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Contos-->Criador X Anti-criatura -- 20/09/2003 - 15:42 (José Ricardo da Hora Vidal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
P. abriu os olhos e levou um susto. Acordara na entrada de um corredor psicodélico, com cores berrantes e incoerentes: Azul, laranja e grená; manchas roxas em meio a círculos marrons e verde; listras rosa-choque, amarelas e pretas. As portas, se aquilo fossem mesmo portas, tinham formatos surrealistas e nelas estavam perduradas plaquetas que pareciam ser dos supostos ocupan-tes: Allah, Santíssima Trindade, Ahura Mazda, Yahveh, Adonai, Trimurti Hindu, Iov-pater, Theos, Odin, Oxalá…

Sentido que algo o empurrava, P. começou a caminhar para frente. Se caminhar era o termo correto, porque, quanto mais andava (e sentia suas per-nas se movimentarem), o que via era ele ficar imóvel e as paredes indo para trás, muito mais rápido que o ritmo de sua caminhada. Não soube dizer quanto tempo ficou nesta alucinação, até que, de repente, chegara ao fundo do corre-dor, em frente a uma parede branca e sóbria, com uma porta de jacarandá com uma maçaneta estilo colonial. Na plaqueta, em caracteres intraduzíveis (que idioma ou alfabeto, nunca se havia visto), P. pode lê: Sr. Inominável – gerente geral.

Entrou. Estava na recepção de uma escritório modesto, mas bem acon-chegante. A secretária era alta, branca, tinha olhos e cabelos negros. Seios re-dondos e fartos protegidos pelo Blazer branco, conservando o decoro (uma saia branca completava o conjunto). O penteado chanel lembrava as melindro-sas do início do século XX. Em suas costas, reluzia dois pares de asas pratea-das, como de cisne ou Pégaso. P. sentou-se na poltrona em frente à mesa da secretária. O que viu o deixou hipnotizado: ela usava uma provocante meia três oitavos negras com cinta-liga. E estava sem calcinha. Quem havia dito que anjo não tem sexo? A secretária era um misto de malícia e decoro, volúpia e respeito naquele estranho escritório.

Estava perdido no torpor de seus pensamentos quando o ser angélico o chamou, dizendo que o chefe queria falar com ele. A voz era maviosa e sensu-al como um anjo. Ao entrar na porta do chefe, sem antes, ao passar por ela, dar um piscadela brejeira, devidamente respondida pelo sorriso faceiro da se-cretária.

Ao entrar na sala do chefe, ficou um tanto decepcionado com o local. Uma sala pequena e feia, com arquivos mal organizados, a mesa repletas de papeis sem ordem, sem nenhuma decoração, as paredes nuas, pintadas de branco com sinais de envelhecimento. O seu ocupante tinha ar de burocrata padrão. Estava sentado no cadeira de chefe com forro puído, meio qu rimando com a careca. A barriga pronunciada e no rosto, as marcas perenes da estafa. Os olhos, escondidos pelos óculos, eram vibrantes, contudo, já cansados de tanto tédio.

O Sr. Inominável, sem sair de sua posição, cumprimentou P. e indicou a cadeira para sentar, como a indicar que a conversa seria longa e que levaria séculos para terminar.

Depois de alguns eternos segundos de silêncio, o Sr. Inominável pegou de sua bagunça um relatório e começou a ler em voz alta:

— P., conhecido com P., 27 anos, solteiro, brasileiro natural de Soteró-polis, filho de … e de …, escritor de profissão e (lendo com visível ironia) funcionário público no TRF nas horas vagas. Essa é original (voltou a mono-córdia inicial da leitura), Sem filhos, sem irmãos, abandonou um curso de Ar-quitetura mas fez dezenas de cursos, como Massoterapia, desenho artístico, fotografia de moda, cozinha tailandesa e Tantra para casais. Batizado na paró-quia de Nossa Senhora de Brotas, é católico…

— Um momento! Fui batizado a minha revelia, aos dois anos de idade! — Interrompeu bruscamente P. O Sr. Inominável não se perturbou e continu-ou a ler sossegadamente o relatório.

— … católico não praticante e ateu confesso. Morreu de infarto fulmi-nante durante o sono. Vejamos seu saldo de boas ações… hm… saldo de má ações… hm… vícios… virtudes… Saldo final… Zero. Zero vírgula zero ab-soluto. Realmente, estamos com o grave problema aqui.

