Ergueu o copo de chopp e tentou tampar o sol. Os raios iluminaram o liquido, tornando-o ainda mais belo. Era fim de tarde e a melancolia banhava o ar mais do que os raios do sol minguante que iluminavam o copo erguido. Nesta posição solene olhou para a amiga ao seu lado e filosofou:
-- Lamurias. Eh disso que são feitos os fins de tarde.
-- O que menino ?
-- Renovo meus votos de consideração e apreço.
-- oxe....
Ele gostava de ser vago, lhe fazia parecer inteligente. Ela o conhecia bem, mas pensava que não. Ignorou suas filosofias de bar e riu para não calar:
-- bestão.
-- Simone. Você conhece , uma dessas pessoas com quem se convive algum tempo e depois se lamenta que ela não possa ser de novo completamente estranha ?
Ele tinha lido esta frase de Millor e achou interessante. Usara como se fosse sua, assim, plagiando, parecia inteligente.
-- você ta querendo se afastar de quem?
-- do passado.
-- qual deles ?
-- Existe mais de um ! Não me diga isso.
-- a depender do período compreendido, sim
-- ah eh ??
-- Pode ser o seu passado com a sua ex-noiva ou o seu passado com a sua ex-alguma-coisa. Só ai temos dois passados.
-- Quantos você tem ?
-- tantos quanto me bastaram pra ter o meu presente.
-- gostei da frase. Eh sua ?
-- Sim. Acabei de inventar.
-- gostei muito. Vou usa-la a partir de hoje como se fosse minha.
Ela riu. Ele completou:
-- Afinal de contas..... todo homem nasce original e morre plagio. (era outra frase de Millor, que ele usava como se fosse dele)
-- ta bom.
-- Um brinde minha amiga. Brandou Erguendo o copo.
-- a que ?
-- aos nossos passados que construirão o nosso presente.
Ela brindou sorrindo. Sabia que ele era assim mesmo. Gostava de parecer inteligente.