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Contos-->Por Correspondência 3 - Final -- 19/09/2003 - 16:54 (Mauricio Boghosian) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Voltou. Retornou a seu castelo sentindo o peito alvejado mas com o orgulho intacto. Buscara o encontro antes da hora, decerto. No futuro, por certo, haveria de ser mais cuidadoso, menos impetuoso. Afinal, a cautela deve ser tão grande, neste momento, quanto é a curiosidade que o mantém preso a resolução de encontrá-la.
Meses passam e o consentimento não vem. Nem ao menos toca no assunto. Ela deve estar receosa de que eu faça algo, pensa ele. No entanto, ele não pode evitar o assunto. Sonha, delira, deseja com todas as suas forças um encontro sequer. Que seja para decretar um fim, mas que aconteça. Inicia-se a contenda. Empreende todos os seus argumentos no convencimento da amada. Busca de qualquer forma trazê-la a razão e fazê-la sentir-se em seu lugar, entender sua agrura, seu sofrimento que só faz crescer e espalhar-se ao redor. Seu castelo já está sem manutenção. Suas atividade de nobre, estão abandonadas. Seus súditos e companheiros não o vêem mais ou quando isso ocorre apenas recebem um mero cumprimento. Não tem tempo para eles, nem para ninguém. Só ela norteia suas ações. Somente ela pode retirar a espada fincada no seu coração, que sangra mas continua inflando seu peito de esperanças a cada nova carta que recebe. Mesmo aquelas em que sua amada diz-se desiludida com a própria vida, desacreditada da sorte que está. Fica atônito como esta não percebe que poderia ele estar ao seu lado, defendendo-a e protegendo-a. Afinal não é para esses momentos de dificuldade que nos agarramos a quem amamos? Para que serve o amor, então?

Os questionamentos que começam a fazer parte de seu cotidiano tornam a relação mais tensa. Dia após dia vem pressionando a princesa. Necessita de uma afago, de um olhar, de um toque desta. Ela, por sua vez, rechaça qualquer possibilidade de encontro com veemência e firmeza cada vez maiores. Coloca-se como incapaz de atender os desejos de seu amado. Procura, carinhosamente, explicar-lhe os motivos que a levam a refugar suas investidas. Ele, no entanto, vive uma mescla de desespero e desconfiança. O desespero incendeia suas idéias e abandona, de uma vez por todas, suas atividades. Não cumpre mais suas tarefas de nobre, abandona de vez todos os seus compromissos e seu reino começa a desmoronar em ruínas mais uma vez. A desconfiança o torna soturno, sombrio e por vezes depressivo. Aquele homem feliz e participativo, resignado a trancar-se em seus aposentos e escrever por todo o tempo, busca numa mera palavra de alguma carta passada uma ponta de esperança que o prenda a realidade, que faça todo seu esforço valer a pena e questiona sua amada sobre o encontro que tanto anseia.

O cavaleiro assiste à ruína de seu companheiro. Não vê como tirá-lo do labirinto que se encontra, visto que apenas a princessa possui o mapa para tal façanha. Busca junto desta uma brecha para uni-los, definitivamente. Percebe que ela não está pronta. Por vezes parece temer o encontro, por vezes coloca-se como vítima de tudo que acontece a sua volta. Não faz parte do papel de um cavaleiro omitir ajuda a um amigo. Até mesmo porque sente-se um pouco culpado pela nova ruína que se abate sobre este. O castelo em ruínas, os súditos abandonando as vilas que o cercavam... Numa guerra, os momentos mais tensos são aqueles que antecedem a batalha. Os inimigos postados frente a frente no campo de batalha, temendo pelo pior e ansiando por acabar logo com o irremediável confronto.

Nobres são aqueles que não temem o perigo, que empenham-se por toda a vida naquilo que acreditam e partem em busca do desconhecido. Os contatos cada vez maiores com sua amada faziam-no pensar em quão grande era seu amor e o quanto poderia ajudá-la se estivesse ao seu lado. A pressão que fazia para encontrá-la já não era mais rechaçada, podia-se dizer que era apenas ignorada, levada como algo inevitável que um dia haveria de ocorrer. Buscou ajuda junto ao amigo Cavaleiro. Este encorajou-o, colocou-lhe a par da situação que imaginara: uma batalha. Estaria ele no momento derradeiro de travar esta luta? Se estivesse, que não recuasse aos seus temores. Pelo contrário, os enfrentasse e levasse acabo todos aqueles momentos de virtuosa preparação para o embate. Essa era uma questão crucial. Será que já chegara a hora derradeira? Aquele momento que só se pode desistir, render-se sem forças, ou atacar, buscando os louros da vitória?

No pouco tempo que se seguiu, buscou mais e mais informações. Enviou mensageiros, batedores e indagou por todos os meios possíveis a localização de sua amada. Até então, esta era desconhecida dele. De posse das indicações, dados suficientes para localizá-la anunciou a ela numa última carta que iria em seu encontro. Que acontecesse o que tivesse que acontecer, porque não mais agüentava viver em função dela e não poder tocá-la, fazer-lhe uma mísera carícia, tudo lhe era negado a não ser a esperança que já não lhe bastava. Sabia que ela encontrava-se em dificuldades, devido ao avanço da doença que lhe cerceava por todo esse tempo. Mas não temia enfrentar esta também. Pelo contrário, seria mais um obstáculo que haveriam de ultrapassar juntos, dividindo as responsabilidades e ajudando-se mutuamente. Para terminar a carta que mandou a sua querida, disse-lhe: "... e se tivesses me solicitado que a tudo renunciasse para contigo viver e a teu lado sofrer, assim o faria. Porque não faço nada além disso. Vivo em função de ti, sofro por ti e por mim..."

A tentativa de fuga que a princessa empreendera fora infeliz. Seu mutilado corpo, já consumido pela doença degenerativa que possuía não agüentou a remoção que ordenara a seus empregados. Seu debilitado corpo, ficou ainda mais putrefato quando seus ossos, já trincados, estilhaçaram-se por dentro, exalando um cheiro que espalhou no ar um misto de nojo e morte. Seu orgulho estava ainda mais ferido. Agora era inadiável, teria que ter com seu amado o momento que tanto ansiava e temia. O momento derradeiro de sua vida não mais poderia ser evitado e isolado do mundo. Que fosse ao lado de quem amava, quem lhe dera esperança, angústia, amor, carinho, saudade, enfim quem lhe trouxera de volta a vida nestes últimos tempos de cartas ditadas. A comoção do encontro é inenarrável. O Cavaleiro perdeu o amigo ou ao menos não mais o viu por longo período de tempo. Outros dias, encontrou alguns operários reerguendo as ruínas de um castelo. Entre eles um líder imponente, ordenando e agrupando cada pedra de forma que a estrutura ficasse ainda mais forte que já fora outrora.

Os momentos que tememos, por vezes ansiamos que logo culminem no final. Infelizmente, o final nem sempre é o que se espera...

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