Imensidão de praia.
Imensidão de mar, de céu, de gaivotas.
Ondas enormes brincam de driblar o vento.
Lia caminha sobre a areia movediça de mãos dadas com a sutileza de uma hiena.
A beleza do dia não é percebida, só tem olhos para a sorridente companhia.
O olfato, a visão, todos os sentidos estão voltados para a figura morena, alta e esguia, de perfume inebriante exalando da pele. Uma deusa, parecia. Sua cabeleira de sereia, longa e encaracolada se esparrama pelas ancas roliças e bem delineada.
Deus, como é linda! É como se a natureza tivesse caprichado na arte, realçando a sua forma com detalhes imperceptíveis aos humanos. Lia aperta a mão da outra com força e apressam os passos. Eloá pára, lança um olhar lânguido para a companheira, envolve-a pelo pescoço, com os braços, beija-a devagar, lambe o pescoço, os olhos, a nuca... A outra, um pouco mais alta, admira a facilidade com que a amiga muda do comportamento moleque para a sisudez quando recrimina a exposição de seus relacionamentos em via ou espaço público. Admira também a delicadeza com que explora, dedo a dedo, seus pontos nevrálgicos e a faz perder a noção da habitual serenidade e até mesmo a compostura herdada da família rigorosa em princípios moralistas. Deixam-se levar.
Param, brincam com a água que banha a areia arrastando-a para o fundo anil. Eloá se afasta, senta numa pedra e continua a bater os dedos do pé na onda fraca. Lia se aproxima encantada com a simplicidade e beleza da amante. Abraça-a. Desequilibram-se e caem na água espalhando gotas salgadas pelo ar. Esparramam água no corpo e rosto da outra formando arco-íris. Se entrelaçam, acariciam os cabelos, se beijam novamente sem marcar o tempo. Vez em quando uma onda as faz voltar ao mundo real. Comentários maldosos espantam o deleite obrigando-as escolher outra praia, menos povoada.
Se enlaçam pela cintura e caminham apressadas.
O tempo é curto.
Juraci de Oliveira Chaves
Pirapora maio de 2003
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