O Sr. Inominável fechou o relatório e o colocou placidamente na sua mesa. Encostou no espadar da cadeira e fitou o rosto de P., que estava espan-tado com o final do que ouvira. Olahndo nos olhos nos olhos de P. e recome-çou a falar:

— Sim, um caro P. Durante o sono você um infarto fulminante. Feliz-mente, nem chegou a sofrer. Seu corpo está e estava lá na cama e no cemité-rio. Lembre-se que aqui na eternidade o tempo é tudo uma coisa só. Mas, o porquê de ter lhe chamado aqui na Administração Geral do Além Túmulo é o seu saldo de vícios e virtudes. Zero! Nem um milésimo para mais, nem um milésimo para menos. Zero! Zero absoluto! O que devemos fazer com você agora? O que você teria a nos dizer?

P. estava confuso com tudo aquilo. Como assim ele estava morto? Que história é essa de saldo de virtudes e vícios? Como aquele burocrata barrigudo e careca poderia ser Deus, ou o que quer que fosse? Como aquele secretária sensual poderia ser um anjo de Deus? Afinal, onde ele estava? Aquele escritó-rio era o Nada que existe após a morte? Cadê então o coro de anjos que ele leu na Bíblia? Cadê as huris pregadas por Muhammad? Ou, cadê o enxofre e fogo dos Infernos? As expiações descritas por Dante Aligherieri? Cadê Caronte co-brando óbolo para atravessar o rio Estinge? Cada o Nirvana descrito pelo Ori-entais? Cadê o propagado Mar de Bhramah, que tanto motivo de risos provo-cará aos seus amigos do cenáculo, nas mesa dos bares da vida? Aquelas dúvi-das eram uma tempestade na alma de P.

— Sr. P., entendo que você esteja confuso agora e vou lhe explicar o que está acontecendo. Em primeiro lugar, você morreu. Chegou a sua hora de ce-der seu lugar a outra criatura. Quanto ao que sou, da mesma forma como de-veria ser o lugar onde você que morre, somos segundo as suas crenças na Ter-ra. Se você acredita que sou Allah, eu estaria vestido de sultão, poderia o atender tanto numa tenda como no Serralho de Istambul. Se você acredita que sou Khrisna, você me veria nas forma universal escritas no Bhagavad Gita, envolto de guirlandas, brandindo minhas armas sobrenaturais, espargindo meus aromas transcedentais. Todavia, você nunca acreditou em mim, apareço na forma que você fazia de mim: um burocrata. E o seu Nada é o nada que você sempre imaginou. Só que você não poderá ir para lá por causa de um problema de seu saldo de ações.

— Conforme você viveu na Terra, você vai moldando a sua vida post–mortem. É uma compensação, uma contra-partida de suas ações. Você paga pe-los erros cometidos e é recompensando pelo acertos. Para tanto, mantemos aqui no Além uma equipe de contabilidade trabalhando feito louca, acompa-nhando cada indivíduo no universo. Ninguém pode ficar aqui sem essa classi-ficação, para organizarmos nossa vida, saber quem e onde vai trabalhar estas almas. Até porque, precisamos justificar a existência de tantas religiões e evi-tar uma catástrofe na Terra. Já imaginou o caos que seria aqui, com o Inferno superlotado? Seria o paraíso para os maus, com as punições não sendo cobra-das. Ou o inverso, um Paraíso cheio, sem capacidade de atender as exigências os bons? Por isso adotamos o seguinte critério. Aqueles que tiverem saldo de um mais de um positivo, fica permanente no Paraíso. Menos de um negativo, visto permanente no Inferno. Entre um negativo e um positivo, vai para o Pur-gatório, ou seja, são os trabalhadores imigrantes que vão para qualquer lugar segundo as necessidades. Só que, prevendo a imperfeição dos humanos, nunca imaginamos o que fazer com o zero absoluto, o elemento neutro. Mesmos os imigrantes, precisam de uma classificação para o seu tratamento no Além, para efeitos de censo e auditoria. Vou ser sincero, se alguma alma for para o local errado, aqui é um pandemônio pior que inferno! Eu que não quero en-frentar os demônios da Auditoria!! – fez o sinal da cruz.

