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Poesias-->O poema que morreu vira filme -- 30/05/2004 - 15:23 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
‘O poema que morreu’ vira curta-metragem



Depois de ter sido velado numa urna funerária nas dependências do Sesc-Madureira, no dia 15 de maio, durante a realização do II Fest Poe, ‘O poema que morreu’, de autoria do poeta e jornalista Ricardo França ressuscitará para virar curta-metragem. A produção está sendo feita pela produtora friburguense Urânia Criações, a mesma que realizou o 1º Poetisa – Festival de Poesia em Nova Friburgo, junto com o curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, em novembro do ano passado.

De acordo com Thiago Mello, responsável pelo roteiro, o curta fugirá da narrativa linear, enveredando por uma linha pós-moderna. “Pretendo explorar uma linguagem fragmentada, misturando os planos e os cortes dos diversos momentos do poema, introduzindo, por exemplo, o adolescente, que no texto encerra o poema, já no início do curta-metragem”, revela.

Escrito há cerca de 17 anos, quando França cursava o primeiro período da faculdade de Jornalismo, ‘O poema que morreu’ usa a linguagem da reportagem policial para narrar uma história de decepção amorosa. O que a princípio parece um crime surrealista – a morte do poema – na verdade é o fim de uma paixão, escrita em forma de poesia por um jovem poeta.

A cena é construída a partir da possibilidade de um suicídio ou um assassinato e aos poucos são introduzidos os diversos personagens, tais como o delegado, o legista, os repórteres, pessoas comuns e anônimas que aparecem como curiosos e até mesmo o ponto de interrogação, que fica passeando pelo local.

A reconstrução do poema-reportagem para a linguagem cinematográfica, segundo Ricardo França, tem tudo para dar certo. “O poema nos remete a um enredo de imagens surreais, porém tem princípio, meio e fim. É poético, jornalístico mas pode ser também cinematográfico. O grande desafio será mesmo embaralhar esses conceitos numa visão pós-moderna, que é o que o Thiago pretende fazer. O resultado será muito interessante”, acredita França.

Recentemente ‘O poema que morreu’ foi o terceiro colocado no 1º Concurso Nacional de Poesia para Jornalistas, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, com patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) com apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e da Academia Brasileira de Letras (ABL). O poema foi o único classificado do Rio de Janeiro no concurso, que reuniu mais de 200 trabalhos. A obra abre o livro de poesia ‘Pedra, poesia, pedregulho’, ainda inédito, que deverá ser lançado durante o 2º Poetisa, em novembro.





O POEMA QUE MORREU

Ricardo França







Um assassinato.



Tudo indicava assim.



E o coitado do poema, estirado,



era coceira na curiosidade pública.







Chegou o delegado



- e cismado -



foi tecendo em pensamento



as inconstantes formas da dúvida.







Uma interrogação passeava ali.



Crescia e engordava



- proporcional -



a cada pessoa que parava



na pele da já recém formada



multidão.







Não demorou muito e apareceu o legista.



Ele era meio esquisito,



tinha tique nervoso



e coceira na vista.



Examinou o já lido poema



e constatou o consumado fato:



- Morrera de amor, não de infarto.



Suicídio? Assassinato ?



Quem faria o fatídico ato ?



- Quem ??? perguntava o delegado.







E com um ar sherloquiano



pegou o morto nas mãos.







Sob os olhos atentos da multidão



exclamou a primeira descoberta:



- Não era amador o assassino, era poeta !



“Poeta ?” Indagou a multidão incrédula.



- Poeta! Confirmou alisando o imeeeenso bigode.



Chegaram então os repórteres,



a lavadeira,



o bêbado ainda de porre,



a dona Julieta, o doutor Onofre,



e todos, do sul ao norte,



mastigavam a mesma pergunta:



“Um poeta, mas como é que pode ?”



- Simples! - Explicou o delegado...



A tristeza, num homem apaixonado,



dói além do sustentável.



No peito, abre um buraco.



Tanto insiste



que não resta escapatória,



com o dedo em riste,



atrás da porta,



persiste o crime.



A arma utilizada



não foi revólver,



não foi faca.



Foi um sentimento amargurado



delineado no papel



por uma caneta esferográfica.



Já a paixão - continua -,



foi a vítima,



de vez esquecida,



varrida,



morta.







Não é caso de polícia.



por aí morre um amor por dia,



é uma palavra prolixa, doída.



Dor nenhuma deve virar notícia,



fez bem o poeta em matar essa paixão.







E terminou largando o poema no chão.



Seguiu em frente, sumiu na multidão



que por sua vez se desfez



com a mesma rapidez



que se formou.







Mas do vazio que ficou - dilacerado,



permaneceu solitário



um adolescente



com os olhos molhados



e uma caneta na mão.



Em passos lentos, assimilados,



aproximou-se do poema



no chão largado



e guardou no bolso



a história do amor



que minutos antes havia escrito,



e por qualquer descuido



perdido...

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