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Contos-->À Sombra do Jatobá - XIII - A hitória de Chora -- 21/09/2003 - 19:09 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
À Sombra do Jatobá – XIII – História de Chora

Entre as serras do Baturité e do Acarapé, tem uma pequena lagoa de águas paradas, rodeada de algumas árvores grandes, que dão sombra e frescor a uma pequena casa matuta. A terra, pela proximidade da água, forma um sítio bem tratado, com boa horta e quintal cercado para as criações.

Pois lá, naquelas lonjuras calmas e vazias, viviam Rosalina e seu pai Ambrósio. Os dois viviam em paz, rodeados pela mata verde e as flores selvagens da região. Nada lhes faltava porque sabiam cuidar das criações, aproveitar as épocas boas para o plantio.

Mas numa tarde qualquer, de um tempo que Rosalina não sabia dizer, quando Ambrósio estava voltando para casa, fumando o seu cigarro de palha e quase chegando no oitão da cozinha, de uma grande moita de mofumbo, partiu um tiro certeiro.

Sem uma estremeção, Ambrósio caiu duro, de braços abertos, e lá ficou, sem um grito; apenas um fio de sangue corria de sua nuca.

Quando Rosalina chegou para acudi-lo, um bando de homens mal encarados surgiu do mato e, de imediato, a agarrou e arrastou para dentro da choupana. Aos gritos, aos risos e chacotas, a despiram e, prendendo-a sobre a mesa da cozinha, a violentaram e caçoaram de sua mão esquerda mirrada.

- Aproveita, que muié nenhuma, com a tua cara e essa mão truxida, há de tê tanto macho bão numa hora só.

E lá ficaram a abusar dela, a babar no seu corpo, a gargalhar diante do seu pavor, e quando partiram, levaram os poucos bens de Ambrósio e seu cavalo. Deixaram Rosalina desmaiada no chão da cozinha. Partiram nas sanhas do diabo, como haviam chegado.

No dia seguinte uma patrulha passou e encontrou Ambrósio enrolado numa rede e Rosalina, que passara quase a noite toda se lavando com sabão de soda, para tirar a imundice de seu corpo, mal soube dizer o que havia se passado. Soube, apenas, que os bandidos estavam sendo perseguidos pela polícia e mais nada.

Lá ficou sozinha, chorando pelo seu pai e levando a vida como lhe fosse possível.

Dai a três meses sentiu que algo lhe remexia no ventre, sentiu que não estaria mais sozinha, sentiu que precisava criar forças porque alguém chegaria. Teria que se preparar.

Quando Seu Batista viesse a comprar seus porcos e outras criações, ela falaria com ele. Pediria a ajuda de sua mulher, Dona Fabiana, que era tida como boa parteira.

De fato, Dona Fabiana veio visitá-la e, vendo o seu abandono, ajudou-a a preparar o enxoval para o nenê e acompanhou toda a sua gravidez. E numa noite de lua cheia a parteira ficou esperando a hora de entrar em ação.

Sem dizer um ai, Rosalina agüentou as dores e, de madrugada, naquele sombrio socavão da serra de Baturité e quase no sopé da serra do Agarapé, um choro de recém-nascido rompeu o dia. Uma menina forte, gritalhona!

Rosalina examinou, imediatamente, as suas mãozinhas: perfeitas!

Quanta alegria! Deu-lhe o nome Ambrósia, para reverenciar o pai e passou a chamá-la de Nenê. Levava a sua Nenê para a sombra das árvores e lá, entre o canto das aves e dos piados dos bentevís-gamelas, ela amamentava a filhinha, e sentia prazer em ver o seu leite, gordo e farto, escorrer da sua boquinha vermelha.

E Nenê cresceu e tinha a pele clara, os cabelos lisos, tão diferente da negra Rosalina, com sua carapinha espetada, seu nariz achatado e mais aquela mão mirrada e retorcida que, com o tempo, passou a esconder dos olhos da filha, que se assustava com ela; a medida que o tempo passava, não queria que aquele aleijão a tocasse.

Nenê foi crescendo e tomando conta do sítio. Já controlava a venda dos porcos e das outras criações e tratava, com Seu Batista, a compra das frutas do sítio, das cajaranas, das mangas, das castanhas de caju, dos cajás e da imensa quantidade de cachos de pitombas, colhidas por ela mesma que, entrava na mata e com muita agilidade, subia nas pitombeiras, com um facão afiado e voltava muitas vezes à casa, carregada daquelas frutinhas verde-amareladas, que ela sabia serem muito apreciadas na cidade .

Sem prestar contas à mãe, Nenê fazia o seu pé-de-meia.

Ao completar quinze anos, ela partiu para Fortaleza:

- Eu vou, mãe. Arranjo trabalho e um canto para nós e venho buscar a senhora.

Calada Rosalina ficou; completamente desnorteada, aguardou a volta da filha, o máximo que pode. Acabou vendendo o sítio e tomou o ônibus para Fortaleza. Lá chegando ficou completamente atordoada com o movimento e a quantidade de pessoas estranhas, em uma cidade enorme, onde não sabia nem por onde começar a procurar por Nenê.

Assim, perdida e aos prantos, Otávio a encontrou na rodoviária. Pagou-lhe um bom lanche e a levou para Ribeira do Curú.

Rosalina não abriu a boca para se queixar da filha, mas nunca mais parou de chorar.

Otávio passava o braço por seus ombros miúdos e, brincando, a chamava de Maria-chora-chora. Mesmo com os olhos boiando em lágrimas, ela lhe sorria.

Chora, como passaram a chamá-la, esticava os olhos pela estrada, como se esperasse por um milagre de ver surgir a filha. Depois, foi se apegando aos filhos que nasciam para Dalva e Otávio e a eles se dedicava com imenso carinho, mas nunca parou de chorar.

Por mais que os filhos notassem e perguntassem aos pais o motivo de tanto pranto, eles desconversavam e jamais traíram o silêncio de Chora.

Continua no próximo capítulo
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