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Poesias-->Duas Vozes -- 05/06/2004 - 23:49 (Orlando Miranda) |
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Adoro taças de vinho
E vinho... e vinhos viram vírgulas e reticências
Lembro da confusão da revolução das máquinas...
Vadias... esquálidas, vazias
Sem alma... por onde anda qualquer calma
Só trouxeram violência
Alguém se esqueceu da inocência
Vemos arrogância, o mundo matando a esperança
Em cada esquina com cara de morte vaga uma criança
Nos colocaram de algemas em uma jaula
Esconderam as chaves ou será
que jogaram fora ? Agora tanto faz...
A única coisa que ainda era capaz de nos enganar
Uma, dez ou mil palavras, já não valem mais
Será que esqueceram que seres humanos
devem ter coração ?...
Fazem tudo em nome de mudança e atualização
E é claro... a que eles querem...
São seres humanos / não humanos seres
Não dá pra ter relação...
São lobos sedentos atrás de ovelhas
Se dizem donos da modernidade
mas no fundo é só sacanagem
Inventores da tal globalização, pedem lealdade
Pura mediocridade / E o povo... pobre povo
Vai vivendo na mendingagem...
Não passam de esclerosados
Teleguiados, alienados em busca de mais poder
Esses supostos donos de tudo
Deveriam se preocupar em ter algo mais precioso
Como sentimentos puros
E não vantagens totais, geradas por vontades
escondidas atrás de argumentos banais
Mesmo assim acham que não são máquinas frias de ossos
Idiotas... seguem massacrando tudo
Principalmente o que não podem ver
E o povo, a grande maioria a que sofre, acuada
ninguém dá voz parece que tanto faz...
De sofrimento em sofrimento
Vamos ficando a cada dia mais velhos
A dona Maria vai morrer de tédio
Cheia de filhos doentes pra cuidar
Mas não tem dinheiro nem pro remédio
Será que isso é sinal dos tempos?...
Se o mundo estiver mesmo acabando
Ninguém precisa mais se matar
E a rua... tá cheia de jovens roubando
Alguns parecem que realmente estão precisando...
Não tem nem mais construção pro João trabalhar
Pai de família, cheio de filhos
Talvez um dia vai ser obrigado a roubar
E eu vou perguntando, até quando?...
Aonde é que a gente ainda vai chegar
4 da tarde de um dia de sol
Na entrada de uma favela onde tudo é negro
Onde colarinhos brancos, bem brancos não passam
Uma criança no colo de uma mãe
que desesperada chora
Muito movimento, correria... pânico
Uma mulher de branco alí ensangüentada
Com o filho guardado ao colo
O que será que aconteceu?
Foi o filho da Maria, de mais uma Maria
Que desceu em seu colo pelando de febre
Atrás de auxílio... do Zé da farmácia
Aí aconteceu uma desgraça
No meio de um tiroteio, uma bala...
Balas nunca são perdidas
Essa matou mais um pobre, mais um João
E eu vou perguntando, até quando?...
Aonde é que a gente ainda vai chegar
Em todos rostos existe choro
Malditas lágrimas, certamente desnecessárias
Na calçada agarrada a seu filho agora jaze Maria
Camisa humilde, tratada à aníl, ensangüentada
Não teve palavras, não teve voz, morreu também
Não aguentou seu coração...
Agora só restam as nossas vozes
A minha e a tua que olha...
Contato: orlando-miranda@ig.com.br
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