— Só que sua situação é anômala. Está no fio da navalha. Analisando ví-cios e virtudes, não existe classificação. E como você é ateu, não há como aplicar os estatutos de nenhuma religião. Não pode usar as fórmulas mágicas do antigos egípcios nem posso pedir alguma expiação, nada, nada, nada! Só me restaria aplicar a justiça divina, que também está impotente. Agora, diga-me: o que devo fazer com você?

P. ouviu aquilo tudo calado. Por dentro, ria da situação insólita em que estava, mas procurou manter o respeito que o ambiente exigia. Pensou um pouco e com calma, respondeu ao Sr. Inominável:

— Bem, Vossa Excelência sabe que nunca fui muito bem em Teologia. Não sabia nem imaginava que isso poderia algum dia desses acontecer de o encontrar frente a frente. Sinceramente, se eu morri, por que não me manda para o inferno, com todo o respeito?

— Não posso, por causa de seu saldo. Se o Corregedor Geral do Além ver sua ficha e o ver no Inferno, estaremos fritos todos nós, as divindades e denominações que compõe o pessoa do Deus único. Com certeza, seria um processo administrativo que macularia nossa folha.

— E por que não posso ir para o Paraíso então, se para o Inferno causaria problema?

— Pelo mesmo motivo que você não pode ir para o inferno… São as re-gras, o que podemos fazer? Saia um milímetro do caminho e pronto! Processo na certa!

— E por que não vou para o Limbo?

— Porque você é batizado. Mesmo assim, seu saldo causaria problema. Que diabos você faria no Limbo? Seria temporário? Estaria sendo recompen-sado? Estaria sendo castigado? Lembre-se: você precisa ser classificado de al-guma forma. Na Terra você não precisava declarar sua profissão? Sua religi-ão? Sua raça? Sua ideologia? Aqui é a mesma coisa, só que mais firme que na Terra…

— Não poderia voltar para Terra como alma penada, ficar assombrando alguma casa. Poderia ficar no meu velho apertamento que não me incomoda-ria? Eu juro!

— Primeiro, não jure! Segundo, assombrar casa é uma espécie de Limbo ou de castigo para quem tem alguma dívida. E este não é o seu caso… Seu saldo é zero… Já pensamos nisso tudo antes de o chamar aqui…

O silêncio voltou a imperar no escritório. Um silêncio mortal e viscoso das dúvidas íntimas que os homens trazem dentro de si frente a Morte ao Desconhecido. Quantos séculos durou o silêncio entre o Criador e criatura, sua anti-criatura, não se sabe. Não sei. Mas o silêncio foi interrompido por P., cujo o rosto se iluminou com uma pergunta simples:

— Sr, só um momento: O que ocorre com os ateus, que passam a vida não crendo em ti?

Enfadado, o Sr. Inominável respondeu:

— Ficam a cargo da Justiça divina. Os maus receberam seus castigos no Inferno e se bons vão para o Paraíso, depois de assinar uma compromisso de arrependimento. Um protocolo que permite entrar no paraíso, em que a pessoa se arrepende na hora da morte de suas crenças atéias, dando mais um ponto positivo no saldo… — Neste momento, foi a vez do Sr. Inominável iluminar o rosto. Teve uma idéia verdadeiramente brilhante — Pronto! Resolvemos a questão! Você assina o compromisso de arrependimento e vai logo para o Pa-raíso! Já lhe contei as belezas do Paraíso? Imagine um lugar maravilhoso! Imagine um lugar como você sonhou… O Paraíso é assim! Vai, assina logo e pronto, suma de minha frente! — E foi logo entregando o formulário e a ca-neta para P. assinar o papel.

P. leu o formulário. Leu atentamente. Analisou e situação, sua consciên-cia e entregou o formulário sem assiná-lo. O Sr. Inominável estava espantan-do. Nunca, ninguém jamais imaginou que alguém, em sã consciência poderia recusar uma oferta dessa. Ele conhecia demônios e almas, anjos até, que ven-deriam a alma para o Diabo para ganharem o Paraíso. E P. o recusava pe-remptoriamente. Fitou P. e segurando o formulário na mãos, e disse?

