Numa manha em que as pessoas da cidade estavam apressadas e que havia um movimento intenso nas calçadas, acabei sem querer esbarrando em um senhor idoso que, já sem forças devido a idade, caiu sentado na calçada. Fiquei preocupada e ajudei-o logo a se levantar. Segurei suas maos firmemente, fitei-as pensativa e o ergui. Ele, o senhor, apesar do ocorrido, me agradeceu, me sorriu e continuou sua caminhada devagar, nao sei pra que rumo. Foi tudo muito rápido. Aconteceu em instantes, porém, a imagem da mãos daquele senhor ficou em minha mente e a sensaçao do contato com elas.
Eram mãos velhas, enrugadas, com a aspereza de uma mão de trabalhador de construçao civil. Eram mãos trabalhadoras? O que já teriam construído em anos passados? Que obras teriam ajudado a se concretizar? Eram mãos de aposentado, encardidas e magras... Representavam o descaso com os velhos aposentados. Mãos históricas? Que outras tantas mãos teriam apertado? Eram mãos que me diziam sobre um passado cheio de trabalhos construídos e denunciavam o desprezo atual. Eram mãos de alguém que ajudou a construir um pouco do país, mas que não tinham direito a nada, a nenhum mérito na nossa sociedade de pessoas apressadas. Mãos que mesmo sem agradecimentos ou pedidos de desculpas nos sorriam, agradeciam e seguiam devagar e sem rumo pelas ruas de um país sem cuidados com a sua própria história, com a sua própria existência. Penso sempre nas mãos daquele velhinho. Me arrependo de nao ter pedido desculpas por tê-lo derrubado... apesar que nem todos os pedidos de desculpas seriam válidos para aquele velhinho... porque eu tambem faço parte desse país que abandonou a sua própria origem... cultura. Abandonamos a nossa própria identidade!