ODE À LOUCURA
Tereza da Praia
Debaixo das quedas d’água,
Soltei os cabelos.
Deixei-os cair ao longo dos ombros,
Feito cascatas ondulantes e negras,
Deixei meus olhos brilharem, apelos.
Vesti-me de escarlate.
Juntei todos os meus escombros.
Toquei meu tambor xamânico e cantei meus allegros.
Incorporei minha águia em posição de combate.
Dei asas a minha cobra.
Recebi minha deusa de ébano, chocolate.
Sacudi a poeira da tristeza. Sorri para minha obra.
Beijei a boca dele que era a sua.
Enrosquei-me no corpo dele.
Pele de seda sem cor, nua.
Mas eu via a sua pele de veludo e de amor.
O contraste de nossas peles era troca.
Embrulhei-me no corpo dele que era o corpo seu.
Minha garganta o seu nome escondeu,
Entre gemidos surdos minha alma emudeceu.
E naquele homem amei você até mais não poder.
E foi o prazer da deusa negra no cio, a correr.
O gamo e a gazela antecipando a primavera.
Toda a palavra que eu trazia e que lacera,
Deixei sair vibrante, sincera.
Era um estado singular e encantador,
Usar a paixão que tenho por você, essa quimera,
Num transbordamento de emoções, num clamor,
Que me deixa em brasa, que me ulcera.
E eu desfrutei o corpo dele, como o seu fosse.
A exaustão venceu-nos, ele adormeceu docemente.
Fiquei me olhando no espelho, bela e saciada.
Estranho este sentimento de fazer amor,
Com um homem na cama,
Enquanto faz-se sexo com quem se ama,
Na imaginação, no pensamento.
Tereza da praia
Série: vadiação da alma indecente.
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