

Acata-me nos desvãos de teu anfiteatro.

Hei de dizer do teu roteiro a fala

Roto mensageiro enquanto cala.

Minhas mãos, metas

Que se alongam e se desviam.

E tu, argila destemida alvissareira,

Até quando me derrotarás nessas

Batalhas sem cavalos de Tróia?



Tomo II



Dada a vida devotada,

Sou autor e ator que me persignas

No entanto tenho medo

De tais sinas, gestos e quetais.

Enformo-te à cabeceira da noite,

Já me foges à larga, à tardinha

Manchando meu destino de ígnea cor

E contemplo com pesar teu ir-embora.

“Peço-vos desculpas, retornai”!



É assim que me demandas, resoluta,

Posto que és palavra, dita astuta

A que não mais verei argila,

Matéria-prima que destila

O perene ser e estar na natureza.

Oh, palavra mediana, insuspeita,

Dói-me na glote, língua escorreita

Mantendo-me fragilizado

Até a ponta dos pés, martirizado...

Ainda estou consciente, tudo sinto

Neste gole irrefutável de absinto,

Imerso nessa noite inacabada.

Disforme estás, imagino

Sob bater de templo, em vez de sino,

A par da esperança que jaz morta.

Quero impingir-te filologia, aramaico,

Sânscrito e toda erudição que irradia

Do teu baixo ventre deformado,

Por me presenteares teu passado.

Vaga fêmea errante, descabida,

Autora dessas mortes, duma vida,

Que julguei fosse apenas descartada

De toda lexicografia que desanda.

Não sou quem pensas que sou,

Nem sou teu mestre,

Ainda que te lecione, instigue e adestre,

Mas sou um poeta fatal, sou suicida,

Mato enciclopédias mil, sou arrivista,

Triturei minha mãe num sonho anterior,

(Terei sido matricida?)

Não e não. Apenas inaugurei a vida

Que, como um deus, imaginei em ti.

É tarde. O sol meliante apronta um vago

Gesto. E eu a me fingir que presto.

Já estás pronta para quem

Trouxe-te ao mundo, alfabeto infame

Furibundo.

Exorto-te finalmente. Rompo um juramento.

Retiro as palmas dessas mãos e fundo,

Aproveito para te ofertar um chá bem quente,

Antes do esfriar do sol,

Reiniciando o mundo.







WALTER DA SILVA

Camaragibe, maio de 2004.



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