Envergadura (Ricardo Santana)
De onde ela vem, reina plácida a ambivalência
Espelhos, contra-postos, fazem a discórdia amiudar
De forma abundante - sem mesquinharia
O grito: olhe o olhar de cobra até sua alma degelar!
Sobe, rápida, pelas paredes frias, com gavinhas
Até o hilário momento de seu pálido coroamento
Antecedido de rápida coreografia em torta linha
Prendendo, o parco pássaro, no breu do apartamento
Lunático, vesgo, trepo, lépido, no barulhento tablado
Esticando, ao máximo, minha forte envergadura...
E do tombo, ignorado, acordo no chão podre jogado
Giz verde traça, na muralha carmim, um epigrama...
Suas imagens, gosmentas, soltam gotas de amargura
Recolho-me, para sempre, no breu minha chama
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