Buenos Aires, 21/05/2004
É estranho, mas me soa familiar.
Como é familiar essa sensação estranha
de ser estranho em terra estranha...
Caminhar por ruas olhando ao que nunca antes vi,
sem estranhá-las no entanto, sabendo que nunca estive aqui
e mesmo assim sabê-las como se já tivessem sido percorridas.
Estranhamente caminhar por entre estranhos,
como se os visse todos os dias há muitos anos.
É estranho, mas muito familiar.
Estar em terra estranha como quem está no lar.
Vivenciar a solidão de estar sozinha
num território estrangeiro,
não uma solidão solitária
das horas que se arrastam nos ponteiros,
mas a solidão solidária
entre antigos companheiros.
Olhar a tudo nunca visto
como quem olha a antigos conhecidos,
ouvir as palavras de outra língua
como se fossem familiares aos ouvidos.
O vento frio que corta o ar, de repente,
me tira deste momento meio ausente,
corta a pele e os pensamentos,
interrompe-me as idéias,
volto a ser a estranha, em terra estranha,
mas ainda familiar, meio parente...
É estranho, mas me soa familiar.
Saber que não se é parte de lugar nenhum
mas que se faz parte de todo lugar. |