Do Acaso ao Destino
Por Rogério Beier
Acordei.
E como de costume, me levantei,
fui ao banheiro e me lavei:
Dentes, barba, cabelo,
enfim, o corpo inteiro
Segui o ritual diário de minha vida
Sem sequer imaginar
que ainda naquele dia,
meu fim iria encontrar.
Sentei.
E como de costume, nada falei.
Apenas tomei o habitual café quente
E despedi-me da mulher com o usual beijo frio
“- Até já!” - disse automaticamente.
E ela respondeu igualmente.
Caminhei.
E como de costume, me apressei.
Ainda havia muito que fazer e a terminar.
Para a tão sonhada promoção ganhar.
Sonhos, viagens e a mulher, podiam esperar.
Afinal, um dia, ambos iríamos aproveitar.
Embarquei.
E como de costume, o melhor lugar procurei.
Escolhi o que estava com os dois assentos vagos
Pois não queria ninguém a me incomodar logo ao lado.
Elaborava meus planos para o futuro
Sem notar que meu único futuro já havia chegado
Numa briga de trânsito, em um motorista exaltado,
Com o revólver em punho e num tiro descuidado.
O destinatário original da bala no chão se jogou
E por um desses acasos, a bala simplesmente se desviou
E justamente no banco que havia escolhido me encontrou.
Despenquei.
E como não era costume, chorei.
E ainda pouco antes de partir, me lembrei:
O beijo frio, seguido do automático “Até já”,
Os sonhos planejados e as viagens a aproveitar.
Como teria agido se soubesse que a morte, naquele dia, iria me levar?
E ali, no chão daquele ônibus já tingido de vermelho,
Deixei minha última lágrima rolar,
A pensar na ironia de um mero acaso ao destino levar. |