— Tem alguma dúvida? Quer que eu explique novamente? Você vai para o Paraíso se assinar este compromisso… Quer mais alguma coisa? Quer mu-lheres? Quer bebidas? Quem uma nuvem maior? Ser santo? Guia espiritual de alguma seita? Pode pedir que daremos um jeito, desde que assine isso e evitar uma eterna dor de cabeça para todos nós divindades…

— Que vossa excelência me perdoe, mas quero ser coerente tanto vivo como morto, Em vida, nunca acreditei no senhor. Não fiz nada que merecesse o Paraíso, minha vida nunca foi santa. E depois, não posso fingir que me arre-pendo de algo que no fundo eu sempre acreditei, só para resolver um problema burocrático no Além. Sinceramente, ainda não acredito que isso tudo está acontecendo, de que estou realmente morto e que estou em frente Deus e que ele é só um burocrata seguindo regulamentos. Não. Não assinarei o compro-misso. Prefiro o Inferno, mas sendo íntegro, do que ganhar o Paraíso violando minha consciência.

— Ora, deixe de besteira, rapaz! Não me diga que agora vai posar de Madalena arrependida! Assine logo este protocolo… — O Sr. Inominável já demostrava sinais de ira divina. Em sua cabeça começou a se formar uma nu-vem negra de tempestade e trovões retumbavam pela parede.

P. continuou. Resolvera que não iria assinar nenhum compromisso que falasse de um arrependimento que não sentia verdadeiramente. Ainda tentou argumentar com o Sr. Inominável.

— Olha, não me leve a mal, mas este show pirotécnico não me assusta não. Não irei assinar. Vejamos outro meio. Esse, não!

— Você ousa me desafiar? Assine logo este troço se não você irá provar a minha fúria divina… — O Sr. Inominável estava irado. Sua face se transfi-gurou em todo os diabos e demônios conhecidos e inimagináveis. Seu corpo expandiu e nele se via o corpo de Plutão e o asas de Belzebu; o rosto de Hitler e os chifres da Besta o Apocalipse; as garras de Arimã e as patas de Lúcifer. Todo o terror da ira de Deus se mostrou naquele momento, para intimidar o apavorado P. — É sua última chance. Vai ou não assinar?

Mesmo assim, controlando-se, P. recusou a assinar o compromisso. O Sr. Inominável explodiu, tamanha era a raiva que sentia. P. pode ver, no globo terrestre que enfeitava a mesa do escritório, o mundo imerso em cataclismo. Viu a extinção dos dinossauros e a explosão do vulcão de Krakatoa. Viu o di-lúvio e as pragas do Egito. Viu a peste negra dizimando o Velho Mundo e o hecatombe nuclear em Hiroshima e Nagazaki. Viu a queda das torres gêmeas em Nova York e a explosão da Supernova de 1987. Viu os horrores dos cam-pos de concentrações e os massacres da Sabra e Chatilla, tudo isso como re-sultado da fúria divina contra ele. Diante do barulho, a secretária entrou, para saber o que ocorria. Quando viu as fumaças de enxofre do Apocalipse subirem e encherem o escritório, voltou rapidamente para sua sala, resmungando da bagunça que teria que arrumar depois.

— Ora, assine logo, se não eu te mandarei para o Inferno, para o Tártaro, onde sofrerá os piores castigos por ter desacatado uma autoridade divina! Não basta a minha fúria? Minha ira? Minha sagrada ira? O que mais devo fazer para convencê-lo?

A muito custo que P. se controlava e calmamente respondeu:

— Então, por que não me manda de uma vez para o Inferno? Alias, você não é o todo poderoso? Vamos, mande-me logo para o Inferno e acabemos com essa questão…

Nesta hora, o Sr. Inominável voltou ao normal e a sala encheu-se de arco-íris. Tudo voltou ao seu estado inicial e no globo terrestre estava coberto pela primavera e as primeiras criaturas unicelulares brotavam no oceano primitivo e o primeiro ser humano caminhava nas savanas da África como fruto do amor do Criador.

— Não posso! Não é assim que a banda toca aqui no Além. Temos regras a seguir. Por exemplo, sou o Todo Poderoso mas a você é permitido o livre-arbítrio. E se somarmos tudo, voltamos na estaca zero. Sua recusa é movida pela virtude e pela que meus profetas ensinaram. Ufa! Aqui está pior que o caso do Dr. Fausto… E esse seu ateísmo convicto complica tudo… Não há estatuto religioso que der jeito nem há como aplicar o dispositivo–padrão. Olha, compreenda minha situação. O compromisso é minha última cartada? E não poderemos passar a eternidade toda aqui, com este dilema… Entendendo os seus escrúpulos de não aceitar uma fé por pura questão de conveniência, sem ser sincera. Sinceramente, eu respeito isso. Mas, como eu irei ficar, com este abacaxi para descascar…

P. não sabia o que dizer. Não pediria para o Sr. Inominável quebrar as re-gras. Estava disposto a ajudar, era até bondoso, por não tê-lo mandado para o Inferno logo, mesmo que fundo P. sabia que merecesse ir para lá. Mas, não poderia aceitar assim o Paraíso. Sua consciência não a deixaria em paz nunca. Estaria condenado a sofrer, quer queira, quer não.

