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Cronicas-->Noite perfeita -- 07/08/2000 - 00:46 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era a primeira vez que o Edu trazia a Bia no Horácio´s. Queria impressioná-la, afinal este era o terceiro encontro e as coisas estavam indo bem, apesar da pequena confusão no cinema, no fim de semana passado. Foram assistir "O Gladiador", no sábado. Tudo estava perfeito, os dois deram-se as mãos pela primeira vez, até que, no meio do filme, um grupo de estudantes começou a fazer muito barulho, conversando e rindo. Coisa de bárbaros pagãos. Então o Eduardo irritou-se profundamente, pois achava que fazer barulho no cinema era uma heresia, não aguentou e gritou:
- Cala a boca, seus cretinos!
É claro que eles não acataram a sua ordem e o Edu e a Bia acabaram tomando um bombardeio de pipoca. Mas a sua ação surtiu efeito, pois a maioria da sala começou a fazer sshhh! e todo mundo póde então assistir ao filme sossegado. Depois, enquanto comiam um lanche no Mac Donald´s, ele constatou que ela ficava ainda mais linda rindo das suas piadas. Aliás, a piada foi "se eu estivesse com meu saiote de gladiador romano e minha espada, aqueles caras no cinema já estariam com suas cabeças decepadas", e ela respondeu, brincando de sedutora fatal, "se você estivesse com um saiote romano, não estaríamos aqui, e sim no meu apartamento". "Yes!" pensou o Edu, e os dois riram.
Hoje eles iam jantar no Horácio´s, uma cantina italiana, lugar mais tranquilo, charmoso, caro e metido a besta. Ele passou na casa dela às nove em ponto, conforme o combinado, e saíram de lá dez e quinze. Mas valeu a pena esperar, pois ela estava linda, toda de preto. Ele ficou embasbacado e pensou "Deus existe!". Foram direto ao restaurante.
Até este momento, a situação era a seguinte: Eduardo, 24 anos, engenheiro mecànico recém-formado, conheceu Beatriz, 20 anos, caloura de Veterinária, numa festa na casa de um amigo em comum. Ambos estavam devidamente (e não exageradamente) alcoolizados e acabaram a noite beijando-se loucamente. Trocaram telefones e, durante a semana, ele ligou para convidá-la a irem ao cinema verem "O Gladiador". O Edu considerou aquela noite como "1x0", considerando que os seus últimos dois encontros acabaram, respectivamente, com um 0x1 - "eu te ligo" (sem que tivessem trocado telefones) e uma goleada de 0x4 - "olha lá um disco voador" (ele olhou pra cima e quando viu ela já tinha sumido). Agora ele queria dar tudo de si, ser charmoso, sofisticado, másculo e sensível. Mas estava nervoso, pois não considerava que tivesse realmente nenhuma dessas qualidades.
- Legal aqui, pelo menos eles não penduram salames nem camisas de times pelo forro! - E pensou: O que estou dizendo? Eu adoro camisas de times nas cantinas! Calma, Edu, futebol é coisa de grosseirões. O que você está a fim de comer?
- Chama o garçom pra gente ver o cardápio.
Edu sentiu um frio na espinha. Sabia que não era muito bom na "arte de chamar garçons", pois nunca conseguia erguer o braço e falar "garçom!", muito menos, "ei, amigo!". Não, definitivamente não era do tipo que chama o garçom de "amigo", "companheiro", ou ainda "colega". Nunca sequer chamou as professoras primárias de "tia", mas sim de "professora". Mas desta vez teve sorte. Um garçom já estava trazendo o cardápio e o couvert de pão italiano, patê de atum e sardela.
Escolheram enfim os pratos, ele ia ficar com o gnochi ao sugo mesmo, que era seu prato predileto, e ela, mais ousada, escolheu o penne à napolitana. Pra beber, ele estava pensando em pedir um Dão, seu vinho preferido, mas ela se antecipou e pediu uma margarita. Pra não ficar atrás do poder de fogo dela, Edu pediu:
- Pra mim, um Jack Daniel´s.
- Com gelo, senhor?
- Não! Cowboy!
Gostou da cena, apesar do que ele queria mesmo era uma coca bem gelada. Edu se sentia másculo como um vaqueiro da propaganda do Marlboro. Já no meio das bebidas, a conversa já ia um pouco mais solta, mas o Edu continuava querendo impressionar:
- Gosto muito do cinema francês - observou quando ela disse ter feito um ano de francês. Mas era uma mentira, pois ele os detestava. Seu filme favorito era Alien! Quando ela perguntou:
- E futebol, você gosta?
- Lá em casa somos todos corinthianos, mas eu não ligo muito, não (me perdoa, São Jorge, pela infàmia que eu disse! Ah se os caras me ouvem falar isso, minha reputação de "roxo" vai por água abaixo! Mas se ela souber que tenho até carteirinha da Gaviões, aí já era...).
E assim a noite foi, o Edu se enrolando cada vez mais na sua sofisticação de última hora: "ah, o tênis é um esporte belíssimo...", "...o Gerald Thomas é um gênio" e até "...acho que o realismo fantástico latino-americano já mostra sinais de desgaste (apesar de adorar Gabriel Garcia Marquez)". Ele nem passou o pão no fundo do prato pra pegar o resto do molho, como sempre faz (o que foi uma tortura, pois o molho estava divino). E a sofisticação continuou até a casa dela. Os dois estavam no carro:
- Edu, tenho que te falar uma coisa, mas prometa que você não vai ficar chateado!
- (Oh-oh!) Pode falar, Bia!
- Eu acho que a gente não vai dar certo. Sabe o que é, eu sou uma garota muito simples. Nasci no interior e convivi muito com meus irmãos. Eu gosto e sempre gostei das mesmas coisas que eles... sou palmeirense roxa, adoro futebol! Gosto de cerveja, de cachorro quente, Fifa Soccer e de Duro de Matar. Gosto de sentar com meu pai e tomar uma latinha com ele vendo o verdão. E gosto de alugar uns filmes velhos, tipo Bang-bang do Clint Eastwood, Indiana Jones e Blade Runner pra ficar em casa sábado à noite comendo pipoca. Odeio dançar, detesto novelas. Adoro fórmula1, e torço pro Schummacher. Aquele cara é muito bom! O melhor programa de TV pra mim é Os Simpsons! Enfim, acho que sou pop demais pra você...
Edu estava paralisado. Aquela menina era a namorada dos sonhos de qualquer um! E antes que ele pudesse dizer algo, ela deu um beijinho no rosto dele, abriu a porta e desceu. Disse ainda, pela janela:
- Bom, deixa eu correr que hoje de madrugada vai passar Alien na HBO! Tchau, Edu!
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