P. ficou olhando o globo terrestre. Ele estava azul. Viu a vida correndo livre e bela. Viu os foguetes e os satélites em órbitas, Revoluções melhorando a vidas das pessoas, descobertas beneficiando a Humanidade, civilizações flo-rindo e a prosperidade reinando. Também viu as guerras desolando países, os massacres à traição, as catástrofes dizimando paisagens. Vidas inocentes sen-do ceifadas. Intimamente rezou por aquelas almas, pedindo a Deus se compa-decesse por elas, dando para elas as bem-aventuranças da vida eterna que P. se recusava a aceitar.

O Sr. Inominável pegou o relatório de P. para relê. Seu saldo continuava em zero. Estava impressionado como a virtude e o vício pudesse estar tão bem equilibrados numa pessoa. Realmente, seria até uma boa aquisição para a Ad-ministração Central. Um assessor especial. Poderia até transformá-lo em um santo ou um guru… Só precisaria regularizar sua vida no além. Foi quando leu uma linha que animou o espírito santo…

— P., Estou lendo o seu relatório e vi que você tem algumas dúvidas so-bre a reencarnação, certo? E se você assinasse um termo de reencarnação e voltasse para Terra? Seria uma prorrogação especial de dez anos, para você se decidir qual caminho quer seguir. Será livre em suas escolhas… Poderá ser ateu ou escolher uma religião. O importante é que, quando voltar aqui, não crie mais problemas. Além de ser o tempo que possamos rever nossas regras sobre classificação. Estamos combinados?

O rosto de P. sorriu de satisfação. Nem precisou pensar, aceitou a pro-posta. Assinou os formulários e voltou para a Terra. Antes de partir, despediu-se do Sr. Inominável com um caloroso abraço fraterno. A secretária, deu-lhe um beijo gostoso naquela boca voluptuosa. Saiu da sala e sentiu suas vistas escurecerem e …


……………………………………………………………


P. acordou sobressaltado. Ficou feliz em estar em seu quarto vazio. Era noite. Sentia que sus lábios pegavam fogo, como se tivessem beijado muito e com sofreguidão. Levantou-se e foi para cozinha beber um copo d’água. NA mesa da cozinha, encontrou um livro sobre a vida no além. Riu consigo mes-mo e voltou para dormir.

No outro dia, não foi trabalhar. Seu peito doía muito, na área do coração. Também sentia um indício de taquicardia. Achou que era estafa e achou por bem tirar um dia de descanso. Quem sabe, o sonho não poderia lhe sugerir al-guma história nova? Faz muito tempo que não escrevia uma história. Precisa-va dedicar um pouco mais a sua vocação, antes que enlouquecesse.

Já estava no computador, escrevendo as primeiras linhas de seu conto quando ouviu a sineta lhe avisando que tinha visita. Atendeu a porta e para seu espanto, uma enfermeira alta, branca, com olhos e cabelos negros apareceu em sua frente. Seus seios eram redondos e fartos estavam protegidos pela farda branca. O penteado chanel lembrava as melindrosas do início do século XX. Sua bolsa vinha enfeitada com umas penas pratas, que lembravam as de um cisne – ou e um anjo. A roupa, colada no corpo escultural, mantinha uma es-pécie e decoro e malícia.

Ela entrou e beijou-lhe sofregamente os lábios de P. Ambos se acomoda-ram na saleta. Ela se sentou bem em frente de P. Ele ficou extasiado quando ela cruzou as pernas e percebeu que ela usava uma provocante meia três oita-vos negras com cinta-liga. E estava sem calcinha… Ficou assim enquanto a enfermeira se apresentava:

— Olá, Sr. P. Eu sou a Enfermeira Angélica das Graças. Vim aqui por ordens de nosso chefe a repartição, o Sr. Inaldo Navelsk. Ele me mandou para cuidar direitinho de você, para volte ao seu lugar sem causar mais nenhum problema junto a administração…
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